Com baixa do Guaíba, Porto Alegre retira comporta para escoar água de ruas do Centro; Lagoa dos Patos fica estável


Medida em Porto Alegre deve permitir o funcionamento de duas casas de bomba, que retiram a água das ruas da cidade. Nesta sexta-feira (17), estado chegou a 154 mortes em razão dos temporais e cheias. Prefeitura de Porto Alegre derruba comporta para escoar água das ruas
O Lago Guaíba voltou a ficar abaixo de 4,70 metros, em Porto Alegre, condição que permitiu a retirada de uma comporta no Centro Histórico, facilitando o escoamento da água acumulada nas ruas. No Sul do estado, a Lagoa dos Patos parou de subir em São Lourenço do Sul , mas os municípios afetados pelas cheias na região continuam em alerta.
Nesta sexta-feira (17), o Rio Grande do Sul chegou a 154 mortes em razão dos temporais. O governo do estado anunciou o pagamento de R$ 2,5 mil para famílias na faixa da extrema pobreza, além de um plano de reconstrução de cidades afetadas pela tragédia.
Confira, nesta reportagem, um resumo do que ocorreu durante o dia no Rio Grande do Sul.
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Água corre da direita, onde fica o Centro de Porto Alegre, para a esquerda, o Guaíba
André Ávila/Agência RBS
Guaíba baixa, e prefeitura derruba comporta
Com a marca de 4,62 metros, o Guaíba marcou seu menor nível desde a madrugada de segunda (13) em Porto Alegre. O índice ainda está distante da cota de inundação (3 metros), mas permite a adoção de algumas medidas para “desalagar” o Centro Histórico.
Com a baixa, o Guaíba está em um nível menor do que a água acumulada nas ruas do Centro Histórico. Por isso, a prefeitura derrubou uma comporta do Muro da Mauá, em frente à Rua Padre Tomé, nas proximidades da Basílica das Dores.
Com a operação, será possível acessar duas casas de bomba, que ajudam a drenar a água acumulada nas ruas para fora da área urbana.
Bombas e comportas em Porto Alegre: saiba para que servem
As comportas são grandes portões de ferro que impedem que a água do lago invada a cidade. Já as bombas são equipamentos elétricos que bombeiam para fora da cidade a água que toma as redes de esgotos. Com as cheias, houve problemas nesse sistema, o que permitiu a inundação de parte da área urbana da capital.
Água acumulada no Centro de Porto Alegre ‘volta’ para o Guaíba
André Ávila/Agência RBS
Com o recuo do Guaíba, a população começou a retornar às suas casas e apartamentos para descobrir quais pertences foram perdidos e que ainda pode ser salvo.
A reportagem da RBS TV encontrou entulho reunido em frente às residências. Eram móveis, colchões e eletrodomésticos – material que havia sido retirado de dentro dos imóveis, muitos deles estragados por conta dos dias debaixo d’água.
Moradores tentam limpar ruas onde a água abaixou, em Porto Alegre
Em municípios da Região Metropolitana, os estragos ainda são percebidos. A cidade de São Jerônimo, a 73 km de Porto Alegre, sofre com a cheia do Rio Jacuí e o isolamento. Com o bloqueio de estradas, o município de 21 mil habitantes “está” a 142 km da capital, por conta de desvios em rodovias.
O Globocop mostrou uma casa de madeira, que foi arrastada pelas águas e foi parar sobre outro imóvel em São Jerônimo. Ainda com água pelas ruas, é possível ver diversas casas tombadas e outras destelhadas. Em outro ponto da cidade, o Globocop flagrou um carrinho de brinquedo para crianças pendurado nos fios. O imóvel que ficava no local, foi completamente destruído.
Casa levada por enchente vai parar em cima de outro imóvel em São Jerônimo (RS)
Lagoa dos Patos
A Lagoa dos Patos está medindo 2,74 metros em São Lourenço do Sul, segundo o levantamento do governo do estado. O número representa um leve recuo em relação aos últimos dias. Na quinta (16), a lagoa chegou a 2,80 metros, 1,50 metro acima da cota de inundação no local.
Lagoa dos Patos, em São Lourenço do Sul
Reprodução/RBS TV
Mais ao sul, o nível da Lagoa dos Patos ainda é maior, o que mantém as cidades de Pelotas e Rio Grande ainda em alerta.
Em Pelotas, a Lagoa dos Patos chegou a 2,70 metros. Já o Canal São Gonçalo, que liga as lagoas dos Patos e Mirim, recuou pouco: de 3,00 para 2,94 metros.
Nesta sexta em Pelotas, a água atravessou um dique de contenção na localidade do Quadrado, provocando rachaduras. Com isso, a prefeitura recomendou que a população em situação de risco procure locais seguros. A cidade soma 2,3 mil pessoas em abrigos municipais.
Veja situação da Lagoa dos Patos no Sul do RS
Já em Rio Grande, os hospitais Universitário da FURG e a Santa Casa iniciaram a transferência de pacientes. A remoção foi necessária por causa do alagamento das ruas do município. Os pacientes estão sendo encaminhados para outros hospitais da Região Sul do estado.
