O plano das Forças Especiais do Exército para matar Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes foi classificado como um “verdadeiro planejamento com características terroristas”

O plano de integrantes das Forças Especiais do Exército para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi classificado por investigadores da Polícia Federal (PF) como um “verdadeiro planejamento com características terroristas”.

O esquema, batizado de “Punhal Verde e Amarelo” , detalha o uso de tropas, veículos e armamentos que seriam empregados para executar as ações, a rotina de Moraes em Brasília, o que incluía itinerários e horários, e possíveis “danos colaterais” que resultariam da ação — segundo o documento, “passíveis e aceitáveis”.

As informações constam em relatório da PF, que foi base para a operação deflagrada na terça (19), na qual foram presos quatro militares e um policial federal envolvidos na formulação do plano. O esquema previa o uso de um arsenal bélico com granadas, metralhadoras e pistolas de uso militar no dia 15 de dezembro de 2022, data prevista para a execução do plano, que acabou abortado.

De acordo com a investigação da PF, o documento de três páginas com o planejamento da ação foi impresso dentro do Palácio do Planalto em 6 de dezembro de 2022, durante a gestão Bolsonaro, pelo general da reserva Mário Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral da Presidência e um dos presos na operação. Os registros do Planalto obtidos pela PF revelaram que a impressão foi feita pelo usuário “mariof”, que seria Mário Fernandes, no gabinete da Secretaria-Geral.

O documento, que descreve “um planejamento de sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes”, foi encontrado em mensagens recuperadas do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e que negociou um acordo de delação premiada para esclarecer a trama golpista.

Na primeira página do arquivo, os golpistas listam diligências para identificar o aparato de segurança pessoal do ministro, “compreendendo os equipamentos de segurança, armamentos, veículos blindados, os itinerários e horários”.

Depois, são detalhadas informações, segundo a PF, sobre os seguranças de Moraes e o poder de fogo que eles detinham. A investigação aponta que fica claro, já nessa página, que o grupo estava disposto a executar Moraes, seus seguranças e contavam até com a morte dos próprios membros do plano golpista para cumprir a missão — o que eles classificaram como “danos colaterais passíveis e aceitáveis”.

O segundo tópico do documento lista medidas práticas que deveriam ser tomadas pelo grupo para executar o plano. Ele se referem a armamentos “individuais e coletivos” que deveriam ser usados na ação militar, munições não rastreáveis e o uso de seis telefones celulares “descartáveis”. Além de pistolas, metralhadora e 12 granadas, o plano previa o uso lança-rojão. Segundo a PF, a lista descreve “armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”.

Na terceira e última página do plano Punhal Verde e Amarelo, os militares golpistas afirmam que a execução do plano era “viável”, mas “com significativas restrições para uma execução imediata”. Eles alertam para a importância de se escolher o melhor método para a execução de crime, se por tiro ou envenenamento.

“Ainda são necessárias avaliações quanto aos locais viáveis, condições para execução (tiro a curta, média ou longa distância, emprego de munição e/ou artefato explosivo), possibilidades de reforço (Polícia Federal) e proteção do alvo, bem com a intervenção de outras Forças de Segurança”, ressalta o documento.

O grupo não descarta usar “elemento químico e/ou biológico, o envenenamento do alvo, preferencialmente durante um Evento Oficial Público”, diz o texto.

A menção aos assassinatos de Lula, Alckmin e de um aliado não identificado, a quem eles dão os apelidos de Jeca, Joca e Juca, respectivamente, diz a PF, é feita no trecho final do documento. O texto diz que matar Lula “abalaria toda a chapa vencedora” e a colocaria “sob a tutela principal do PSDB”, sigla da qual Alckmin fez parte até se filiar ao PSB para disputar as eleições.

O grupo enfatiza que Lula tem estado de saúde vulnerável e vai a hospital com frequência e aponta: “Envenenamento ou uso de química/remédio que lhe cause um colapso orgânico”. Quanto ao vice, o documento ressalta que “considerando a inviabilidade do 01 eleito, por questão saúde, a sua neutralização extinguiria a Chapa vencedora”. Já o alvo Juca, chamado pelo grupo como “Iminência Parda (sic) do 01” foi apontado pelos investigadores como sendo Flávio Dino, hoje ministro do STF. Na época ele era senador eleito pelo Maranhão e viria a ser ministro da Justiça de Lula.

 

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