Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo pode encerrar atividades após 72 anos

Imagem da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo em uma apresentação ao vivo, com músicos em um palco iluminado por luzes coloridas.
Crédito: Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo

A OSNH (Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo), a segunda mais antiga do Rio Grande do Sul, pode encerrar suas atividades após 72 anos. A Prefeitura de Novo Hamburgo suspendeu os repasses que garantiam a manutenção do grupo. Impactando, desta forma, diretamente 34 músicos profissionais e três dos 26 núcleos de ensino de música da cidade.

A decisão afeta não apenas os músicos, mas também a comunidade, que perde um dos principais projetos culturais da região. Em 2023, a OSNH realizou mais de 20 apresentações e manteve sua atuação junto ao Instituto Arlindo Ruggeri, responsável pela administração da orquestra desde sua fundação em 1952.

O custo mensal do projeto gira em torno de R$ 120 mil, valor destinado ao pagamento de salários e à manutenção dos Polos do Núcleo de Orquestras Jovens. O instituto, que consolidou o ensino musical na cidade, perderá parte do suporte que garantia aulas gratuitas de violino, violoncelo, contrabaixo e instrumentos de sopro para crianças.

Desde 2008, a OSNH é tombada como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Novo Hamburgo. Apesar do orçamento municipal de cerca de R$ 2 bilhões para 2024, o Executivo alega necessidade de corte de gastos.

“A OSNH, o Núcleo de Orquestras Jovens e o FEMUSIK são um organismo uno, vivo. A parceria existente com a prefeitura municipal, através da Secretaria de Cultura, existe desde seu início há 72 anos. Hoje vemos esse importante membro deste organismo, a OSNH, ser abandonado, como quem simplesmente decide não mais cuidar de uma parte do seu corpo, ou de um cômodo de sua casa”, lamenta a presidente do Instituto Arlindo Ruggeri, Vera Garcia Rosa Sant’Ana.

Impacto na formação musical

O projeto atendia 75 crianças nos três núcleos. Outros 23 seguem funcionando, sendo quatro mantidos pela Secretaria Municipal de Educação e 19 sustentados por captação via Lei Rouanet.

“A orquestra é um vetor de cultura na cidade, inclusive atraindo para cá recursos federais que captamos com os projetos”, destaca Gustavo Müller, diretor artístico da OSNH e do Núcleo de Orquestras Jovens.

Reconhecimento internacional

Nos últimos anos, a OSNH vinha se consolidando no cenário musical. Em 2023, trouxe o maestro Linus Lerner, reconhecido mundialmente, para liderar o projeto. Lerner já regeu orquestras em quatro continentes e se tornou o brasileiro mais atuante no exterior.

“Infelizmente, a administração municipal pretende extinguir a OSNH sob justificativa de contenção de despesas. No entanto, os custos anuais da orquestra são inferiores ao necessário para asfaltar um quilômetro de rua. Quanto vale a nossa cultura?”, questiona o maestro.

Projetos ameaçados

Além do impacto no ensino musical, o corte de verbas coloca em risco eventos importantes como o FeMusiK (Festival Internacional de Música de Novo Hamburgo). O evento atrai músicos do Brasil e do exterior, movimentando o setor hoteleiro e comercial da cidade, mas não deve mais ocorrer.

Em 2022, o Instituto recebeu da prefeitura o prédio histórico onde funcionava a Secretaria da Saúde, no bairro Hamburgo Velho, para transformá-lo na Casa da Orquestra. Em 2023, venceu um edital estadual e garantiu verba para o projeto de restauro.

“Como será daqui pra frente sem a OSNH ativa? Uma lástima, algo inimaginável, um patrimônio desse porte, com esse grau de significância cultural e social para a comunidade de Novo Hamburgo ser literalmente abandonado”, finaliza Vera Sant’Ana.

O que diz a Prefeitura de Novo Hamburgo

A Prefeitura de Novo Hamburgo afirmou, quando questionada, que iria se manifestar por meio de nota. No entanto, não o fez até a publicação desta notícia.

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