Partido do ex-presidente Jair Bolsonaro se assemelha em perfil com o que o PT foi antes de chegar pela primeira vez ao poder

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro sai das urnas como o partido menos dependente dos pequenos e médios municípios para garantir sua relevância. O partido saiu das urnas no domingo com um prefeito de cidade média (entre 50 a 200 mil eleitores) para cada seis das cidades com micro e pequenos eleitorados (até 50 mil eleitores).
Apenas o Podemos, um partido de direita sem uma referência política nacional, tem perfil semelhante entre os 12 que mais elegeram prefeitos. O levantamento feito pelo Valor Data não considera os 103 municípios com grande eleitorado, acima de 200 mil habitantes, já que haverá segundo turno para 50 deles.

O PSD foi o partido que mais atraiu filiações de prefeitos durante a janela para troca de filiação partidária, encerrada em abril. O movimento foi forte sobretudo em São Paulo, em que a maior parte da base que estava no PSDB migrou para a sigla de Gilberto Kassab, secretário de Governo e coordenador político de Tarcísio.

Nos grandes municípios o PL já conquistou dez e disputa o segundo turno em outras 23. A depender da sua taxa de sucesso, se caracterizará como um partido dos grandes centros urbanos, bem distribuído em todo País à exceção do Nordeste, um pouco parecido com o que o PT foi entre os anos 90 e o fim do primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2006. A conquista feita pela sigla de municípios médios já aponta para essa direção.

O que o PL não se tornou nessa eleição é dominante em muitos Estados. A sigla está capilarizada onde governa, como na Santa Catarina de Jorginho Mello e no Rio de Janeiro de Claudio Castro, mas em São Paulo e Minas Gerais , Estados que reunem 27% dos municípios do País, o PSD prevalece na maioria das faixas das cidades até 200 mil eleitores.

O PL é o quinto em Minas Gerais entre os micromunicípios ( até 10 mil eleitores) e o sexto entre os pequenos ( entre 10 mil e 50 mil eleitores). Nos médios municípios, divide o protagonismo com o PSD. Em Minas, o governador Romeu Zema (Novo) optou por um modelo diferente do adotado por todos os seus colegas e não criou uma base zemista. Tem o apoio de siglas como o Republicanos, o Podemos e o próprio PL, mas com compromisso para 2026 ainda a ser pactuado.

Em São Paulo, o PL fica atrás do Republicanos e do PSD entre os menores municípios e perde do PSD entre os pequenos e mesmo entre os médios. Isso mostra que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se apoia em uma federação de partidos para governar, e não no PL. Tarcísio e Bolsonaro politicamente estão juntos, mas o primeiro depende menos do segundo no momento.

O PL está forte também no Paraná, mas também não prevalece sobre o PSD do governador Ratinho Júnior. É o terceiro partido entre micro e pequenos municípios e o segundo entre os médios. Os dois partidos estão coligados em Curitiba, em torno de Eduardo Pimentel (PSD), vice-prefeito, mas Bolsonaro fez um jogo duplo, fazendo acenos para a jornalista Cristina Graeml (PMB), o equivalente local ao fenômeno de Pablo Marçal, terceiro colocado na eleição paulistana.

Na Bahia, o grupo político comandado pelo PT perdeu as eleições nos grandes e médios municípios, mas seria precipitado por esse resultado entender que o ciclo de poder aberto por Jaques Wagner em 2006 e atualmente gerenciado por Jerônimo Rodrigues está em seu último giro. Nos micro e pequenos municípios, o PSD predomina, junto com o próprio PT e com o Avante, um partido nanico na maior parte do Brasil mas forte no cenário baiano, e do mesmo modo que o PSD, parceiro local dos petistas.

O União Brasil do ex-prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto ainda vem atrás do PP e do MDB entre os municípios menores. Na Bahia o PL não existe entre os municípios abaixo de 200 mil eleitores.

No Rio Grande do Sul o PP e o MDB se mantêm como os partidos dominantes em todas as camadas no Estado, colocando em segundo plano tanto o PT de Lula, quanto o PL de Bolsonaro, quanto o PSDB do governador Eduardo Leite. O PL contudo aparece com força entre as cidades médias e tende a ter predomínio entre as grandes. Venceu em Canoas e Caxias do Sul, foi ao segundo turno em Pelotas e disputa a vice de Porto Alegre na chapa de Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição. Na dinâmica eleitoral gaúcha é comum a vitória de candidatos a governador que foram prefeitos em grandes centros ( Olívio Dutra em 1998, Tarso Genro em 2002, Germano Rigotto em 2010, Pedro Ivo Sartori em 2014 e Leite em 2018).

 

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