Missão à Antártica: saiba como é o navio quebra-gelo de expedição liderada pelo Brasil


Embarcação russa tem 61 cientistas de sete países a bordo. Pesquisadores estudam os impactos das mudanças climáticas nas geleiras antárticas. Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica
Reprodução/ RBS TV
A bordo do navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, uma embarcação russa, 61 cientistas de sete países — Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia — estão em busca de respostas para o futuro ambiental do planeta.
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Liderada pelo Brasil, a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica percorrerá mais de 20 mil quilômetros da costa antártica, sondando os impactos das mudanças climáticas sobre o gelo e os ecossistemas locais em uma missão que deve durar mais de 60 dias.
O navio quebra-gelo
O Akademik Tryoshnikov, operado pelo Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica da Rússia, é uma das cinco embarcações quebra-gelo científicas em operação no mundo. Com 135 metros de comprimento e 30 metros de altura, o navio foi projetado para navegar em águas congeladas. O casco super-reforçado quebra o gelo à medida que o navio avança, permitindo acesso a regiões antes inexploradas.
A expedição acontece sob a coordenação do pesquisador polar gaúcho Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Pesquisador polar gaúcho Jefferson Cardia Simões, da UFRGS
Reprodução/ RBS TV
Por dentro, a embarcação é equipada para sustentar longas viagens e acomodar a equipe. O navio conta com quartos, banheiros, lavanderia, refeitório e até uma academia (veja as fotos abaixo).
“É típico da expedição polar”, comenta Simões sobre morar dentro de um navio por dois meses.
Espaços no navio Akademik Tryoshnikov
Além disso, o navio está carregado com suprimentos para o tempo de viagem, incluindo alimentos e equipamentos, e dispõe de tecnologia, como o sistema de satélite Starlink, que permitirá comunicação em tempo real com o restante do mundo.
Para as pesquisas, 20 laboratórios estão disponíveis dentro da embarcação, incluindo o de oceanografia, que utiliza sondas capazes de medir a temperatura da água.
“É como se fosse uma sonda: desce por um cabo, e vai para dentro do oceano e demora algumas horas. As vezes vai 600, 800 metros dentro do oceano”, explica o coordenador.
Laboratório de oceanografia no navio Akademik Tryoshnikov
Reprodução/ RBS TV
Objetivo da expedição
A expedição busca compreender o impacto das mudanças climáticas e da ação humana sobre o continente gelado, com foco na coleta de dados científicos para prever cenários ambientais futuros. A missão, que inclui estudos biológicos, químicos e físicos, vai focar em dados atmosféricos, geofísicos, glaciológicos e oceanográficos ao longo da costa antártica.
Pela primeira vez, os cientistas chegarão tão perto das frentes de gelo. Para monitorar o comportamento das geleiras diante do aquecimento global, será realizado um levantamento aéreo inédito das massas de gelo.
“Esperamos ter dados sobre a linha de flutuação dessas geleiras e, simultaneamente, apoiaremos um levantamento geofísico dessas frentes de geleiras para entender como elas respondem ao aquecimento da atmosfera e do oceano”, explica o pesquisador Jefferson Simões.
Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica
Reprodução/ RBS TV
A equipe também mapeará hotspots de biodiversidade marinha, buscando compreender a resposta da fauna polar às variações climáticas, e coletará dados sobre microplásticos e contaminantes emergentes na região.
“Fazemos estudos estratégicos de ver como o sistema ambiental está se comportando, como ele está sendo modificado, tanto por variações naturais e determinando o que é causado pela ação humana”, comenta Simões.
Além disso, os pesquisadores realizarão perfurações em neve e gelo para investigar a variabilidade climática e a química da atmosfera ao longo dos últimos 100 anos. Segundo Francisco Aquino, professor do Departamento de Geografia da UFRGS que coordenará as pesquisas do grupo de climatologistas, “isso nos permitirá medir e investigar in loco o contraste entre a região tropical e a região polar, fornecendo amostras que nos farão entender melhor a circulação atmosférica forçada, intensificada nos últimos dois a três anos mais quentes”.
Os resultados dessa missão devem levar anos para serem analisados e publicados, mas prometem ser cruciais para a ciência global:
“A ciência não gera resultados imediatos. Levaremos anos para analisar os dados e publicar os resultados, mas essas descobertas serão fundamentais para entender o futuro do sistema ambiental”, conclui Simões.
Brasil lidera expedição de navegação pela Antártica
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