O país registrou crescimento com o mercado aquecido e baixo nível de desemprego, mas preço dos alimentos e dólar em alta ajudam a explicar a queda de popularidade do governo

Em 2024, a taxa média de desemprego registrou o menor patamar da história, de 6,6%. O investimento teve um salto e foi um dos motores da expansão de 3,4% do PIB no ano passado. Mas na economia da vida real, o que ficou na memória popular é a inflação.

A percepção de que o custo de vida ficou mais alto é impulsionada pelo aumento do preço dos alimentos: do azeite que se tornou item de luxo e, em muitos lares, foi substituído pelo óleo ao valor da carne bovina, o brasileiro fez ginástica no orçamento para compor o menu do dia a dia.

As estatísticas corroboram o sentimento: o IPCA, índice oficial, fechou o ano em 4,83%, acima da meta de inflação. O grupo Alimentação e Bebidas foi o que mais subiu, com alta de 7,69%. Não bastassem problemas climáticos, a alta do dólar, outro fator a minar o sentimento de bem-estar, contribuiu para aumentar os preços de alimentos.

Esse movimento afeta sobretudo a população de baixa renda, na qual a comida tem peso maior no orçamento.

— A última impressão é a que fica, e a gente teve uma aceleração da inflação, principalmente de alimentos, exatamente no fim do ano, com toda a discussão de inflação da carne no último trimestre. Houve sensação de perda de poder de compra — diz Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Leal ressalta que no ano passado o rendimento alcançou o maior patamar da série histórica do IBGE, iniciada em 2012, e chegou a R$ 3.225. Mas a inflação mais alta corroeu essa percepção:

— Você vê o consumo das famílias crescendo forte, desemprego nos menores níveis históricos. Teoricamente, isso seria suficiente para a população estar satisfeita com o rumo da economia. Mas, no fim, o que vale é dinheiro no bolso, e a inflação é como se fosse um imposto.

Não é de hoje que a alimentação cresce acima da inflação. Dados compilados a pedido do GLOBO por por André Braz, coordenador dos Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que, de janeiro de 2020, logo antes de a Covid-19 se abater sobre a economia mundial, e janeiro deste ano, o IPCA acumulou alta de 33,68%. Já os preços médios da alimentação no domicílio saltaram 57,55%.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também vê a inflação como principal motivo para a discrepância entre os números e a percepção popular, mas menciona ainda a volatilidade do dólar.

— A gente viu no fim do ano passado depreciação forte do câmbio e isso também pode assustar. Ainda que tenha voltado a melhorar agora, esse movimento pode afetar a percepção e a confiança.

O impacto político da escalada de preços não tardou. Segundo pesquisa Datafolha, a avaliação positiva do governo caiu para 24%, o menor patamar já registrado por Lula em todos os seus mandatos. Não à toa, o governo lançou nesta quinta-feira um pacote anti-inflação, que zera alíquota de importação de nove produtos, como azeite, café e carnes, entre outras medidas.

Lula indicou que poderia adotar “medidas mais drásticas” para baixar os preços. O alcance das ações divulgadas, porém, é considerado limitado pelos especialistas, que avaliam que a perspectiva de safra recorde terá mais impacto para reduzir os preços dos alimentos à mesa dos brasileiros. As informações são do portal O Globo.

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