Servidoras da Trensurb denunciam colegas por assédio sexual no RS: ‘Ele se manipulou com a minha mão’; polícia investiga os casos


Funcionário suspeito de estupro foi transferido para outro turno, convivendo com servidora que denunciou outro colega por suposta importunação sexual. Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre apura as denúncias. Servidora da Trensurb relata suposto caso de estupro
Reprodução/RBS TV
A Polícia Civil de Canoas investiga dois casos de crimes sexuais supostamente cometidos por servidores da Trensurb contra colegas de trabalho. Os episódios teriam ocorrido ao longo de 2024, no setor de segurança da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre, uma estatal federal.
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Um dos casos é apurado como suspeita de estupro, enquanto o outro inquérito apura suposta importunação sexual. Um terceiro caso já está na Justiça. Veja os três relatos abaixo.
“Ele levou a minha mão e ele se manipulou com a minha mão”, descreve uma das mulheres sobre o assédio que sofreu. Ela prefere não ser identificada. Leia o relato completo abaixo.
A delegada Angélica Giovanella Marques, responsável pelas investigações, afirma que há testemunhas que confirmam os relatos das mulheres. A polícia espera concluir as investigações ainda este ano.
“Nós temos algumas testemunhas que trazem depoimentos em concordância, no mesmo sentido do apresentado pelas vítimas”, afirma.
Ainda assim, a policial ressalta que, “nos crimes em que envolvem essa violência contra a mulher, os tribunais superiores têm esse entendimento pacificado de que a palavra da vítima tem especial credibilidade”.
A direção Trensurb preferiu não gravar entrevista. A empresa informa que as apurações são sigilosas, com o objetivo de proteger as denunciantes.
A estatal ainda afirma que possui serviço de psicologia organizacional desde 2005, que atua de forma contínua e gratuita a todos os funcionários. A Trensurb também diz ter constituído, em novembro, um protocolo de combate ao assédio que prevê ações de prevenção. A iniciativa busca combater comportamentos e manifestações de assédio e violência, tanto individual quanto coletiva.
Relato de estupro
O suposto caso de estupro teria ocorrido em março de 2024. Segundo a mulher, o colega se manipulou com a mão dela.
Sem coragem de denunciar o que aconteceu, ela explica que teve que seguir dividindo a escala de trabalho com o homem e que as violações continuaram. A mais grave teria ocorrido dentro do carro da empresa durante uma ronda na madrugada.
“As portas trancadas, porque o motorista tem o controle do carro. Ele puxou a minha nuca e levou direto lá”, afirma.
A funcionária relata que sofreu problemas psicológicos, como episódios de pânico. A mulher diz que não conseguia mais sair de casa sozinha.
A servidora decidiu então denunicar o caso para a empresa, no atendimento psicólogico, e também em um canal de atendimento do governo federal. Foi através de Brasília que a corregedoria da Trensurb foi acionada, abrindo enfim uma investigação.
O colega apontado segue trabalhando na Trensurb. Contudo, ele foi deslocado para a escala de outra funcionária, que também afirma ter sido vítima de crimes sexuais dentro da empresa.
Sede da Trensurb, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Suspeita de importunação sexual
A segunda servidora diz ter sido vítima de importunação sexual por parte de outro colega do setor de segurança. Concursada há sete anos, ela fala que o suposto agressor é um funcionário com quem dividia as rondas nas estações.
Conforme o relato, os problemas começaram em maio, com contatos físicos inapropriados.
“Ele começou repetidamente a fazer brincadeiras de baixo calão, brincadeira de cunho sexual. Teve um dia que eu estava encerrando meu turno de trabalho, ele veio, me deu um beijo na nuca”, fala.
Ela diz que pediu ao gestor para não trabalhar mais com o colega. Passado quase um mês da denúncia, ela afirma que seguia trabalhando com esse funcionário. Os constrangimentos teriam continuado e envolveriam piadas de duplo sentido com um equipamento de trabalho.
“O colega ergue o bastão de trabalho, o instrumento de trabalho, o bastão, e fala: ‘pega aqui com a tua mãozinha'”, conta.
Depois de um mês, ela diz que decidiu cobrar uma posição da chefia. No entanto, a servidora afirma ter sido repreendida por seu gestor. O servidor apontado segue trabalhando, mas ele não divide mais as escalas com a funcionária.
Servidora da Trensurb relata suposto caso de importunação sexual
Reprodução/RBS TV
Caso na Justiça
O terceiro caso, registrado há quatro anos, envolveu uma agente de estação da Trensurb. Ela dormia em uma sala de descanso durante o intervalo, quando foi vítima de importunação sexual.
“Sofri uma importunação sexual pelo meu colega. Saio correndo, desesperada, daquele ambiente. Entro numa sala onde tem câmeras e fico embaixo daquela câmera. Ele me persegue vindo três vezes atrás de mim”, lembra.
A mulher denunciou o que passou aos superiores. A empresa abriu uma investigação e, oito meses depois, o homem foi demitido por justa causa. O ex-funcionário agora é réu e será ouvido em uma ação por importunação sexual, que tramita na Justiça Federal.
“Não tive proteção, não tive apoio psicológico, nem psiquiatra. Eu faço, até hoje, todos esses tratamentos de forma particular. Tomo medicação”, lamenta a servidora.
Composição da Trensurb se aproxima de estação na Região Metropolitana de Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
Protocolos e judicialização
A advogada Gabriela Souza, que representa as três mulheres, diz que os mecanismos de denúncia oferecidos pela empresa são falhos.
“Quando a gente recebe uma denúncia, nós devemos ter um protocolo para seguir, ou seja, essa vítima vai passar por uma avaliação, o agressor vai ser afastado, as vítimas não vão mais ter contato com esse agressor se, por acaso, ele não for afastado”, sugere.
Desde 2022, uma mudança na legislação trabalhista determinou que as comissões internas de prevenção de acidentes, as CIPAs, também incluam a prevenção a todos os tipos de assédio nos seus programas. As empresas tinham prazo até março do ano passado para se adaptar.
Especialista no tema, a desembargadora da Justiça do Trabalho Carmen Izabel Centena Gonzalez afirma que gestores devem ser capacitados para tratar desses assuntos.
“Tem que capacitar os gestores, tem que capacitar os trabalhadores. E permitir que a vítima possa fazer a denuncia de forma livre e sem temor”, aponta.
A magistrada ainda diz que qualquer empresa, pública ou privada, pode ser punida, caso se conclua que houve negligência na condução das denúncias de assédio.
“Quando os casos chegam até nós e há prova do assédio, seja moral, seja sexual, nós temos punido. As vítimas nao podem ser revitimizadas, elas precisam ter canal de acolhimento e, comprovado, se adotem as medidas cabíveis”, afirma Carmen Izabel.
As punições podem ocorrer na Justiça criminal e na Justiça trabalhista, com demissão por justa causa e indenizações para as vítimas de abuso.
Servidora da Trensurb usa camiseta com a frase ‘Lute como uma metroviária’
Reprodução/RBS TV
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