Porto Alegre tem dia sem chuva, mas com frio recorde; Guaíba sobe, avança sobre ruas e tira mais pessoas de casa


Lago Guaíba chegou a 5,23 metros, mas há tendência de estabilidade para os próximos dias, afirma a UFRGS. Termômetros marcaram 10°C na capital, com previsão de mais frio na semana. Vista da Orla do Guaíba, em Porto Alegre, na tarde de 14 de maio de 2024
Reprodução/RBS TV
Mesmo sem chuva, Porto Alegre viu o Lago Guaíba aumentar seu nível em 21 centímetros nas últimas 24 horas, alcançando 5,23 metros no final da tarde desta terça-feira (14). A capital ainda registrou seu dia mais frio no ano, com 10°C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
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Pela manhã, o avanço das águas provocou a evacuação de mais um bairro na Zona Sul da cidade, atingido pela alta do Guaíba – cuja cota de inundação é de 3 metros. De acordo com a Climatempo, a previsão para esta quarta (15) é de 8°C de mínima em Porto Alegre.
Rios como o Caí e o Taquari – que desaguam no Guaíba – apresentaram baixa ao longo do dia. No Sul do estado, o nível da Lagoa dos Patos ainda preocupa.
Conforme o último boletim da Defesa Civil, divulgado pela manhã, o estado registrava 148 mortes em razão dos temporais e cheias. São 124 pessoas desaparecidas e 806 feridas. Além disso, o RS soma 615 mil pessoas fora de casa – número maior do que a população de oito capitais brasileiras.
Autor de livro sobre enchente de 1941 ficou ilhado
Evacuação do Lami durante enchente em Porto Alegre
RBS TV/Reprodução
Porto Alegre: frio e Guaíba subindo
O Lago Guaíba segue alternando momentos de elevação e de estabilidade nesta terça-feira. O nível chegou a 5,23 metros durante a tarde, 14 centímetros a menos que a marca histórica (5,35 metros), registrada na última semana.
Com isso, as águas voltaram a avançar sobre ruas em Porto Alegre. Uma das áreas atingidas foi a do bairro Lami, na Zona Sul da cidade. Logo cedo, os moradores da região precisaram deixar para trás as suas casas, com água gelada já na canela.
No total, já são mais de 14 mil pessoas em abrigos em toda a capital, e o frio deixa essa população ainda mais vulnerável.
“Está frio demais, tu sem nada nos pés porque tu está aqui, é ser humano, né, gente? Corre atrás e luta porque, se a gente não fizer alguma coisa… Não tem o que fazer, vamos embora, é o povo ajudando o povo. Então, vamos correr atrás”, conta a empresária Simone de Lorena, que ajudava vizinhos a sair de casa no Lami.
Foi no bairro Lami, que o motoboy Geovane de Oliveira, de 31 anos, atendeu ao pedido de socorro de um amigo para resgatar nove gatos e um cachorro que ficaram dentro de uma casa alagada pela cheia do Guaíba. Imagens gravadas pelo amigo mostram Geovane enfrentando ondas, formadas pela enchente no lago, para conseguir retirar os animais em segurança (veja o vídeo abaixo).
Morador enfrenta ondas da enchente do Guaíba para salvar gatos em Porto Alegre
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chegou a estimar que o Guaíba alcançasse 5,5 metros. Mas a atualização mais recente das projeções afastou, por enquanto, essa possibilidade.
“Os cenários de previsão indicam estabilização em nível elevado acima dos 5 metros após o repique. Indicam recessão lenta nos próximos dias ficando acima de 4 metros durante esta semana”, dizem os pesquisadores.
O professor Fernando Dornelles, do IPH, afirma que a situação do Guaíba “depende das condições [meteorológicas e de infraestrutura]: vento, chuva, se as estações [de bombeamento de água] estiverem em funcionamento”.
“São variáveis que prejudicam a modelagem”, comenta.
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Imagem desta terça (14) mostra alagamento no bairro de Serraria, na zona sul de Porto Alegre
Diego Vara/Reuters
O corredor humanitário, construído de forma emergencial para acesso alternativo à capital, está sendo ampliado em 300 metros do outro lado da pista, na região da Rodoviária. A ampliação vai permitir com que veículos de emergência circulem tanto para ingressas quanto para sair do Centro Histórico com maior facilidade. Atualmente, os dois sentidos funcionam na mesma pista.
Desde que começou a operar, na sexta-feira (10), o trecho registra tráfego médio de 100 veículos por hora. O caminho foi estruturado para agilizar o abastecimento dos serviços essenciais da cidade, como oxigênio, água, alimentos e equipamentos de emergência. O trajeto liga a área central de Porto Alegre, pelo Túnel da Conceição, à Avenida Castelo Branco e à BR-290 (Freeway).
Abertura de nova pista no ‘corredor humanitário’ em Porto Alegre
Julio Ferreira/PMPA
Em São Leopoldo, o Sinos atingiu a marca de 6,76 metros (a maior dos últimos 15 dias foi de 8,09 em 4 de maio).
Os bombeiros encontraram um cavalo no terceiro andar de um prédio residencial do município. Os socorristas não souberam dizer como o animal chegou lá. Como a água não atingiu a altura do apartamento, existe a hipótese de que alguém colocou o cavalo no local ou que ele se abrigou por conta no imóvel.
