Não-Me-Toque, Anta Gorda, Travesseiro: descubra a origem dos nomes ‘diferentes’ de cidades do RS


Animais, plantas, acidentes geográficos e pessoas renderam batismos curiosos para municípios gaúchos. Anta, butiá, planta ‘não-me-toque’ e formigueiro: nomes que inspiraram o batismo de cidades do RS
Reprodução/g1
Não raro vira notícia quando pais batizam seus filhos com nomes diferentes. E quando o batismo é para uma cidade? No Rio Grande do Sul, diversos municípios são conhecidos pelo nome curioso, como Não-Me-Toque, Anta Gorda, Travesseiro e Sério, entre outros. Mas o que muita gente não sabe é a origem dos nomes próprios detes lugares, além de sua origem e evolução.
Antes de conferir a reportagem completa, faça o quiz e teste seus conhecimentos sobre as cidades gaúchas com nomes curiosos.
O g1 foi atrás do significado dos nomes de algumas dessas cidades. Conheça a explicação clicando no nome do município abaixo:
Não-Me-Toque
Anta Gorda
Travesseiro
Sério
Barracão
Boa Vista do Cadeado
Boa Vista do Incra
Butiá
Canela
Capitão
Casca
Chuvisca
Ciríaco
Espumoso
Formigueiro
Gentil
Mormaço
Mostardas
Palmitinho
Passa Sete
Picada Café
Poço das Antas
Segredo
Tio Hugo
Unistalda
Viamão
Xangri-Lá
Não-Me-Toque
Existem duas hipóteses para o nome da cidade, que fica no Norte do estado. Uma delas é a presença de uma planta abundante na região, a “sucará” ou “espinho de Santo Antônio”, chamada também de não-me-toque, justamente por causa dos espinhos.
A outra possibilidade, de acordo com o município, é em razão de uma fazenda batizada de Não-Me-Toque registrada no cartório desde 1885.
Letreiro em Não-Me-Toque, no RS
Stefano Santos/Prefeitura de Não-Me-Toque
Anta Gorda
A prefeitura diz que quando o Vale do Taquari foi colonizado, uma anta de grandes proporções foi abatida por moradores no território do município. Admirados com o tamanho do animal, os desbravadores passaram a indicar o local como “lá onde mataram a anta gorda”.
Estátua de uma anta gorda em Anta Gorda
Prefeitura de Anta Gorda/Divulgação
Travesseiro
Não, a cidade do Vale do Taquari não tem esse nome por causa do objeto que utilizamos ao dormir. Segundo o prefeito Gilmar Southier, o batismo tem como origem o conjunto de pontilhões de madeira que faziam a travessia do arroio que corta o município. As travessias viraram “travesseiro”.
Travessia em arroio de Travesseiro
Prefeitura de Travesseiro/Divulgação
Sério
Mais um município do Vale do Taquari. A prefeitura afirma que uma possibilidade é uma homenagem ao Rio Serio, na Itália, região de origem do dono de terras na cidade.
A outra hipótese é mais curiosa. Italianos teriam dificuldade para pronunciar a letra “g” do nome de Sérgio Franciosi, um morador da região. O nome dele, então, era dito “Sério”.
Vista aérea de Sério (RS)
Prefeitura de Sério/Divulgação
Barracão
Segundo a prefeitura, no século 19, tropeiros passavam pela região da cidade de forma clandestina para fugir do pagamento de impostos dos produtos transportados. Para fiscalizar a região, foi construído um barracão que serviria de quarquel e casa de coletaria. A construção deu nome ao município.
Barracão fica na divisa entre o RS e SC, onde os rios Pelotas e Canoas se juntam, formando o Rio Uruguai.
Vista do Rio Uruguai em Barracão (RS)
Prefeitura de Barracão/Divulgação
Boa Vista do Cadeado
A cidade da Região Noroeste tem esse nome, segundo a prefeitura, por causa da vista sobre uma colina na Serra do Cadeado.
