Violência policial

A Polícia Militar de SP nunca foi modelo de civilidade e de bons modos: sempre entrou arrombando a porta. Mas, justiça seja feita – a rigor nenhuma PM do País. O episódio mais emblemático foi o massacre de Carandiru, onde foram mortos 111 presos em uma das muitas rebeliões do presídio. Pois aqueles 111 infelizes, mortos em ação descompensada, beirando a insanidade, acuados, inermes diante do aparato infernal dos agentes da lei, não serviram como um exemplo para uma atitude de contenção e equilíbrio no trato dos infratores da lei, em sua maioria pretos e pobres.

Os anos passam, e de novo vêm à tona os instintos mórbidos de tropas armadas, como agora do governo bolsonarista de Tarcísio de Freitas e desse diligente “herói” da truculência policial, Guilherme Derrite. O Secretário de Estado da Segurança Pública de SP, se orgulha de ter matado “muitos ladrõezinhos”.

Derrite é a voz e a ação do vasto contingente da população que aplaude a violência da polícia, tendo como base a ideia rasteira de que se elimina o crime eliminando os criminosos. “Bandido bom é bandido morto”, proclamam com a boca cheia de espuma. Mas o que esperar de um governador feito pela mão de Bolsonaro?

O fato é que a PM de São Paulo alinha episódios de violência policial que vão desde massacres, relatados como o resultado de um confronto com a bandidagem, mas onde só morrem os bandidos e as forças policiais escapam ilesas, episódios isolados e grotescos, em que o policial atira o suspeito de cima de uma ponte, um agente do estado mata pelas costas um ladrãozinho que está fugindo e policiais atacam furiosamente uma velhinha de 67 anos, deixando-a coberta de sangue.

(Por ora, esqueçamos da polícia militar baiana, da Bahia governada pelo PT, de bater todos os recordes de ações letais – o maior índice de homicídios do país. A violência policial é uma praga que assola governos de direita e de esquerda).

Que as hordas de direitistas vejam na contundência das ações policiais a solução para a criminalidade, (em geral) ignorantes como são, se compreende. Mas governantes, pessoas instruídas, agentes armados têm leis e regulamentos a obedecer. Uma parte ponderável da direita, pensa que é bem situada na vida por causa dos seus méritos, e ignora solenemente que milhares de concidadãos, nossos irmãos, fazem escolhas erradas – a senda do crime – porque o Estado, a sociedade, falharam em propiciar-lhes uma razoável igualdade de oportunidades de trabalho produtivo e honesto.

Não estou dizendo de forma alguma que se deva alisar a cabeça de delinquentes. Mas de saber – ao menos disso – que as leis devem ser respeitadas, mormente as que dizem respeito aos deveres de agentes do estado, que repelem o abuso, a exorbitância.

Os direitos humanos não são apenas para os “humanos direitos”, como pretende a invocação pilantra da direita. Direitos humanos alcançam a totalidade dos concidadãos, independente de cor, sexo, classe social, orientação social – mesmo que eles sejam presidiários, suspeitos de crime, foragidos da justiça e até mesmo bandidos em ato de delinquência. O nome disso é civilização.

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