Um grupo seleto de empresas não só driblou o mau-humor como também se beneficiou da escalada do dólar: as exportadoras

Dólar a R$ 6,19, Ibovespa em queda de 10% e juros futuros precificados em mais de 16% já para junho de 2025… Incertezas sobre a trajetória fiscal do Brasil, somadas a um ambiente externo desafiador, afetaram a moeda brasileira e o índice de referência dos investidores na Bolsa.

Mas um grupo seleto de empresas não só driblou o mau-humor como também se beneficiou da escalada do dólar: as exportadoras. De todas as 87 ações que compõem a carteira do Ibovespa, somente 16 têm alta este ano. Neste grupo, 11 têm receitas atreladas à exportação.

Neste conjunto de companhias que fecham o ano no azul há frigoríficos, fabricantes de máquinas e equipamentos, de aeronaves e companhias ligadas a commodities. Há casos de alta das ações superior a 100%. E a forte alta do dólar no ano, de mais de 27%, é um dos principais fatores para a valorização dos papéis.

“Boa parte das receitas dessas empresas é dolarizada, então o fator câmbio acaba favorecendo bastante essas companhias”, diz Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.

Com a mudança de cenário, investidores passaram a alocar recursos em empresas e setores considerados menos suscetíveis aos impactos de uma escalada da moeda americana, diz Naio Ino, gestor de Renda Variável da Western Asset.

O avanço da moeda americana para o patamar acima de R$ 6, do qual não há sinal de que vá sair no curto prazo, acompanhou a expectativa com um pacote de corte de gastos e a frustração do mercado com a dimensão do ajuste fiscal proposto pelo governo, considerado aquém do necessário. Além disso, o cenário externo também impõe cautela, com as expectativas em relação a um governo americano mais protecionista com a volta de Donald Trump à Casa Branca.

Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o ambiente econômico deve seguir favorável para as exportadoras em 2025, ainda embalado por preocupações fiscais no Brasil e políticas comerciais nos EUA. Mas, apesar do papel crucial do dólar na valorização destes papéis, ele não é o único componente.

Os resultados acima das expectativas entregues pelas empresas também têm impacto, explica Bruno Henriques, analista de ações do BTG Pactual. A estrutura de custo, a dinâmica de capital de giro e o caixa gerado pela empresa são todos fatores que também contribuem para o desempenho dos papéis.

Empresas nos EUA

Das quatro ações do setor de frigoríficos na carteira do Ibovespa, três estão entre as cinco maiores altas em 2024: JBS, BRF e Marfrig. Segundo Henriques, do BTG, a demanda aquecida por aves e o custo em patamar baixo do grão de milho, usado como ração, ajudam a explicar a valorização. No ano, o grão tem queda de 3,7%.

“A parte de processados no Brasil também surpreende, com atividade dinâmica e resiliente, mercado de trabalho apertado, renda disponível aquecida, o que tem relação com o consumo destes alimentos”, afirma.

A JBS acabou se beneficiando da resistência da economia americana. Segundo analistas, a empresa pode ser menos afetada pelo viés protecionista de um novo governo Trump. Isso porque, mesmo com as ameaças do republicano de impor tarifas a empresas que exportam para os EUA, a JBS conta com um braço forte de operações em território americano. No ano, os papéis sobem 62,10%.

Já a Marfrig, com alta de 102,35%, foi impulsionada pelos resultados favoráveis da BRF, empresa da qual é controladora. Os papéis da BRF acumulam alta de 88,78%.

Esse “céu de brigadeiro” para os papéis ganhou um revés ontem com a notícia de que a China iniciou uma investigação sobre as importações de carne bovina, preocupada com o impacto sobre a indústria local.

Na análise de resultados fortes em balanços, analistas foram praticamente unânimes com os nomes de três empresas: WEG, Santos Brasil e Embraer.

As ações da Embraer decolaram neste ano, com avanço de 151,18%, impulsionadas pelo aumento na carteira de pedidos de sua linha de E-jets, com capacidade para 80 a 124 passageiros. Neste fim de ano, um avião fabricado pela Embraer que era da Azerbaijan Airlines caiu, mas a suspeita até o momento é que a aeronave tenha sido abatida por um sistema de defesa russo antes de cair no Cazaquistão. Com isso, não houve maior impacto nos papéis da companhia.

A Santos Brasil, de operação portuária e logística integrada, e a WEG, de equipamentos elétricos, anunciaram negócios de fusões e aquisições (M&A) de sucesso este ano, o que contribuiu para a melhora nos números de ambas. A Santos Brasil acumula alta de 67,51% e a WEG, de 50,61%.

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