Empresas aéreas Gol, Latam, e Azul investigam a Decolar por fraude de emissão de bilhetes

As aéreas Gol, Latam e Azul estão passando um pente fino na sua parceria com a Despegar – holding dona da marca conhecida no Brasil como Decolar. A investigação, segundo fontes relataram ao Valor, chega após empresas terem tomado conhecimento de uma fraude na comercialização de passagens por meio da chamada “tarifa operador”.

O objetivo é entender o verdadeiro tamanho do esquema. Procurada, a Despegar disse manter boa relação com seus parceiros.

A Despegar passou a incorporar essa tarifa com desconto destinada a pacotes nas suas vendas de passagens aéreas, o que é irregular. No entanto, o consumidor final pagava pelo preço cheio do bilhete, e a companhia absorvia o desconto. Essa prática teria inflado o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês)

A Despegar reconheceu que uma auditoria interna encontrou a irregularidade e disse que o volume seria pequeno. A empresa diz ainda estar sendo “extorquida” por um ex-funcionário (cujo nome não foi revelado), que supostamente seria o responsável e que ameaçou denunciar a empresa.

Fontes explicaram que esse tipo de uso indevido da tarifa operador é difícil de ser identificado sem uma auditoria externa. Com isso, as aéreas aguardam esclarecimentos da Despegar para avaliar os próximos passos. Em jogo está a relação com esses importantes parceiros, que podem vir até a cancelar a tarifa operador a depender do desfecho das investigações.

Parceria com Latam e auditoria
Segundo a Despegar, sua auditoria encontrou 51 reservas irregulares entre as 9,7 milhões de reservas aéreas anuais. Fontes destacaram que esses problemas teriam sido concentrados na parceria com a Latam. Mas o setor não se contentou com esse dado e quer aprofundar a investigação.

“O que as empresas estão pedindo é a Decolar abra o que foi feito na auditoria dela. Elas não querem apenas o resultado. Querem os indicadores e detalhes de como a irregularidade foi encontrada [para que elas possam atualizar seus modelos]”, disse uma fonte que acompanha o tema de perto. “Caso a Decolar não abra esses dados, vai ser preciso uma auditoria maior”, acrescentou.

Uma análise preliminar chamou a atenção das aéreas diante do fato de o ticket médio das operações da Despegar serem, em média, 15% abaixo do que o praticado por concorrentes em igual cenário de comparação — ou seja, iguais destinos, prazo de antecipação de compra, permanência e horário.

No radar de concorrentes

Para além da investigação feita pelas aéreas, há tempos que as margens da Despegar estão no radar de concorrentes no setor de viagens. Segundo fontes, o “take rate” (uma espécie de margem de lucro das operadoras na venda dos pacotes) da Despegar ronda na casa de 14,7%, o que seria considerado bastante elevado em comparação com concorrentes como a CVC, que bate no máximo os 13%.

Fontes acrescentaram que as demissões da equipe do modal aéreo no Brasil, assim como de um executivo na Argentina, levantaram suspeitas. A visão é de que esses funcionários teriam pouca margem para de fato tirarem dinheiro desse tipo de esquema.

“É muito mais cara de um esquema para aumentar os resultados da empresa e, na contramão, isso se converteria em um melhor bônus [aos que praticaram a irregularidade]”, disse uma fonte, destacando que a visão de que a Despegar teria sido apenas uma vítima e não cúmplice do negócio estaria em xeque.

Comprada pela controladora do iFood
Uma investigação da Latam, no fim do ano passado, é que levou a Despegar a iniciar uma auditoria. Em dezembro, a Despegar foi comprada pela Prosus, controladora do iFood no Brasil, por US$ 1,7 bilhão.

O sistema do site da Latam Travel é totalmente fornecido pela companhia de turismo. Segundo pessoas próximas, essa parceria, que foi fechada pela sede da Latam no Chile, desagrada à diretoria no Brasil, em especial Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil.

A visão é que, ao entregar os clientes à Despegar, a aérea perderia uma oportunidade de estreitar relações com os passageiros, assim como corre risco de perdê-los para a Decolar no futuro. A Latam foi procurada, mas não quis se manifestar.

A tarifa operador é negociada entre a aérea e os operadores de viagem. No lado da aérea, o negócio é vantajoso porque a companhia consegue negociar passagens em voos com baixa ocupação e assim melhorar seus indicadores.

Mas uma regra é que essa tarifa precisa ser “opaca”, no jargão do setor – ou seja, ela não pode ser vendida sozinha ao consumidor final e precisa ser associada a algum serviço. O operador que viola essa regra pode ser multado e até perder o direito de negociar a tarifa. Procuradas, Gol e Azul não se manifestaram. As informações são do portal Valor Econômico.

 

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