Eleições 2024: o que mostra a pesquisa na reta final da campanha

A pesquisa eleitoral feita pela Quaest, para a  RBS, divulgada nesta quarta-feira, 18 de setembro, aponta para uma provável vitória de Sebastião Melo, em Porto Alegre.

Há 15 dias do pleito, ele subiu para 41% das intenções de voto, enquanto sua principal adversária, Maria do Rosário, do PT, caiu para 24% e a terceira colocada, Juliana Brizola, alcançou 17%.

Como entender esse resultado, depois de todo o desgaste que o prefeito Melo sofreu por causa da enchente?

As águas que arrasaram a cidade em maio deste ano deixaram expostas as falhas clamorosas de sua administração na prevenção das cheias, que são periódicas na Capital.

Mais que isso: todo seu projeto, de expansão imobiliária, com adensamento da área central e desprezo pela questão ambiental, vista como um entrave aos negócios, ficou na contramão da nova realidade climática.

Sim, Maria do Rosário, que na campanha se apresenta apenas como Maria, não é uma candidata carismática,  sua campanha não é boa, falta mobilização de sua militância etc..

Mas não que explica a reabilitação surpreendente do Melo. O buraco é bem mais embaixo.

Começa com a cobertura indigente que a campanha eleitoral merece nos principais veículos de comunicação da cidade e do estado. Para parecerem imparciais, os jornais se tornam omissos.

Durante quatro anos a postura geral da “grande” imprensa (televisão, rádio e jornais impressos e digitais) foi de apoio à gestão Melo – quando não explícito, em matérias oficiosas e acríticas, o apoio ficava implícito pela omissão ou minimização de fatos e indicadores que seriam negativos à administração municipal.

Sim, houve  denúncias e revelações incômodas para Melo. O escândalo dos livros comprados de carona numa licitação feita pelo governo do Sergipe, por exemplo.

O assunto, aliás, veio à tona por uma denúncia do Clube dos Editores de Porto Alegre e, inicialmente, só mereceu acolhida do Matinal, pequeno site independente. Os fatos eram gritantes. O Grupo de Investigação da RBS foi atrás e revelou a dimensão do caso, que se estendia a outras secretarias, inclusive. Mas a questão ficou restrita ao aspecto administrativo, a negligência da gestora que comprou milhares de livros e os deixou amontoados em galpões. A então secretária de Educação foi responsabilizada e demitida por isso e o caso, praticamente, foi dado por encerrado.

A “carona” que a prefeitura de Porto Alegre pegou numa licitação de Sergipe para comprar mais de R$ 100 milhões em livros de uma editora do Paraná, fora da agenda pedagógica do município, até hoje não mereceu uma matéria esclarecedora.

A CPI feita na Câmara apontou corrupção e nomeou suspeitos, mas a CPI, comandada pela oposição, também não interessou ao “jornalismo profissional”.

Mais ou menos a mesma coisa aconteceu com o incêndio numa das unidades da Pousada Garoa. Houve a cobertura, que deixou flagrante as mazelas não só naquele contrato, mas em muitas das terceirizações de serviços públicos feitas pela prefeitura.

Como terceirização é um modelo de gestão que o “jornalismo profissional” apoia, a cobertura em seguida mudou de assunto.

Quer dizer, as críticas são pontuais, o apoio é permanente por identidade ideológica com o projeto que o prefeito representa e porque a prefeitura é um bom anunciante e, além disso, tem o apoio dos maiores anunciantes da cidade e do estado.

Aí, criado o “caldo de cultura”, quando chega a campanha, em nome da imparcialidade, a cobertura praticamente cessa, tanto da campanha em si, quando das questões mais vitais para o eleitor, como o transporte público, o atendimento à saúde, o saneamento etc.

Até o lixo, espalhado nas ruas, no entorno dos conteineres da coleta automatizada, fica invisível. O “jornalismo profissional” quer demonstrar que “não tem partido, nem candidatos”.

Com isso, a função de esclarecer o eleitor na escolha dos candidatos fica a cargo da propaganda eleitoral obrigatória, no rádio, na tevê ou do vale tudo das redes sociais.


Grafite de Felipe Harp, apagado por decisão do TRE / Foto: Divulgação

Aí, com mais dinheiro, mais tempo no rádio e na tevê, com um marketing competente e sem maiores escrúpulos, o “homem do chapéu de palha” entra em cena e completa o serviço. O resultado aí está.

* Jornalista

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 
 

 

 

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