Rumo aos 20 anos do Levante Popular da Juventude!

O Levante e Sepé Tiaraju compartilham a data de 7 de fevereiro não apenas como uma ocasião de comemoração, mas também como um marco de horizontes históricos em encontro. Para Sepé, relembramos a morte do líder missioneiro em combate durante a Batalha do Caiboaté, lutando pela defesa do território onde vivia. Já para o Levante, 2006 foi um ano fundamental de organização e resistência, impulsionado pelo acampamento da juventude da Via Campesina em São Gabriel, na Campanha gaúcha. 

Esse momento foi crucial para a formação de militantes que atuaram na luta “chave por chave” do Morro Santa Tereza, em Porto Alegre. A reivindicação por terra e a defesa do território transcenderam os livros de história, tornando-se elementos táticos na organização política de uma população afetada pela especulação imobiliária e por políticas eugenistas na zona Sul da capital gaúcha.

Completamos 19 anos de lutas e mobilizações do Levante, um movimento que não se opôs às transformações do mundo e passou por diversas mudanças em seu horizonte estratégico, tático e organizativo. Inspirados pelos movimentos sociais latino-americanos, envoltos pela mística popular e pela agitação e propaganda socialista, transformamos a maneira de fazer política no Brasil, tornando-nos um exemplo para organizações de jovens em todo o mundo.

Pensar que um movimento de tamanha grandeza chega a duas décadas de existência deve levar sua militância a refletir sobre os rumos que esse instrumento político deve tomar no próximo período. Atualmente, no Rio Grande do Sul, vivemos o melhor momento da história do Levante, com forte presença nas principais universidades do estado e grupos de jovens organizados nas maiores periferias da Capital. Esse processo foi consolidado durante o 4º Acampamento Nacional, onde a delegação gaúcha se fez presente com mais de 600 pessoas, entre jovens militantes e referências do movimento comunitário, demonstrando ao Brasil novos (ou não tão novos assim) caminhos para a luta.

Entre esses novos rumos, destaca-se a importância de avançar na formação política e ideológica da juventude, resgatar o socialismo como ferramenta de transformação social e valorizar a tradição latino-americana de fazer movimento social. Vivemos um dos momentos mais conturbados da política brasileira, com um Congresso Nacional retrógrado, alinhado a interesses rentistas e pautas conservadoras. Mesmo com um Governo Federal que abre algum diálogo, é evidente que as mudanças necessárias para a transformação social não virão apenas da política institucional.

A partir do golpe de Estado de 2016, nos inspiramos no legado e ensinamentos de Che Guevara, sintetizando seu espírito de sacrifício e o trabalho voluntário como a solidariedade necessária ao momento de acirramento das condições de vida da classe trabalhadora. Com a pandemia da covid-19, a solidariedade tornou-se elemento central em nossa estratégia e focamos no combate à fome e às políticas conservadoras de Bolsonaro. 


Nas enchentes de maio de 2024 no RS, Levante ampliou espaços de referência em organização popular com cozinhas solidárias / Foto: Divulgação/Levante

Essas afirmações, consolidadas com o encerramento do período de distanciamento social, demonstraram ainda sua força durante as enchentes de maio de 2024, com o giro de nossa organização para a construção de espaços de referência em diversos territórios do Rio Grande do Sul e na condução de brigadas estaduais e nacionais de solidariedade. Esse momento, além de reforçar o sentimento de amor a nosso povo e nossa terra, também demonstrou a força política do Levante como movimento de referência no trabalho de organização popular. 

Por fim, para consolidar nos 20 anos dessa gigante organização os caminhos para a revolução brasileira, nosso foco deve ser reforçar a participação no movimento de massas, fortalecendo a organização popular como ferramenta de luta política. Precisamos avançar na construção de uma força própria, promovendo a autonomia do movimento popular diante da conjuntura de incertezas que vivemos. Encerramos assim, inspirados pela mística missioneira, reafirmando o grito de seu guerreiro Sepé Tiaraju, ecoando soberania popular em alto e bom som: “Esta terra tem dono!”.

* Militante do Levante Popular da Juventude

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


Adicionar aos favoritos o Link permanente.