Carestia

Faz tempo que os brasileiros se queixam amargamente da alta do custo de vida. E com razão. As notícias da carestia circulam fartamente na imprensa, o problema afeta a todos, principalmente os mais pobres, recaindo sobretudo sobre os gêneros de primeira necessidade, alimentos à frente.

O governo tardou a perceber que havia um descontrole e que ele precisava intervir, sob pena de dar pretexto a um novo desgaste, do tipo daquela barbeiragem do pix. É uma pena que o governo pareça a Justiça agindo só “on demand”, quando a dificuldade de instala.

Se fosse fácil, ao menos as coisas já estariam bem encaminhadas. Na administração Lula há uma tendência poderosa que tem a ilusão infantil de que as questões mais complexas podem se resolver se o governo entrar com ânimo, disposição e vontade política.

Lembram-se de quando o PT estava na oposição? Os grandes males deste país seriam debelados todos com uma varredura geral de “ vontade política”. Ela era capaz de furar o chão mais duro e alcançar o céu mais alto, se os governantes quisessem. O obstáculo estava em que todos os demais partidos e facções políticas não conheciam os caminhos do atalho, da solução mágica – só o PT tinha a chave.

Infelizmente não era assim tão fácil: nem os adversários eram tão ruins e insensíveis, nem eles do PT eram tão capazes. O fato é que mais do que os governos anteriores do PT, o atual parece ser flagrado de calça curta em cada episódio e com uma bússola avariada, desanda a buscar soluções envelhecidas, exercícios criativos de hipóteses discutíveis, até que – afinal e por outras razões – o problema saia da pauta , ou porque de algum modo se resolveu, ou porque o distinto público em algum momento se cansa e deixa para lá.

Umas das ideias em curso é reduzir o imposto de importação de alimentos, diminuindo o preço nos códigos de barra. É possível algo mais medíocre, solução mais banal e limitada? Poupa-se um pouco do dinheiro de todos (os impostos) para dar uma ligeira impressão de folga. Dinheiro que se perde hoje na redução, para supostamente receber quando der. É por isso que as finanças públicas vivem sempre em pindaíba. Não há crescimento sustentável que resista.

Pouca gente lembra, mas proposta semelhante (reduzir o imposto de importação) foi aventada no governo Bolsonaro. A oposição de então – PT e as esquerdas – bombardearam. No governo nenhuma ideia parece tão boa quanto a que a gente já bombardeou.

Outra alternativa em pauta no âmbito do governo hoje: a criação de uma rede pública de mercearias, nos moldes da Farmácia Popular para os medicamentos. Que tal, no meio do tiroteio da carestia, a gente lançar o germe patriótico de uma nova estatal, um novo programa gerido por uma estatal?

Fato: combate à carestia, produção de alimentos, preços razoáveis para os produtos do campo e lavou não se improvisam. É trabalho de fôlego, do qual não se descuida nem esmorece. Não tem cabimento de repente – não mais do que de repente – os preços ficaram caros e que agora basta um conjunto de manejos simplórios e de medidas de tiro curto para dissipar a fase.

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