Acusado de drogar ex-mulher para estupros em série é condenado a 20 anos de prisão na França

Dominique Pelicot, o homem acusado de drogar a ex-mulher para estuprá-la com estranhos, foi condenado a 20 anos de prisão, pena máxima, pela Justiça da França nesta quinta-feira (19). O julgamento ganhou repercussão internacional após a vítima, Gisèle Pelicot, tornar o caso público.

“Senhor Pelicot, em relação ao conjunto dos fatos, o declaramos culpado de estupro com agravantes”, declarou o presidente do tribunal de Avignon, Roger Arata.

Todos os outros 50 réus acusados de estuprar Gisèle também foram considerados culpados pelo tribunal francês. As condenações anunciadas para esses homens variaram entre três e 15 anos de prisão, abaixo dos pedidos pelo Ministério Público francês, em média. Não houve nenhuma absolvição.

Após o veredito, a advogada de Dominique Pelicot, Beatrice Zavarro, afirmou que ele está considerando recorrer da condenação. Durante o julgamento, o francês havia se declarado culpado pelos crimes dos quais foi acusado. Dominique, assim como os outros 50 réus, têm até 10 dias para apresentar recurso à Justiça.

Dos 50 réus, a pena mais leve, de três anos de prisão – sendo dois com liberdade condicional –, foi aplicada a Joseph C., de 69 anos, acusado de agressão sexual contra Gisèle Pelicot. A mais severa, de 15 anos de detenção, foi de Romain V., de 63 anos, que estuprou Gisèle em seis ocasiões diferentes e é soropositivo – apesar de não ter considerado contagioso no momento dos estupros, por conta de baixa carga viral, segundo afirmou seu advogado com base em documentos médicos.

As penas dos outros 50 réus foram consideradas abaixo do esperado pela imprensa francesa, havendo uma “clara” diferença para a de Dominique. Segundo o jornal “Le Monde”, ativistas feministas que assistiam à sessão manifestaram decepção e gritaram “vergonha para a Justiça” ao final da leitura das penas. Os filhos de Gisèle Pelicot afirmaram estarem “decepcionados com as baixas sentenças”.

Gisèle Pelicot, que exigiu um julgamento público para “fazer a vergonha mudar de lado”, falou com a imprensa na saída do tribunal e agradeceu quem a apoiou durante o processo. Ela disse que fez isso por seus filhos e netos: “essa luta também é por eles”.

“Penso nas outras famílias, nas vítimas dessas histórias, que geralmente viram nas sombras”, afirmou Gisèle.

Ela afirmou também que nunca se arrependeu da decisão de tornar o julgamento público, que ela já havia dito ser para “fazer a vergonha mudar de lado”. “Confio em encontrar um futuro melhor, em que homens e mulheres consigam conviver com respeito mútuo.”

Após o veredito, os 18 réus que já estavam em prisão preventiva continuaram detidos. Dos outros 32 que apareceram em liberdade, foram emitidos 23 mandados de prisão com efeito imediato. Seis dos réus saem em liberdade, ou porque a pena aplicada cobre o período de prisão preventiva já cumprido, ou porque a sua pena foi convertida em liberdade condicional. Outros três também tiveram mandados de prisão especiais emitidos devido a condições de saúde.

Um grande público compareceu à frente do tribunal na manhã desta quinta para acompanhar o anúncio da sentença. Os apoiadores da vítima soltaram gritos de celebração quando as notícias dos primeiros vereditos começaram a circular. O público vaiou um dos condenados pelo caso que saiu em liberdade.

O julgamento começou no dia 2 de setembro em Avignon, no sul da França. Segundo a acusação, Dominique dopou a mulher durante 10 anos e convidou mais de 70 homens para estuprá-la. Ao todo, quase 200 estupros foram registrados. Entenda mais sobre o caso aqui.

O réu e a vítima foram casados por 50 anos. Gisèle só descobriu os estupros após Dominique ser preso em 2020 por ter importunado sexualmente três mulheres em um mercado. À época, a polícia mostrou para Gisèle fotos e vídeos encontrados no computador de seu marido nos quais ela aparecia sendo estuprada por diferentes homens. (AG)

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