Fim da escala de trabalho “6×1”: construtoras temem perda de produtividade, aumento de custos e dificuldade na entrega de obras

Em entrevista à imprensa, o vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Eduardo Aroeira, classifico de “desastre para o setor” a eventual aprovação da proposta que prevê o fim da escala de trabalho “6×1”. Ele projeta um cenário de perda de produtividade, aumento de custos e maior dificuldade no cumprimento do prazo de conclusão de obras.

“Estamos praticamente em pleno emprego e nossa grande luta agora não é empregar pessoas, e sim aumentar a produtividade”, frisou. “A alteração da escala neste momento em que temos uma produtividade baixa e uma necessidade de entrega, principalmente de unidades de interesse social, com certeza, no máximo, geraria o desemprego ou a informalidade.”

Ele acrescentou: “Na verdade, a discussão prioritária, no nosso interesse, é sobre como a gente pode melhorar as condições dos trabalhadores, com aumento de produtividade, por meio de formas diferentes de construir”.

Mesmo sendo responsável em agosto pela geração de 13 mil novos postos com carteira assinada, de acordo com dados do último Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, o setor da construção enfrenta uma das maiores crises de escassez de mão-de-obra. Isso se dá especialmente pela falta de qualificação e pelo desinteresse dos jovens em suportar as jornadas extenuantes nesse tipo de atividade.

O resultado é uma força de trabalho envelhecida, como mostra levantamento da entidade: a média de idade dos trabalhadores do setor subiu de 38 para 41 anos desde 2016. No Estado de São Paulo, esse indicador já é de 43 anos e a maioria atua por conta própria, de modo informal, cerca de 38,8 horas semanais, com renda média de R$ 2.553 por mês (em 2023).

Apesar da falta de mão-de-obra, o setor segue batendo recordes de crescimento em meio a uma demanda aquecida. De acordo com a Cbic, no último trimestre houve alta no número de lançamentos e de vendas em relação ao ano anterior.

O vice-presidente de indústria imobiliária da Cbic, Ely Wertheim, diz lamentar que a proposta esteja em discussão “em um país pobre como o Brasil, onde as pessoas precisam de trabalho e renda”. Ele lança mão de um exemplo: “Por meio do trabalho, países asiáticos saíram de uma trajetória de pobreza muito grande”.

Ainda segundo Wertheim, “a gente devia estar era produzindo, aumentando a produtividade, investindo em capacitação, empregando, entregando as coisas no prazo — não só apartamento, vale para qualquer indústria, para qualquer serviço. Acho que vai ser um desserviço ao Brasil se o fim da escala ‘6×1’ for aprovada”.

PEC

A escala “6×1”, na qual o descanso remunerado é concedido apenas uma vez por semana semana, virou alvo de uma proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que pretende mudar a Constituição Federal para alterar a jornada dos trabalhadores.

O texto da PEC propõe alterar o artigo 7º da Carta Magna, em seu inciso 13. A sugestão da parlamentar é de uma jornada de quatro dias semanais, medida adotada em alguns países do mundo e que chegou a ser testada no Brasil por algumas empresas.

Na última sexta-feira (15), feriado da Proclamação da República, atos de apoio ao fim da “6×1” foram realizados em capitais de todas as regiões do País. Os manifestantes compararam a jornada atual, de 44 horas, à escravidão.

Mesmo com a resistência de diversos setores, a PEC já ultrapassou o mínimo de assinaturas necessário para ser protocolada e começar a tramitar na Câmara dos Deputados, segundo Erika Hilton. Uma vez protocolado e com a conferência das assinaturas, o texto seguirá para a Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ), que analisará a admissibilidade da proposta.

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