Saiba por que o dólar não para de bater recordes; analistas respondem

O dólar comercial abriu em alta nessa terça-feira (17), e chegou a R$ 6,16, na máxima. A moeda americana já havia renovado recorde no dia anterior mesmo com intervenção do Banco Central (BC). A instituição fez dois leilões de dólares para segurar a cotação da moeda americana ontem, mas a intervenção — a maior desde 2020 — não impediu a alta de 0,99% no dia. O BC voltou a atuar no mercado de câmbio, injetando mais US$ 1,2 bilhão.

O aumento da desconfiança com a política fiscal do governo, alimentada pela crítica do presidente Lula à alta da taxa básica de juros (Selic), e o risco de desidratação das medidas de cortes de gastos enviadas ao Congresso pressionaram o câmbio e os juros futuros, que dispararam e já projetam Selic a 16,5% no segundo semestre do ano que vem.

O dólar fechou em alta mesmo depois de duas intervenções do Banco Central no câmbio. A autoridade monetária fez dois leilões de dólares para aumentar a oferta no mercado de câmbio, um já programado desde sexta (13), com oferta de US$ 3 bilhões, com compromisso de recompra (o chamado leilão de linha), e um à vista, sem garantia de recomprar, no total de US$ 1,627 bilhão.

Foi a maior intervenção no mercado à vista desde 24 de abril de 2020, um mês após o início da pandemia de Covid, quando o BC vendeu US$ 2,175 bilhões.

Crise 

O Ibovespa também refletiu o ambiente negativo e caiu 0,84%, aos 123.560 pontos, pressionado pelos juros futuros, que derrubaram as ações de empresas que atuam no mercado doméstico.

Na semana passada, além de elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, o BC já havia injetado quase US$ 5 bilhões em leilões de linha e à vista, ações que não foram capazes de fazer a cotação do dólar cair.

Para analistas, intervenções do BC no câmbio são comuns no fim do ano por causa da menor liquidez (oferta de dólares disponível no mercado) e pelo envio de remessas de multinacionais para suas sedes no exterior.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria, afirma que o atual patamar da divisa não pode ser explicado por falta da moeda.

“Não está faltando dólar no Brasil”, diz o economista, afirmando que a alta da moeda americana é reflexo da falta de confiança na capacidade de o governo equilibrar as contas públicas.

A dinâmica de preços dos ativos, segundo Campos Neto, pode refletir um cenário grave de dominância fiscal (cenário em que o descontrole fiscal, o déficit primário e a dívida bruta de um país fazem com que a alta dos juros pelo BC seja inócua para controlar a inflação). Isso porque o câmbio continuou subindo após o BC elevar a Selic para 12,25% ao ano e sinalizar mais duas altas.

“Pode-se dizer que se o BC não atuasse a alta do dólar poderia ser até maior. Mas o fato é que o BC não tem capacidade de mudar drasticamente essa dinâmica porque o problema não é escassez de dólar, mas, uma crise de confiança”, disse o economista.

O Boletim Focus, que reúne as previsões do mercado, mostrou ontem que a projeção para a Selic subiu para 14% no ano que vem. A previsão para a inflação em 2025 continua acima da meta e subiu para 4,60%.

Na visão de Sérgio Vale, economista da MB Associados, medidas para estancar o crescimento da dívida em relação ao PIB são subestimadas pelo governo.

“Há o risco de vermos aprovação dos projetos no Congresso, sobre o Bolsa Família e o BPC, terem ajustes negativos, no sentido de haver desidratação de regras colocadas pelo próprio governo, que já eram fracas. O mercado está estressado. E fica essa dúvida pelo que de fato será entregue”, diz.

O Congresso dá sinais de que pode desidratar o pacote de cortes de gastos, já considerado tímido pelo mercado.

Dentre os pontos que devem sofrer mudanças está o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Parlamentares se mostram contra barrar o acúmulo de benefícios das famílias que contam com mais de um beneficiário. Mudanças no Fundeb (fundo de financiamento da educação básica) também são contestadas.

 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.