Rua alagada no entorno de hospital em Rio Grande
Reprodução/RBS TV
Vales
No Vale do Taquari, região atingida pelos primeiros temporais, ainda no final de abril, os municípios afetados agora enfrentam outros desafios para retomar a vida.
Em Lajeado o nível da água baixou, no entanto alguns moradores ainda não conseguiram voltar para suas casas devido a quantidade de lama no local. A população relata dificuldade para mover o barro acumulado. Móveis e pertences também se acumulam nas ruas. Imagens mostram um carro coberto pela lama.
Já em Encantado, as equipes da prefeitura trabalharam na região de Barra do Coqueiro para restabelecer os acessos à casas que ficam na zona rural. Vários trechos que levam ao interior do município seguem bloqueados. O abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica está sendo restabelecido na região.
Após água baixar, trabalho é para reconstruir cidades como Encantado
Serra
Na Serra, a preocupação é com uma estrada que liga a região ao Litoral Norte. Um trecho da RSC-453, a Rota do Sol, tem risco iminente de desmoronar. O alerta é para o km 158 e foi feito pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), de Caxias do Sul.
“O risco, eu lhe diria que é 99,99% pelo que está posto. O estudo geológico aponta que há um risco de 99%, para não dizer 100%. Não se sabe quando esse desmoronamento poderá ocorrer, mas pela movimentação do talude, o desmoronamento poderá ser parcial ou por inteiro”, afirmou o diretor-presidente substituto da Samae, Ângelo Barcarolo, em entrevista à Rádio Gaúcha, do Grupo RBS.
Caso o desmoronamento se confirme, podem ser necessários até 20 dias para remover toda a terra da rodovia. Segundo os técnicos, o volume poderia encher três campos de futebol.
Estrada que liga Serra ao Litoral Norte do RS tem ‘99,9%’ de risco de desmoronamento
Auxílio do governo e plano de reconstrução
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou o início do pagamento do programa Volta Por Cima, voltado para o repasse de recursos a famílias que se enquadram em situação de pobreza e extrema pobreza inscritas no Cadastro Único e atingidas pelas enchentes no estado. Devem ser contempladas 47 mil famílias com o benefício de R$ 2,5 mil.
Cerca de 7 mil famílias já tiveram o dinheiro depositado, segundo o governo. Elas estão desabrigadas e já têm o cadastro efetuado junto a prefeituras. Além disso, outras 40 mil famílias receberão o benefício até 24 de maio.
Sobre o PIX SOS RS, que deve beneficiar famílias desabrigadas ou desalojadas por meio de um repasse de R$ 2 mil, o início dos pagamentos começam nesta sexta-feira (17) nos municípios de Encantado e Arroio do Meio. Mais de R$ 100 milhões já foram arrecadados.
Os beneficiados pelo programa Volta por Cima não poderão receber o repasse do PIX SOS RS.
Governo do RS anuncia medidas para atingidos pelas enchentes
Também foram anunciadas ações planejadas para reconstrução do estado após as enchentes, o “Plano Rio Grande”. Entre as iniciativas, o governo estadual apresentou a inauguração do Centro Administrativo de Contingência, espaço de trabalho para os servidores enquanto ainda não é possível recuperar o outro, que foi afetado pelas cheias em Porto Alegre. O Centro entrou em operação, oficialmente, nesta sexta-feira (17).
Também foi anunciada a criação de um Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática para trabalhar “ações para adaptação e resiliência climática do estado do Rio Grande do Sul”, segundo Leite.
“Nós já estávamos em fase de estruturação deste comitê a partir do que nós tínhamos vivenciado no ano passado. Nós vamos reforçar esse comitê e trazê-lo para a governança deste ‘Plano Rio Grande'”, comenta Leite.
Leite ainda revelou que a Secretaria de Parcerias e Concessões vai se transformar na Secretaria da Reconstrução Gaúcha, para ajudar no processo de reconstrução do estado. Conforme o governador, a secretaria vai se organizar no formato de uma “assessoria especial de gestão de riscos”.
Outro comunicado é o envio de um pedido à Assembleia para a criação de um fundo para a obtenção de recursos, o Funrigs.
Ainda na entrevista coletiva, o vice-governador Gabriel Souza apresentou o modelo das unidades habitacionais definitivas e o módulo habitacional temporário transportável.
Unidade Habitacional Definitiva de 44m² – A ata de registro de preço (ARP) homologada conta com 2,5 mil unidades. São 120 dias para as unidades serem inauguradas. “Nós temos então uma ordem de serviço a ser assinada semana que vem, pelo governador, para 250 unidades que podem vir a ser instaladas já no Vale do Taquari porque já estão identificadas as áreas naquela região”, explica Souza.
Módulo Habitacional Temporário Transportável de 27m² – Licitação emergencial para a contratação de 500 unidades para imediata instalação. Duzentas unidades podem ser feitas em aproximadamente 30 dias após a identificação do terreno.
Unidade Habitacional Definitiva de 53m² – As unidades devem ser entregues com o prazo de 90 dias a contar do início das obras a entrega das chaves. O governo está fazendo a contratação por ato de registro de preço em até 40 dias, contando mais 2,5 mil unidades.
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