Dezembro pode ter maior saída de dólares do País desde 1982

O mês de dezembro tem grandes chances de apresentar o pior fluxo cambial mensal da série histórica do Banco Central, que teve início em janeiro de 1982, de acordo com os dados divulgados pela autoridade monetária. Os números preliminares de dezembro mostram que, até o dia 20, houve saída de US$ 18,4 bilhões, a despeito de sucessivas intervenções da autoridade monetária no mercado.

O maior fluxo cambial negativo em um mês foi registrado em setembro de 1998, quando houve um saldo negativo de US$ 18,9 bilhões. Se continuar neste ritmo, portanto, o valor negativo deste mês deve ultrapassar esse nível. O envio de capital para o exterior tão forte em dezembro é explicado quase totalmente pelo desempenho do fluxo financeiro. Da saída de US$ 18,4 bilhões, US$ 18,2 bilhões vieram da conta financeira.

Para que o saldo negativo não seja recorde em 2024, o fluxo cambial terá que ser menos pressionado pela conta financeira ou receber algum suporte de ingresso de capital pela conta comercial, o que é improvável neste período do ano. A entrada de dólares pelas exportações costuma ser mais forte no primeiro semestre, quando há escoamento de grãos.

A saída forte de dólares pela conta financeira já era esperada pelos agentes do mercado, entre outros motivos, porque a economia brasileira se manteve aquecida ao longo de todo o ano de 2024, e o bom desempenho das empresas pode ter elevado o pagamento de dividendos ao exterior.

Além da sazonalidade, o chefe de tesouraria de um grande banco, na condição de anonimato, diz observar alguns empresários buscando dólar. “Tem muita gente preocupada com o que o governo pode fazer para o PT ser reeleito em 2026”, diz. “Com o Banco Central vendendo dólares, abre-se uma oportunidade para mandar capital para fora por um preço melhor”, diz.

Já na leitura de um gestor de moedas, o movimento é resultado de uma “tempestade perfeita”. “Parece uma saída sazonal maior do que o comum; um medo adicional por parte de estrangeiros, fazendo retiradas [stops] em renda fixa e ações; importadores antecipando fluxos; e empresas e pessoas físicas também [remetendo para fora].”

Na avaliação do economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, a questão da forte saída de dólares pela conta financeira parece ser uma tendência que veio para ficar. “Neste mundo, em que a Selic mais alta não consegue atrair capital, também por conta dos juros elevados nos Estados Unidos, a perspectiva é que continue saindo capital.”

O fluxo cambial se manteve no positivo até agora no acumulado do ano. No entanto, com os dados divulgados ontem pelo BC, o câmbio contratado passou a mostrar saldo negativo de US$ 10 bilhões. O que poderia dar algum alívio é um fluxo comercial menos pressionado pelas importações no ano que vem, ainda segundo o economista do C6.

Taxa de juros

“Muitas importações podem arrefecer um pouco por conta da taxa de juros que ficará ainda mais alta”, diz, acrescentado que as taxas mais elevadas pesam no investimento das empresas. “Boa parte das importações vem de máquinas e equipamentos e, por isso, está bastante relacionada a investimento da indústria, e esse setor deve sentir mais no ano que vem”, afirma o economista.

Salles, inclusive, diz que, com uma conta comercial um pouco mais robusta, mas com a financeira ainda bem negativa, a tendência é que o fluxo cambial no ano que vem fique mais neutro.

O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, diz ver o fluxo cambial ainda bastante ruim em 2025, também por acreditar que a conta comercial pode ser afetada pela incerteza local. “O diferencial entre o câmbio embarcado e o câmbio contratado (o total que é vendido para fora e o total que de fato entra no País) aumentou neste fim de ano. E, se as incertezas por aqui permanecerem, o exportador pode preferir deixar mais dinheiro lá fora em vez de internalizar”, diz.

Diante da forte saída de capital do Brasil neste fim de ano, o Banco Central realizou uma série de intervenções no mercado de câmbio. Já no dia 13 de novembro, a autoridade monetária realizou sua primeira intervenção via leilão de linha, o procedimento também conhecido como venda de dólar com compromisso de recompra, cujo objetivo é reduzir a pressão que as saídas criam no cupom cambial. As informações são do Valor Econômico.

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