Missão Sementes: reconstruir e cuidar da Casa Comum com fé, esperança e solidariedade

Faz tempo que estamos sentindo os efeitos do chamado “aquecimento global” ou melhor, das “mudanças climáticas”, consequências dos maus tratos ao meio ambiente, amplamente alertado por lideranças sociais, cientistas e pelo Papa Francisco na Laudato Si, que nos convoca a cuidarmos da “Nossa Casa Comum”. Eventos extremos tem sido frequentes como, temporais, secas e grandes inundações. Embora atinja todos e todas, são os mais pobres que pagam o maior preço, pois, vivem na maioria das vezes em locais de risco permanente por não terem alternativas.

As populações ribeirinhas são conhecedoras da vida dos rios, do seu comportamento, das enchentes e vão criando seu jeito de conviver com elas. Enchentes de certa maneira sempre existiram, períodos mais chuvosos que acarretaram grandes cheias. Porém o que vimos nos últimos tempos, foi muito além do que se tem relato, pegando desprevenido até quem sempre conviveu nas margens dos rios, os sábios ribeirinhos. A referência de maior cheia até então, foi a de maio de 1941, que ficou como sendo a maior já registrada no Vale do rio Taquari e em todo o RS, mas esta marca foi ultrapassada em mais de 3 metros pela enchente de maio de 2024, causando uma grande tragédia, com muita destruição, com 183 mortos e 27 desaparecidos, segundo Boletim da Defesa Civil do RS.

Assim como as áreas urbanas, o meio rural também foi duramente atingido, e foi pensando em atender as milhares de famílias de pequenos agricultores e agricultoras que na enchente de setembro de 2023, um conjunto de organizações criaram a “Missão Sementes de Solidariedade” que não interrompeu sua atuação até o evento extremo de maio de 2024. Inicialmente impulsionada pelo Instituto Cultural Padre Josimo, pela Cáritas Regional RS, pela Comissão Pastoral da Terra, Movimento dos Pequenos Agricultores, pela Diocese de Santa Cruz do Sul além de outros movimentos sociais que se somaram, a Missão é muito mais do que uma tarefa, é uma ação de presença solidária junto ao povo da roça atingido pela catástrofe para apoio imediato, seja para o plantio, no apoio a luta por moradia e por terra.

Um abraço solidário e a entrega de um kit de sementes e mudas para cada família camponesa, tem sido o gesto mais bonito da Missão Sementes de Solidariedade, que atendeu 5.162 mil atingidas de 278 comunidades e 77 municípios só no ano de 2024. Gesto este que fortalece a fé, a esperança e ao mesmo tempo sela um compromisso com cada família. Nós estamos com vocês! Os recursos arrecadados através da solidariedade local, nacional e internacional viabilizaram as visitas realizadas por meio de mutirões de aproximadamente 200 voluntários e voluntárias, agentes de pastorais e militantes sociais que dedicavam ao menos uma semana para esta ação. Sobretudo, os recursos contribuíram para ajuda emergencial e a compra de mais de 80 toneladas de sementes, de milho, feijão, arroz e hortaliças, 3.563 feixes de ramas de mandioca além de  mudas de  aproximadamente 55 mil mudas de batata doce, árvores frutíferas e nativas para cada família refazer seus plantios e iniciar a reorganização da vida. A Missão Sementes de Solidariedade segue visitando municípios e comunidades, reunindo agricultores e agricultoras para apoio as lutas das famílias atingidas.

 A 47ª Romaria da Terra quer abraçar todas estas famílias atingidas, fortalecer a fé, a esperança e a luta por um mundo melhor. Da mesma forma confirmar o valor do trabalho em mutirão, da solidariedade, além de apontar coletivamente soluções, entre elas, desapropriação de áreas de terras para reassentamento das famílias, a reforma agrária, atenção à saúde, políticas de habitação rural, projetos educacionais e de geração de renda para jovens e mulheres. Tudo isso tendo como horizonte um novo modelo de desenvolvimento, baseado na Agroecologia e preservação ambiental, no cuidado das pessoas, na justiça socioambiental, inspirado no Projeto do Reino de Deus que é de vida em abundância para todos e todas.

 

*Maurício Queiroz é da CPT Diocesana/Santa Cruz do Sul.

*Oldi Helena Jantsch é da CPT Diocesana/Santa Cruz do Sul.

*Jacira T. Dias Ruiz é da Cáritas RS.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


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