Entrada tardia na menopausa reduz risco cardiovascular e preserva vasos sanguíneos

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre mulheres brasileiras, segundo dados do Ministério da Saúde. Neste cenário, a menopausa tem um impacto significativo na saúde do sistema circulatório feminino, e sua chegada pode tornar o corpo mais suscetível a este tipo de doença. Um estudo, publicado recentemente no periódico Circulation Research, aponta que mulheres que entram mais tarde na menopausa apresentam uma diminuição desse risco.

“O estrogênio desempenha um papel fundamental na saúde dos vasos sanguíneos. Então, conforme há uma diminuição dos níveis desse hormônio na menopausa, ocorre um enrijecimento desses vasos e piora do colesterol, com maior risco de problemas como infarto e derrame. Além disso, com a queda do estrogênio, há um maior acúmulo de gordura visceral, o que está relacionado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, explica o Dr. Igor Padovesi, autor do livro “Menopausa Sem Medo” e membro da International Menopause Society (IMS).

Segundo Padovesi, o risco de doenças cardiovasculares cai em 20% quando a menopausa se inicia após os 55 anos, em vez da idade média, entre 45 e 54 anos.

“No entanto, até então, não se sabia o motivo dessa redução. Mas o estudo mostrou que esse risco diminuído pode estar associado a uma melhor saúde dos vasos sanguíneos e das mitocôndrias, responsáveis por gerar energia para as células que formam os vasos sanguíneos. A descoberta pode levar ao desenvolvimento de novas estratégias para reduzir o risco de doenças cardiovasculares nesse grupo”, destaca.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram a saúde vascular de 92 mulheres dividias em três grupos: aquelas que entraram na menopausa após os 55 anos, aquelas que entraram na menopausa antes disso e aquelas que ainda não entraram na menopausa, que serviram como controle. Na avaliação, os pesquisadores concentraram-se principalmente em uma medida conhecida como dilatação fluxo-mediada da artéria braquial.

“A dilatação fluxo-mediada da artéria braquial diz o quão bem essa artéria, que é o principal vaso sanguíneo que fornece sangue para o braço, se dilata com o fluxo sanguíneo”, explica o ginecologista. Além disso, a saúde das mitocôndrias e a composição molecular do sangue também foram analisadas.

Na pesquisa, foi observado que a função vascular das mulheres que entraram na menopausa mais tardiamente era apenas 24% inferior à das mulheres na pré-menopausa. Em comparação, as mulheres que entraram na menopausa antes dos 55 apresentavam saúde vascular 51% pior em relação ao grupo de controle. De acordo com os pesquisadores, o motivo para essa diferença está relacionado a um melhor funcionamento das mitocôndrias.

“Com o envelhecimento, as mitocôndrias tornam-se disfuncionais, gerando uma maior quantidade de moléculas danosas para os vasos sanguíneos chamadas de radicais livres. Assim, com as mitocôndrias funcionando melhor, a produção de radicais livres é reduzida”, detalha o médico.

Além disso, no estudo, o sangue dos dois grupos de mulheres na menopausa também apresentou diferenças. As mulheres que entraram tardiamente na menopausa exibiam níveis mais favoráveis de lipídios.

“O estudo destaca então que a entrada tardia na menopausa oferece uma espécie de proteção natural contra a disfunção vascular resultante desse estresse oxidativo causado pelos radicais livres”, ressalta o médico.

O próximo passo dos pesquisadores é entender qual é o mecanismo por trás dessa proteção, e se o uso de suplementos antioxidantes para neutralizar os radicais livres nos vasos sanguíneos seria capaz de reduzir o risco cardiovascular de mulheres na menopausa. De acordo com Padovesi, atualmente já existem estratégias que podem ser empregadas nesse grupo para diminuir perigos cardiovasculares, como a terapia hormonal.

“A terapia hormonal consiste na reposição dos hormônios que passam a faltar no corpo da mulher. Dessa forma, atua diretamente na principal causa do problema: o desequilíbrio hormonal. É cientificamente comprovado que, quando realizada corretamente, a terapia hormonal, além de ser muito segura, melhora a saúde cardiovascular e diminui o risco de doenças. Por isso, é especialmente importante para mulheres que passaram pela menopausa precocemente”, finaliza.

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