‘Esperança, é isso que aprendi com eles’: Irmã Rosita Milesi fala sobre trabalho com refugiados após prêmio na ONU


Há 36 anos, ativista e religiosa defende direitos e dignidade de pessoas que precisam de proteção internacional. Ela é a segunda brasileira a receber o Prêmio Nansen, do Alto Comissariado da ONU para Refugiados. Irmã Rosita Milesi
TV Globo/Reprodução
Há 36 anos, Irmã Rosita Milesi iniciava um trabalho com refugiados que ecoaria por todo o mundo. “Esperança: é isso que eu sempre aprendi no atendimento a essas pessoas. Esperança de que é possível ter dias melhores”, disse a ativista e religiosa, em entrevista ao g1.
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Irmã Rosita foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por suas ações de amparo a pessoas que necessitam de proteção internacional.
Ela é a segunda brasileira a receber o Prêmio Nansen, do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), que todos os anos homenageia um indivíduo ou organização que dedicou seu tempo e fez a diferença para proteger pessoas deslocadas à força de suas casas.
“Se essas pessoas não encontrarem solidariedade, acolhimento e oportunidade de integração, onde buscariam a esperança de realmente acreditar que vale a pena? Elas nos transmitem essa esperança, e nós não podemos traí-las. Não podemos trair essa expectativa, que é justa, que é humana”, ressalta a ativista.
Para Irmã Rosita, é preciso se colocar no lugar das pessoas refugiadas para verdadeiramente tentar compreender a dor de deixar tudo para trás.
“Essas pessoas realmente precisam da nossa compreensão, da nossa escuta, da nossa dedicação, para que possam sentir-se apoiadas e estimuladas a recomeçar, a reconstruir a própria vida”, diz Rosita.
Guerras e crise climática
Rosita Milesi vence o Prêmio Nansen da Agência das Nações Unidas para Refugiados
Jornal Nacional/ Reprodução
Segundo as Nações Unidas, atualmente, 120 milhões de pessoas foram obrigadas a sair de seus países, sendo 40% delas adolescentes e crianças. Nos últimos 10 anos, 26 mil pessoas perderam a vida tentando chegar na Europa.
Segundo Irmã Rosita, além de crises econômicas e violações de direitos humanos, a guerra é um dos principais motivos de deslocamentos forçados.
“Isso é muito triste. A gente fica quase sem palavras para dizer algo sobre isso, o que podemos desejar sobretudo é que as pessoas tenham lucidez para dialogar, ao invés de usar armas. Desejar profundamente que esses conflitos sejam superados”, diz a ativista e religiosa.
Além disso, desastres causados pela crise climática também são responsável por um grande contingente de refugiados.
“Não dá para relativizar nem simplificar, é preciso assumir que nós estamos em um processo muito grande de destruição, do que o Papa Francisco chama de ‘casa comum’, que é o planeta Terra”, pontua Irmã Rosita.
Quem é Irmã Rosita Milesi
Irmã Rosita Milesi vence prêmio da ONU por trabalho de amparo a refugiados
Nascida no Rio Grande do Sul, Irmã Rosita Milesi fundou o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com sede em Brasília e Roraima, que há 25 anos oferece assistência para refugiados e migrantes.
Nos últimos dois anos, o instituto ajudou quase 24 mil migrantes e refugiados de mais de 70 países. A maioria, da Venezuela.
Membro das Congregação das Irmãs Scalabrinianas, que desde o século XIX se dedica a ajudar migrantes e refugiados, Rosita também é advogada e coordena uma rede de organizações que atuam com pessoas em deslocamento. Além disso, ela também publica artigos acadêmicos sobre deslocamento e migração.
Rosita Milesi coordena uma rede nacional, a RedeMir, formada por cerca de 70 organizações que atuam para fortalecer a solidariedade entre as pessoas em deslocamento internacional e as comunidades que as acolhem.
De acordo com a Acnur, as percepções políticas e a habilidade de persuasão de Irmã Rosita foram fundamentais na formulação da Lei Brasileira de Refugiados de 1997, “garantindo que ela proteja, inclua e empodere mais as pessoas forçadas a se deslocar, alinhando-se a padrões internacionais”.
“Ela também desempenhou um papel crucial ao reunir diversos interessados e mobilizar parlamentares na criação da Lei de Migração de 2017 no Brasil”, diz a agência da ONU.
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