Em novo depoimento, Mauro Cid nega conhecer trama para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes; sua delação premiada corre risco

Terminou no fim da tarde dessa terça-feira (19) o depoimento do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, à Polícia Federal (PF). Ele foi chamado para dar esclarecimentos após a PF recuperar dados apagados do computador dele e também foi interrogado sobre o plano golpista para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Cid negou ter conhecimento de um plano para um golpe de Estado em dezembro de 2022. Segundo apuração da TV Globo, os investigadores não ficaram satisfeitos com o que ele falou e sua delação premiada corre risco de ser cancelada.

Os investigadores estão convencidos de que Cid omitiu informações e nomes ao longo da colaboração. E que o teor das apurações feitas até o momento contradizem a versão defendida nessa terça pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Fontes que acompanham o caso disseram ainda que a principal suspeita atualmente é de que Cid vinha fazendo jogo duplo, fazendo leva e traz com Braga Netto, tentando ao máximo poupar o general.

Cid disse também que desconhecia todo teor do que as apurações trouxeram e que resultaram na operação dessa terça, com a prisão de 4 militares e um policial federal.

A investigação da PF aponta que Cid e o general da reserva Mario Fernandes, preso nessa terça, trocaram mensagens sobre as supostas ações golpistas. O general disse a Cid que conversou com o presidente e que ouviu dele que “qualquer ação” poderia acontecer até o último dia de 2022.

“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”, diz o trecho da mensagem de Fernandes a Cid em 2022 contido em relatório da PF.
Vagabundo seria uma referência ao presidente Lula, na época presidente eleito, e que foi diplomado pelo TSE em 12 de dezembro daquele ano.

Outro trecho da conversa com Cid obtido pela PF, Fernandes demonstra preocupação com a possibilidade de o movimento dos apoiadores de Bolsonaro, que na época estavam acampados em frente aos quartéis, perder força, e que ele teria conversado isso com o então presidente.

“A partir de semana que vem, eu cheguei a citar isso para ele, das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos e a gente perde o controle, né? Pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também.”

Outra mensagem foi no dia 9 de novembro de 2022. Naquele dia, Bolsonaro rompeu o silêncio em que se mantinha desde a derrota para Lula na eleição de outubro e falou com apoiadores em frente ao Alvorada.

No discurso, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas eram “o último obstáculo para o socialismo” e ter certeza de que elas estavam “unidas e devem, assim como eu lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição”.

O então presidente derrotado disse ainda que iriam vencer, e que tudo daria certo “no momento oportuno.”

Em áudio encaminhado a Mauro Cid pouco depois, Mario Fernandes comentou o episódio.

“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara para o público dele, para a galera que confia, acredita nele até a morte”.

O militar também disse que, após falar com Bolsonaro, o grupo tinha perdido muitas oportunidades de colocar o plano golpista em prática.

“Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, disse Fernandes para Cid, segundo o documento da PF.

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