Em discurso na ONU, Lula diz que falta dinheiro para o meio ambiente e que países caminham para “fracasso coletivo”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, na manhã desse domingo (22), o maior engajamento dos líderes mundiais em temas da agenda global considerados críticos. Ao discursar na sessão de abertura da Cúpula do Futuro, evento paralelo à Assembleia-Geral das Nações Unidas, Lula afirmou que “faltam ambição e ousadia” no cenário atual.

“Vamos recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial”, afirmou, reconhecendo que pode haver alguns avanços, como as negociações para um Pacto Digital.

“Todos esses avanços serão louváveis e significativos. Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia.”

Lula criticou a falta de dinheiro dos países desenvolvidos para mitigar os efeitos do aquecimento global. Disse que os recursos para financiar projetos ambientais são insuficientes e alertou que os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem se transformar em um grande fracasso coletivo.

“Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro”, disse o presidente, que deixou o Brasil, na sexta-feira (20), com queimadas que atingem várias regiões, como a Amazônia e o Pantanal.

Sobre os ODS, ele afirmou:

“Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornarem nosso maior fracasso coletivo. No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo.”

O presidente brasileiro ressaltou que não se pode recuar na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação. Citou como negativa a volta das ameaças nucleares e defendeu a necessidade de uma frente mundial de combate à fome.

“É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência. Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso.”

Lula voltou a defender a reforma da governança global, uma das prioridades do Brasil na presidência do G20 (grupo formado pelas maiores economias do mundo). Ele citou a necessidade de revisão das dívidas dos países em desenvolvimento e a tributação internacional, em uma referência à taxação dos super ricos.

“Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos.”

Afirmou, ainda, que o Sul Global não está representado e mencionou outra proposta brasileira: mais espaço às nações em desenvolvimento no Conselho de Segurança da ONU.

“A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais. A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades. O Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico.”

A Cúpula do Futuro reúne líderes mundiais na sede da ONU, em Nova York, com o objetivo de estabelecer um novo consenso internacional para restabelecer a confiança corroída. Os líderes têm como desafio acelerar os esforços para cumprir compromissos internacionais e tomar medidas concretas para responder aos desafios e oportunidades emergentes.

O evento, que termina nesta segunda (23), deve resultar no documento chamado Pacto para o Futuro, que vai incluir a digitalização global e uma declaração sobre as gerações futuras.

Na terça (24), Lula fará o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU. Ele deve destacar os compromissos do Brasil na presidência doo G20, como o combate à fome, ações para mitigar os efeitos do aquecimento global e a reforma do Conselho de Segurança da ONU e dos organismos multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

No mesmo dia, na parte da tarde, Lula e o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, organizam um evento paralelo denominado “Em defesa da democracia. Lutando contra extremismos”. A reunião será em formato de mesa redonda.

As propostos do G20 voltarão a ser discutidas na quarta, último dia de Lula em Nova York, em uma reunião com líderes do grupo. Outros países que não fazem parte do bloco serão convidados.

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