Katy Perry faz história no Rock in Rio ao cantar com Cindy Lauper e mostra que seu brilho está preso ao passado

Havia um mistério no ar quanto à principal atração do dia no Rock in Rio dessa sexta-feira (20): qual versão de Katy Perry subiria ao Palco Mundo? A cantora do álbum “143” (lançado no mesmo dia do show), ou a popstar que marcou a década passada com vários hits potentes? Suspense que só surgiu porque, 15 anos atrás, ela vivia o auge de sua carreira, mas, agora, está imersa em uma crise — em termos artísticos, de sucesso e de reputação.

Para a alegria da multidão que assistiu à apresentação no Rock in Rio, porém, a cantora soube dosar bem suas apostas atuais e deu foco na nostalgia, além de cravar ali um momento histórico ao cantar ao lado de Cyndi Lauper. Foi um show emocionante. Bonito do começo ao fim.

Bem-humorado, o show começou com Katy prejudicada pelo som baixo (bem baixo), mas logo o áudio se ajustou. O público não ligou tanto para as músicas recém-lançadas, sendo “Lifetimes” a única exceção. Quem estava ali pirou mesmo com os hits clássicos.

A apresentação abriu ao som de “Woman’s World”, principal aposta de Katy para o disco “143”. Nos telões, um vídeo foi exibido com um compilado de imagens: a gestação de um feto, robôs no futuro, cientistas em laboratório, símbolos feministas e a frase “I love you” (“amo você”, em português).

A cantora surgiu suspensa, pendurada por cordas. Parecia uma borboleta — inseto que simboliza sua nova era e estava no centro do palco, em uma réplica inflável cor-de-rosa.

Ao contrário do videoclipe de “Woman’s World” — que sexualiza Rosie the Riveter, feminista do famoso cartaz “We Can Do It!”, de J. Howard Miller —, a apresentação da faixa não foi erotizada no palco. No máximo, contou com a típica sensualidade de Katy. Sexualizar um movimento que luta contra a objetificação feminina é, no mínimo, controverso.

Aliás, a própria existência de “Woman’s World” é ambígua. Sua letra traz uma visão rasa sobre o feminismo, e sua produção ficou nas mãos de Dr. Luke, acusado em 2014 de cometer “abusos sexuais, físicos, verbais e emocionais” contra a cantora Kesha, o que ele sempre negou. (Em 2023, os dois entraram num acordo que não teve os termos divulgados.) Lançada há mais de dois meses, a música vem manchando a nova fase da cantora.

Saindo da faixa-problema, Katy engatou em “California Gurls”, seu hit que cheira a algodão-doce e rendeu à cantora seu figurino mais famoso da carreira: os cupcakes acima dos mamilos.

Maiô futurista

O primeiro look de Katy no show foi um maiô futurista — reluzente na parte dos peitos e quadril, e bege no restante. Depois, surgiu com um corset em formato de borboleta, todo dourado. E por último, usou um body cintilante atravessado por um esverdeado tecido que lembrava uma cobra.

A artista apresentou “Dark Horse” (do disco “Prism”) e E.T. (de “Teenage Dream”) com um remix envolvendo “Gimme Gimme”, faixa de seu novo disco que tem semelhanças com os hits antigos — e reforça que, em certos momentos de “143”, Katy soa uma cópia mal feita de si mesma.

Depois, a energia diminuiu um pouco com outra canção do novo álbum: “Gorgeous”. O público entregou a mesma energia em faixas como “I’m his, He’s mine”, “Tucked” e “Teary Eyes”.

O momento mais emblemático do show — daqueles que marcam a história do próprio festival — foi quando Katy convidou Cyndi Lauper, cantora que horas antes havia se apresentado no mesmo palco. Juntas, elas cantaram “Time After Time”, do primeiro álbum de Cyndi, “She’s So Unusual” (1983).

Duas popstars de peso, de duas gerações diferentes, exaltando o new wave dos anos 1980 e o pop adolescente dos anos 2010. Lindo de ver e, sobretudo, sentir, coisa que a plateia deixou claro.

“Eu quero ser exatamente como você. Você é tão incrível, tão conectada, tão cheia de vida, cheia de energia. Eu te vi deitando no chão. Absorvendo tudo”, disse Katy a Cyndi.

“Você teve uma carreira tão longa, linda, bem sucedida, e há tantos sentimentos que acompanham. Sempre há alguém te admirando e você é sempre a estrela guia de todos. Mas o que eles não percebem é que eles também são nossas estrelas guias.” A guitarrista de Cyndi também se juntou ao palco, ao lado da guitarrista da popstar. As informações são do G1.

 

 

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