Boa Vista do Cadeado, no Noroeste do RS
Prefeitura de Boa Vista do Cadeado/Divulgação
Boa Vista do Incra
O nome de Boa Vista é por causa de uma fazenda que existe na cidade desde 1839. Em 1969, a propriedade foi adquirida para o reassentamento de famílias que foram atingidas pela construção de uma barragem. As áreas foram distribuídas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que completou o batismo do município do Noroeste do estado.
Pórtico de Boa Vista do Incra (RS)
Prefeitura de Bos Vista do Incra/Divulgação
Butiá
Desconhecido de muitos brasileiros de outras regiões, um pé-de-butiá, típico da região carbonífera, deu origem ao nome do município. De acordo com a prefeitura, uma árvore isolada, que ficava próximo a uma estância da localidade, acabou se tornando ponto de referência e local para descanso de carreteiros que passavam pela região.
Letreiro de Butiá (RS)
Prefeitura de Butiá/Divulgação
Canela
Segundo a prefeitura, o nome da cidade provém justamente de uma árvore caneleira plantada próxima do local onde hoje fica praça central do município. O local servia de ponto de encontro e pousada de tropeiros.
Neve em frente à igreja de Canela, na Serra do RS
André Fernandes/Arquivo pessoal
Capitão
A denominação do município homenageia o primeiro dono das terras na região, o capitão Francisco Silvestre Ribeiro. O mineiro recebeu o título de capitão da 4ª Companhia da Guarda Nacional em 1846.
Letreiro de Capitão (RS)
Prefeitura de Capitão/Divulgação
Casca
Acredita-se que o nome tenha origem na palavra “cascare”, que significa “cair” em italiano. Imigrantes teriam batizado um riacho considerado escorregadio e fácil de cair com esse nome. Outra possibilidade, de acordo com a prefeitura, é a extração de cascas de árvores com objetivos comerciais na região.
Igreja de São Luiz Gonzaga, o principal templo de Casca (RS)
Paroquia São Luiz Gonzaga/Divulgação
Chuvisca
Segundo a prefeitura, a origem do nome se deve a uma área no município em que ocorria uma garoa permanente. Localizado próximo aos arroios Sutil e Duro, o fenômeno, que era popularmente chamado de “chuvisca”, é característico do município emancipado em 1995 de Camaquã até hoje.
Chuvisca, município no Centro-Sul do RS
Prefeiuta de Chuvisca/Divulgação
Ciríaco
O batismo do município, situado no Norte do estado, tem como origem o nome do primeiro morador da região. Segundo a prefeitura, não há registros escritos sobre sua estadia ou origem, mas relatos dizem que o homem teria se estabelecido no município entre 1860 e 1890, vindo da fronteira.
Ciríaco, o morador, era um famoso esgrimista, conhecido em toda a região. Um dia, teria desafiado um tropeiro de Cruz Alta para um duelo e sofreu sua primeira derrota. Desapontado, entregou a sua espada ao vencedor e adquiriu uma posse de terras na região da mata, onde construiu uma choupana e viveu até falecer. Em torno deste local, surgiu o município de Ciríaco.
De acordo com a última atualização do projeto Nomes do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 29 “Ciríacos” vivem no Rio Grande do Sul; em todo o Brasil, são 602.
Estátua de Cristo na entrada de Ciríaco (RS)
Prefeitura de Ciriáco/Divulgação
Espumoso
A história do nome de Espumoso também advém da natureza, como no caso de outras localidades. Banhado pelo Jacuí, segundo maior rio do estado, o município é o primeiro a ficar às margens do curso d’água após a nascente, localizada em Mato Castelhano.
De acordo com a prefeitura do município, colonizadores batizaram a localidade, inicialmente denominada “Passo Espumoso”, com este nome porque o Jacuí formava grandes cones de espuma em suas águas, que alcançavam até 30 centímetros de altura. O fenômeno, que ocorria pela grande presença de cascatas e cachoeiras na região, não era registrado por viajantes em outros pontos do rio.
Igreja São Jorge, em Espumoso (RS)
Paróquia São Jorge – Espumoso/Divulgação
Formigueiro
O povoamento do município da Região Central começou, segundo a prefeitura, a partir da catequização da população originária por jesuítas, ainda no século XVIII. Os indígenas moravam em uma fazenda chamada São João, em torno da qual se principiou um rápido crescimento demográfico, sobretudo a partir da chegada de pequenos agricultores e ex-soldados, transformando a localidade em distrito, que passou pelo controle de Rio Pardo, Cachoeira do Sul e São Sepé, até a emancipação, em 1963.
