O Brasil e a nossa ilusão da propriedade

Em um canto qualquer do Brasil, onde o sol se esconde atrás de prédios altos e a fumaça das fábricas se mistura com o cheiro de esperança, vive um homem comum e sua família.

Ele acorda todos os dias em uma casa ou apartamento que, por mais que tenha suas paredes pintadas com carinho e seu chão limpo, não é verdadeiramente seu.

O sonho da casa própria, tão promovido em comerciais de televisão, parece cada vez mais distante, como uma miragem no deserto, independente de estar em seu nome ou não.

Mesmo quando finalmente conquista esse sonho, ele se vê obrigado a pagar IPTU, um lembrete de que a propriedade nunca é totalmente sua.

Ele tem um carro, um símbolo de conquista em sua cidade. Mas, ao olhar para ele, percebe que não é dono do veículo. Na verdade, ele é apenas um inquilino temporário de algo que pode ser tomado a qualquer momento.

O IPVA não é apenas uma taxa, é um lembrete constante de que sua liberdade sobre o que deveria ser seu bem mais precioso está atada a uma corda invisível chamada governo.

E, assim, ele se pergunta: “O que realmente possuo? Não bastam todas as taxas que pago sobre produtos e serviços de consumo?”

A resposta ecoa em sua mente como um mantra triste: “Apenas possuo, verdadeiramente, a roupa que visto”.

Mesmo as liberdades que ele pensava ter, como expressar suas opiniões ou compartilhar seus sonhos nas redes sociais, estão sendo constantemente moldadas por algoritmos que decidem o que é relevante e o que deve ser silenciado.

Neste labirinto de censura, obrigações e impostos, onde cada passo é monitorado e cada escolha tem um preço, ele reflete sobre o sistema em que vive. Um sistema que se diz capitalista, mas se entrelaça ao socialismo de forma tão sutil que poucos conseguem perceber.

As altas classes políticas, assim como as empresariais, beneficiam-se de maneira muito semelhante ao verdadeiro fascismo, enquanto as massas lutam por migalhas.

A CLT, ao invés de beneficiar o trabalhador, encarece a contratação para os empresários, enriquecendo o governo, enquanto distribui miséria disfarçada de benefícios, ao invés de fornecer recursos concretos.

O acesso aos recursos é desigual, e a ilusão da propriedade se transforma em uma farsa coletiva. E, assim, enquanto observa as redes sociais inundadas de pessoas buscando validação através de likes e comentários, ele percebe a ironia amarga: mesmo a liberdade de expressão está à venda.

As opiniões são moldadas por tendências e modismos passageiros. A busca pela autenticidade se torna uma luta constante contra um sistema que recompensa a superficialidade.

Neste universo controverso onde a propriedade é uma miragem e a liberdade parece uma moeda em circulação nas mãos erradas, ele conclui que talvez o verdadeiro tesouro resida na capacidade de questionar.

Questionar o sistema. Questionar seus valores. Questionar quem somos nesse vasto mar de ilusões.

Porque se não somos donos do nosso lar ou do nosso carro, ao menos podemos ser donos das nossas ideias e dos nossos sonhos – esses sim são inalienáveis.

Porém, até mesmo essa liberdade de expressão e pensamento está sendo ameaçada por um grupo de ministros que decidiu se tornar legisladores por conta própria.

E, assim, segue o homem comum, navegando entre responsabilidades e esperanças, buscando encontrar sentido no caos.

Afinal, nesta dança estranha entre capitalismo e socialismo, entre posse e liberdade, talvez a única coisa realmente sua, seja a coragem de refletir sobre tudo isso.

Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

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