Crise no IBGE: servidores fazem carta contra comunicados da presidência do instituto

Mais um grupo de servidores do IBGE se juntou ao coro que critica a gestão do atual presidente do instituto, Marcio Pochmann. Funcionários da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) publicaram na segunda-feira (27) uma carta de posicionamento com 20 assinaturas se defendendo de comunicados feitos pela presidência do instituto e criticando a criação da Fundação IBGE+.

Nessa terça (28), dois gerentes também publicaram um texto criticando a direção do IBGE por apontarem um tom político inadequado em uma publicação do instituto.

Em comunicados publicados no site do IBGE, a presidência usa como justificativa para a criação da fundação de caráter público-privado o fato de que servidores da Ence exercem atividades de consultoria para uma associação científica de direito privado, além de acusar a escola de repassar recursos ilegalmente para tal entidade.

Na carta, os funcionários da escola se defendem considerando que os trabalhos de pesquisa acadêmica feitos por eles se diferem das pesquisas feitas para produção de estatísticas nacionais e oficiais divulgadas pelo IBGE, e indicam que nenhum repasse de recursos públicos foi feito para associações privadas.

O documento considera ainda que os comunicados da presidência representam um ataque aos servidores do instituto, assim como aos integrantes do sindicato, que também tem sido alvo de Pochmann desde que começou a protestar contra sua administração, que classificam como autoritária. A direção do instituto considera que o sindicato prejudicam a imagem do IBGE com alegações inverídicas.

“Consideramos as acusações levantadas contra professores e pesquisadores ativos e inativos da ENCE e, portanto, do IBGE, um ataque leviano à integridade e trajetória profissional dos servidores do Instituto. Trata-se de uma investida que se soma às iniciativas tomadas contra a ASSIBGE em represália às críticas e preocupações legítimas do corpo funcional quanto às ações e omissões da presidência do órgão”, escreveram os funcionários na carta.

Eles acrescentam ainda que as acusações seriam uma “cortina de fumaça” para desviar o foco das discussões sobre os riscos relacionados à criação da Fundação IBGE+. “É preciso abrir espaço para o diálogo, de modo a superar a lamentável crise que se abateu sobre o IBGE”, concluem os servidores da ENCE.

Tom inadequado

Nessa terça, mais dois servidores do instituto, ambos gerentes, publicaram um documento criticando a presidência. Nos textos, eles mencionam um periódico lançado pelo IBGE hoje, “Brasil em números 2024”, que traz no prefácio um artigo da governadora de Pernambuco (PE), Raquel Lyra. No texto, ela lista realizações de seu governo e elogia a iniciativa e atual gestão do IBGE.

Os funcionários Ana Raquel Gomes da Silva, da Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais (Gecoi) e Leonardo Ferreira Martins, da Gerência de Editoração (Gedi) consideram que esse uso está em em “desacordo com as boas práticas institucionais” e pode caracterizar uma espécie de propaganda política, o que o IBGE busca evitar.

“Conteúdos de tal natureza, característicos de campanhas eleitorais, não se coadunam com a neutralidade técnica que deve nortear a produção editorial do IBGE, sobretudo em uma publicação com abrangência geográfica nacional”, escreveram os gerentes, acrescentando que alertaram a direção do instituto de que o prefácio da governadora quebra o princípio da impessoalidade que norteia as publicações, mas foram ignorados.

Segundo eles, a publicação foi mantida mesmo depois de eles se posicionarem contra a inclusão do prefácio, alertando sobre a necessidade de o IBGE , enquanto instituição pública, manter sua isenção político-partidária, “sob pena de comprometimento da credibilidade do Instituto”.

Viagem

Enquanto a crise na instituição toma novos contornos, o presidente do IBGE vai viajar para cidades das cinco regiões do país para divulgar o plano de trabalho previsto para 2025. Esse plano é citado pelos servidores como outro exemplo de falta de interlocução. Eles não têm informações sobre essas diretrizes e nem foram consultados.

Segundo o IBGE, o cronograma também prevê atividades internacionais, que não foram detalhadas.

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