De acordo com a prefeitura, naqueles tempos remotos, passando pela localidade uma comissão de engenheiros, um dos profissionais teria dito “isto aqui é um formigueiro!” ao ver a grande profusão de carretas que ali pousavam no trajeto até a fronteira.
Sede da Prefeitura de Formigueiro (RS)
Prefeitura de Formigueiro/Divulgação
Gentil
Ninguém duvida do carisma e da hospitalidade dos habitantes de Gentil, no Norte do Rio Grande do Sul, mas o nome do município nada tem a ver com traços interpessoais de seus moradores. A partir dos anos 1930, de acordo com a Prefeitura de Gentil, o então pároco de Marau, Frei Gentil de Caravaggio, teve grande influência sobre a localidade.
Mesmo que tenha ficado apenas nove anos em Marau, a influência do capuchinho era tanta que, em 1957, o povoado passou a se chamar Vila Frei Gentil, quando ainda fazia parte de Marau. Quando se emancipou, em março de 1992, o então distrito aboliu o status religioso do nome e foi batizado “apenas” como Gentil.
Vista aérea de Gentil (RS)
Prefeitura de Gentil/Divulgação
Mormaço
Qual gaúcho nunca reclamou do calor úmido, típico de várias áreas do Rio Grande do Sul, chamando a sensação térmica de “mormaço”? O caso não é diferente neste município do Norte do estado, que acabou até ganhando este nome graças às altas temperaturas.
De acordo com a prefeitura municipal de Mormaço, a localidade, que foi inicialmente chamada de “Mundo Novo do Jacuí”, começou a ser povoada por volta de 1900. Mais tarde, devido ao forte calor provocado pelo sol no meio da mata fechada e, em época de frio, pelo vapor que se elevava do degelo das geadas, o local foi denominado “Serra do Mormaço” por alguns, mas acabou preponderando apenas o último nome quando da emancipação, em 1992.
Vista aérea de Mormaço (RS)
Prefeitura de Mormaço/Divulgação
Mostardas
De acordo com a Prefeitura de Mostardas, a origem do nome do município ainda é discutível. Para o Executivo municipal, a hipótese mais aceita é a da historiadora Marisa Oliveira Guedes, segundo a qual a denominação tem uma origem militar – e vegetal.
A pesquisadora aponta que a “Guarda das Mustardas” teria sido criada em 1738, recebendo esse nome porque as trincheiras cavadas pelos guardas eram camufladas através da plantação de mostarda, um vegetal que não murcha. Mais tarde, quando a localidade do sul do estado se transformou em freguesia, em 1773, é que passou a chamar-se “Freguesia de São Luís de Mostardas”. Em 1963, quando se emancipou de São José do Norte, a localidade ficou apenas com a última parte do nome.
Vista aérea de Mostardas, no Litoral do RS
Prefeitura de Mostardas/Divulgação
Palmitinho
Os primeiros colonizadores da região plantaram seis palmeiras em frente ao primeiro oratório da cidade, que fica no Noroeste do estado. A espécie plantada na praça era a de palmitos, o que deu origem ao nome do município.
Vista aérea de Palmitinho (RS)
Prefeitura de Palmitinho/Divulgação
Passa Sete
As origens do nome do pequeno município localizado às margens da ERS-400, no Vale do Rio Pardo, estão em um arroio localizado no território pertencente ao município. De acordo com a prefeitura, antigos moradores relatavam que viajantes que por ali passavam tinham que cruzar o referido arroio por sete vezes durante seus trajetos, muito íngremes e tortuosos. O fato motivou os passantes a chamarem de Passa Sete aquele trecho de seus itinerários.
Vista do Belo Monte, em Passa Sete (RS)
Prefeitura de Passa Sete/Divulgação
Picada Café
A 80 km de Porto Alegre, entre o Vale do Sinos e a Serra, Picada Café tem duas hipóteses para o nome. A primeira diz que tropeiros acampavam na cidade para tomar café ou pernoitar antes de seguir viagem.
