PT vai apoiar “forças antibolsonaristas” no segundo turno, mesmo que candidato seja de direita

O PT vai apoiar o que chama de “forças antibolsonaristas” no segundo turno das eleições municipais. Nas cidades onde foi derrotado na primeira rodada da disputa, como em Belo Horizonte (MG), o partido orientará o voto e participação em campanhas de candidatos que se opõem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo que o nome seja de direita.

Na capital mineira, o partido recomenda o apoio ao prefeito Fuad Noman (PSD), que concorre à reeleição e tem como adversário o deputado Bruno Engler (PL), aliado de Bolsonaro.

O deputado Rogério Correia, candidato derrotado do PT, ficou em sexto lugar na eleição em Belo Horizonte. Saiu magoado com a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha. Dias antes do primeiro turno, Correia disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o vereador Álvaro Damião (União Brasil), vice na chapa de Fuad, é um fervoroso “anti-Lula”.

Mas o acordo entre o PT e o PSD de Gilberto Kassab – que em São Paulo respalda a candidatura de Ricardo Nunes (MDB) – tem na mira as eleições de 2026. Lula também quer apoiar um nome do PSD – o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco – ao governo de Minas, segundo maior colégio eleitoral do País. Em contrapartida, tenta fechar uma aliança com o PSD para sua campanha a novo mandato, daqui a dois anos.

Neste primeiro turno, o PT elegeu 248 prefeitos, em todo o País, e sofreu derrotas importantes. Nas eleições de 2020, por exemplo, conquistou 183 prefeituras, mas, após trocas partidárias, chegou a 265, como conta de documento produzido pelo Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) em setembro.

Das quatro capitais onde agora disputa o segundo turno, o PT tem chance de vitória em Fortaleza, de acordo com pesquisas de intenção de voto. Lá, Evandro Leitão, que trocou o PDT pelo PT, enfrenta o bolsonarista André Fernandes (PL), investigado por participar dos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Lula desembarcará na sexta-feira (11), em Fortaleza, para entregar moradias do Minha Casa, Minha Vida. A cúpula do PDT até hoje critica o presidente por ter ido à convenção que oficializou Leitão, quando o prefeito da cidade, José Sarto, filiado ao partido, concorria a novo mandato. O PDT compõe a base de sustentação do governo Lula no Congresso. Sarto ficou em terceiro lugar e foi o primeiro prefeito de Fortaleza a não ser reeleito no cargo.

As outras capitais onde o PT concorre são Porto Alegre, Natal e Cuiabá. A maior aposta do PT, porém, está em São Paulo, onde a sigla se aliou ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, contra Ricardo Nunes. Trata-se de uma eleição difícil para o campo da esquerda.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, avalia que a campanha de Boulos também deve ir atrás dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), candidato que ficou em terceiro lugar, com 1.719.274 votos.

“A eleição em São Paulo será fratricida e a gente tem de disputar esse eleitor. Não podemos deixá-lo largado”, disse Gleisi. Na avaliação da deputada, nem todos os que optaram por Marçal são bolsonaristas. “Tem pessoas que votaram nele não pela questão ideológica, mas, sim, pelo estilo mais anarquista”, observou ela.

Marçal apresentou um laudo médico falso, a dois dias da votação, para sustentar que Boulos consumia drogas. Na disputa mais acirrada dos últimos tempos, na capital paulista, uma diferença de apenas 56 mil votos separou Boulos de Marçal.

Gleisi discorda da avaliação de que o PT teve desempenho desastroso neste primeiro turno. “Quando a esquerda foi a grande vencedora das eleições municipais?”, perguntou. “Quem sempre fez mais votos nas eleições locais foram partidos de centro para a direita porque é onde eles têm força política.”

O PL de Bolsonaro, porém, passou de 4,7 milhões de votos para prefeito, em 2020, para R$ 15,7 milhões nesta primeira rodada da disputa, um crescimento de 236,2%. O PT, por sua vez, saiu de 6,9 milhões para 8,9 milhões de votos. (AE)

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