Com pesquisa sobre a própria mãe, estudante será primeira indígena a se tornar doutora pela UFRGS


Susana Kaingáng vai defender a tese sobre educação escolar indígena a partir da voz, trajetória e liderança da própria mãe. Mãe e filha são fundadoras do Instituto Kaingáng (INKA), na terra indígena Serrinha, em Ronda Alta. Susana, à esquerda, e a mãe Andila Kaingáng, que é o tema do estudo da doutoranda
Divulgação/UFRGS
Susana Kaingáng será a primeira indígena a se tornar doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A doutoranda do programa de pós-graduação em educação defenderá a tese “Tra(n)çando caminhos: a história de vida de Andila Kaingáng”, nesta sexta-feira (30). O estudo aborda a educação escolar indígena a partir da voz, trajetória e liderança de Andila Kaingáng, mãe de Susana.
”Quando indígenas ingressam na universidade é um momento que a gente então se apropria desse espaço, desse território, com a nossa linguagem, com as nossas histórias, com os nossos valores. Então é um momento único”, diz.
Entenda a diferença entre índio e indígena
A ativista e educadora Andila Kaingáng é conhecida no movimento indígena por sua luta em prol da educação escolar desde seus 17 anos. Ela integrou a primeira turma de Professores Bilíngues no Brasil e cursou Licenciatura no 3º Grau Indígena da UNEMAT. Além disso, também é servidora aposentada da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI).
”Vou trabalhar a história de vida de Andila Kaingáng, que é uma mulher Kaingáng, indígena, é minha mãe, e pensando na sua trajetória de vida na educação escolar indígena, ela tem mais de 50 anos”, explica a doutoranda.
Natural da terra indígena de Carreteiro, em Água Santa, na Região Norte do estado, Susana é graduada em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), tem mestrado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em Educação pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
A pesquisa de doutorado, desenvolvida desde 2018, surgiu da necessidade de continuar os estudos na área de educação escolar indígena. A doutoranda comenta que, ao ingressar na UFRGS, por meio das ações afirmativas, teve contato com disciplinas que abordavam o feminismo, mas pouco sobre o universo da mulher indígena.
“Isso me instigou bastante a pensar algo dentro da universidade, dentro da minha pesquisa”, relata Susana.
O estudo mostra a atuação da mãe nas áreas da cultura, educação e luta pelos direitos territoriais indígenas.
Educação
Susana Kaingáng fala da importância da presença indígena em universidades
Mãe e filha fundaram, em 2002, o Instituto Kaingáng (INKA), na terra indígena Serrinha, em Ronda Alta, na Região Norte, e que atua na área de educação, cultura e direitos indígenas. A missão da entidade é fortalecer e conservar a cultura da comunidade. A escolha pelos estudos em educação está relacionada ao papel desempenhado por ela dentro da instituição.
”Eu começo a minha atuação dentro da instituição, justamente por conta da presença da Andila Kaingang. Eu, como sócia fundadora, a Andila, presidente da instituição”, pontua.
Para a doutoranda, a universidade é um instrumento de luta para o conhecimento dos povos indígenas.
“Quando indígenas ingressam na universidade é um momento que a gente então se apropria desse espaço, desse território, com a nossa linguagem, com as nossas histórias, com os nossos valores. Então é um momento único”, diz.
O doutorado reforça o protagonismo da instituição na educação, segundo Susana.
“A partir do momento que a organização indígena conta com profissionais academicamente qualificados, valoriza a atuação da instituição e nos dá abertura, cada vez maior,” finaliza.
*Assistente Andressa Mendes colaborou sob supervisão da jornalista Lilian Lima.
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