Não espere para reclamar no ano que vem

Quem ouve alguns minutos a propaganda eleitoral fica com a impressão de que está morando em Tóquio, Singapura, Zurique ou Viena, as cidades mais limpas e perfeitas do mundo para os seus cidadãos. Aqui, em Porto Alegre, o candidato à reeleição garante estar no rumo da cidade ideal, tal o nível exagerado de promessas ‘caça’ votos. Nem parece que saímos de uma enchente fantástica que deixou grande parte da cidade alagada, com milhares de flagelados, prejuízos grandiosos para quem foi e para quem não foi atingido pelas águas. Foi o maior dos horrores que já vivemos em 2024, grande parte por culpa deste cara da propaganda. Exclusivamente dele.

Ele não fez manutenção nos diques, nas casas de bomba, não trocou os parafusos e pinos das portas de contenção de água, não mandou conferir os bueiros, todos trabalhos de rotina de uma grande metrópole. A recuperação anda a passos de tartaruga. Basta visitar bairros como Humaitá e Sarandi, Belém Novo, e tantos outros completamente destroçados pelas águas. 

Porto Alegre não é a cidade ideal propagandeada porque por aqui falta água com tanta frequência em certos bairros que é até difícil saber exatamente quando há abastecimento. Falta luz – se bem que isso não é atribuição municipal – com qualquer ventinho que sopra de qualquer lado. 

A sujeira é o grande hóspede da cidade. Em qualquer lugar. É tão suja que proliferam ratos e baratas em tantos lugares que até é difícil enumerar todos eles. O Centro Histórico é um deles. Os bueiros estão entupidos e dali brotam estas pragas como se fossem moradores fixos. E são. Os contêineres estão em estado lamentável – sujos, quebrados, quase inviáveis. E as lixeiras existem a cada ‘100 quilômetros’ uma da outra.

Aliás, o Centro continua com as tais obras de embelezamento e revitalização. Não terminam nunca.  Nem sei quando começaram e não tem prazo definido para serem entregues. Trancam tudo. Os comerciantes sofrem prejuízos incalculáveis. E as pessoas até estão desistindo de ir passear ou fazer compras por lá. O Mercado Público ainda está com obras. Não foi totalmente recuperado. A Avenida Mauá, um dos portões de entrada da cidade, é um caos. Prédios estão caindo aos pedaços, sujos. Ninguém quer morar por ali.

Saúde, creches

Nem se fala na saúde. A gente perde um dia inteiro, ou um turno inteiro, para ter atendimento nos postos. Nada funciona emergencialmente. Para não ser injusto, o HPS funciona e alguns postos também, mas sempre há espera.

As crianças também vão viver na cidade ideal prometida pelo tal candidato. Um novo hospital só para elas será construído. Vai ter vaga nas creches. Talvez até fique sobrando, tal o número de creches que serão construídas e oferecendo vagas em vários cantos da cidade.

Porto Alegre é uma cidade bonita? Alguns lugares são, todo mundo sabe. Orla, pôr do sol e mais algumas coisas. Atrativos culturais têm, o que não tem é estímulo para novas ofertas. Mas a cidade está feia. Sim, muito feia. Avenidas de grande extensão, como Farrapos, Assis Brasil, perimetrais, estão horrorosas. Calçamento e piso de rolamento em péssimo estado. Prédios feios, pichados, caindo aos pedaços.

O meio ambiente é tratado com desdém. Dizem que está em andamento pela cidade um ‘arboricídio’. Árvore que está atrapalhando novas obras é logo vítima das motosserras. As construtoras se adonaram de todos os espaços interessantes e os espigões proliferam com a velocidade da luz. Vai ter água e esgoto para tudo isso? Uma empresa anuncia que já vendeu mais de 400 unidades de um futuro empreendimento na beira do Guaíba. Não acredito. Quem vai querer morar por lá? Enfrentar de peito aberto uma nova enchente?

A cidade perfeita que este candidato projeta é de arrepiar. Como se sabe que quase nada disso vai acontecer, você, prezado eleitor, está sendo ludibriado. O cara que faz, que trabalha, que se diz pardo, que usa chapéu de palha e chinelo de dedo e tem os pés rachados de tanto trabalho, seria o prefeito ideal para comandar a cidade nota dez? 

Ao andar pelas ruas, entrevistar gente das ruas, ver coisas nas ruas, se observa uma insatisfação geral. Há também dramas que inquietam em questões do transporte, educação, iluminação pública. Caos, escuridão. Fora outras coisas, como escândalos na compra de livros e aplicar dinheiro no mercado financeiro, ao mesmo tempo em que a cidade sente carência no abastecimento de água.

Se a cidade está ruim, mal cuidada, não tem um zelador, um gestor eficiente dos serviços públicos, um sujeito que protege os cidadãos, mude de prefeito. É o que podemos fazer nos dias 6 e 27 de outubro, datas dos dois turnos eleitorais. Não espere para chorar e reclamar no ano que vem. Vai ser tarde demais!

 

* Jornalista

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


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