A outra versão diz que imigrantes receberam mudas de café para plantar na região. A plantação não prosperou mas o nome permaneceu. Já o termo “picada” significa estrada ou trilha aberta na mata.
Cartão postal da cidade de Picada Café (RS)
Prefeitura de Picada Café/Divulgação
Poço das Antas
A prefeitura explica que o “poço” se refere ao formato do relevo da cidade, uma região cercada de montanhas em forma de vale para onde correm os rios. Já as antas eram atraídas para o poço, em busca de água.
Sede da Prefeitura de Poço das Antas
Prefeitura de Poço das Antas/Divulgação
Segredo
A origem do batismo de Segredo, no Vale do Rio Pardo, tem origens em um crime mal resolvido. De acordo com o Executivo municipal, Abel Batista da Silva, que era dono de vastas terras na região, foi morto a golpes de machado, em fevereiro de 1881, por um empregado, Salvador Carvalho, e um escravizado de nome Benjamim.
Após o homicídio, o corpo teria sido jogado no arroio que passava logo abaixo do local do crime, um paiol onde hoje fica o Centro do município. Dias depois, alguns pescadores encontraram um cadáver no curso d’água. Presumiu-se que Salvador Carvalho e o escravo Benjamim haviam assassinado o antigo patrão e ambos foram condenados pelo crime, mas nunca foi provado que o cadáver era mesmo o de Abel e o motivo do crime não foi descoberto.
Contudo, existia uma suspeita sobre um possível caso amoroso entre Maria Francisca da Silva, esposa do morto, e Salvador. O arroio onde apareceu o corpo passou a ser chamado de “Arroio Segredo”, dando origem ao nome da localidade.
Centro Administrativo de Segredo (RS)
Prefeitura de Segredo/Divulgação
Tio Hugo
O “tio” que batiza a cidade é Hugo André Londero, que se instalou na região ao montar um posto de combustíveis na BR-386, que era consrtruída na década de 1960. Pelo perfil atencioso e prestativo, passou a ser conhecido como “Tio Hugo”, nome que se estendeu para a localidade.
Praça Joaquim Granja Neto, em Tio Hugo (RS)
Prefeitura de Tio Hugo/Divulgação
Unistalda
No Noroeste do estado, a região foi povoada por indígenas e, depois, por jesuítas espanhóis e portugueses. A redução de “Carneirinho” foi batizaa de “Degolas”, porque muitas cabeças foram decepadas na região durante a Guerra do Paraguai.
O nome atual vem da década de 1930, quando foi consturída uma estrada de ferro entre Santiago e São Borja. As obras foram comandadas pelo general Horta Barbosa. A vila erguida na região foi batizada em homenagem à mãe do militar, a dona Unistalda.
Estância do Carneirinho, em Unistalda (RS)
Prefeitura de Unistalda/Divulgação
Viamão
Viu a mão? Pode ser que sim. Uma das hipóteses para o nome é uma referência ao avistamento de uma mão espalmada. Isso porque os cinco rios afluentes do Guaíba formariam uma mão sendo vista do alto. Outra possibilidade, segundo a prefeitura, seria uma variação de “ibiamon”, ou seja, terra dos pássaros ibias.
Existe também o relato de que o município ficaria na região de uma passagem entre montes, a via-monte. Outra versão diz que a cidade, vizinha a Porto Alegre, foi batizada em homenagem a Viamara, antigo nome da província de Guimarães, em Portugal.
Igreja Matriz de Viamão (RS)
Prefeitura de Viamão/Divulgação
Xangri-Lá
A praia do Litoral Norte do RS tem esse nome em razão da literatura. Shangri-La é um paraíso, nas montanhas do Himalaian retratado no livro “Horizonte Perdido”, do inglês James Hilton. Lá, a harmonia e a felicidade prevaleceriam entre os moradores.
Vista aérea de Xangri-Lá, com o Oceano Atlântico ao fundo
Prefeitura de Xangri-Lá/Divulgação
*Assistente sob supervisão do jornalista Gustavo Chagas.
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