Cavalo em apartamento no terceiro andar de prédio em São Leopoldo
Pietro Oliveira/RBS TV
O Rio Gravataí chegou a 5,83 metros na cidade batizada com o mesmo nome. O máximo registrado pelas autoridades foi de 6,23 metros em 6 de maio.
Caí, Taquari e Jacuí
O monitoramento do governo do RS mostra que os rios Caí, Taquari e Jacuí, que encheram nos temporais do final de abril e no último final de semana, voltaram a recuar.
Na cidade de Cruzeiro do Sul, a prefeitura afirma que 95% do comércio foi destruído. Em Estrela, no Vale do Taquari, cerca de um terço da população de 32,1 mil pessoas está fora de casa. A baixa do rio permitiu ver os estragos da nova enchente. A ponte da BR-386, entre o município e Lajeado, registra longas filas de veículos que transitam pela região.
Cidades do Vale do Taquari estão contabilizando prejuízos com a enchente histórica
Parte do bairro Hidráulica, em Lajeado, voltou a ficar alagada com as águas do Rio Taquari na madrugada de domingo (12) para segunda-feira (13). Com a baixa da água, o vendedor Diego Brizola, de 33 anos, usou uma mangueira para limpar a calçada da rua enquanto sua mãe, Maria, varria a lama para o mais longe que podia do seu sobrado laranja.
“Aqui a água está baixando. Uma hora ela abaixa um pouco, 15, 20 centímetros. É isso aí, não tem o que fazer, é baixar a cabeça e trabalhar”, lamenta Brizola, ao dizer que teve ao menos R$ 50 mil de prejuízo com as enchentes.
‘Não tem o que fazer, é baixar a cabeça e trabalhar’, diz homem atingido pelo Rio Taquari
Lagoa dos Patos
O nível da Lagoa dos Patos em Rio Grande é de 2,39 metros, 49 centímetros acima do cais. O vento deve dificultar que a água escoe em direção ao oceano.
“A tendência é que, nos próximos dias, o nível da lagoa volte a aumentar um pouco. Esses níveis de inundação estão oscilando bastante”, diz Eduardo Secchi, oceanógrafo da FURG.
Cheia da Lagoa dos Patos alaga ruas em Rio Grande
Reprodução/RBS TV
A Prefeitura de Pelotas decretou situação de calamidade em razão da cheia na Lagoa dos Patos e no Canal São Gonçalo. A Praia do Laranjal é uma das áreas mais afetadas do município. O avanço das águas atinge as comunidades do Pontal da Barra, da Colônia de Pescadores Z3 e os balneários Santo Antônio e Valverde.
“Precisamos ter também a declaração municipal para que isso nos dê acesso a recursos públicos e também para que favoreça as pessoas atingidas, enfim, pelo evento climático, pessoas que estão em abrigo, que tiveram que sair de casa, para que possam acessar, por exemplo, o fundo de garantia”, diz a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB).
Cheias no RS: Pelotas decreta calamidade pública
Resgatados
A Defesa Civil do RS já registra 76.483 pessoas e 11.002 animais resgatados desde o início dos temporais e cheias.
Das mais de 2,1 milhões de pessoas afetadas, cerca de 35 mil são refugiados que vieram recomeçar a vida no Brasil. A estimativa é da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Segundo a agência, esse é o contingente de pessoas que foram atingidas direta ou indiretamente pela tragédia.
“Estas pessoas informam que perderam casas, pertences e documentos, com negócios e outras atividades de geração de renda destruídos pelas águas”, informa a Acnur.
Na cidade de Bento Gonçalves, na Serra, socorristas atuam em uma espécie de quartel-general montado na paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Faria Lemos. Por lá, o espaço que antes servia para comemorações de casamentos, de batizados ou da tradicional desta de Santo Isidoro, agora recebe voluntários e profissionais que tentam encontrar vítimas das chuvas.
Segundo o padre Adelar Zanetti, o espaço que foi construído pela comunidade tem funcionado como um porto seguro para as vítimas e para os socorristas.
“Temos reunidos aqui os bombeiros do Rio Grande do Sul, tem bombeiro do Tocantins, da Bahia, do Rio de Janeiro, Distrito Federal. Temos também geólogo que vieram do Rio de Janeiro”, fala.
Veja como é o quartel general montado em igreja de Bento Gonçalves
O cavalo Caramelo, que foi resgatado de cima do telhado de uma casa em Canoas, superou o quadro de desidratação, mas ainda precisar recuperar o peso que perdeu durante o período em que ficou ilhado. A estimativa do Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), onde o animal segue o tratamento, é de que ele tenha chegado ao local com 50 kg abaixo do ideal.
A rotina de cuidados veterinários de Caramelo inclui alimentação, observação e exames de sangue. Não há mais necessidade de medicamentos, como o soro antes administrado para repor os líquidos. Conforme a equipe que acompanha o animal, “todos os parâmetros estão dentro da normalidade”.
Registro do cavalo Caramelo no Hospital Veterinário da Ulbra
Marcelo Monteiro/Ulbra
Ação federal
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandou na manhã desta terça-feira uma reunião com ministros no Palácio do Planalto para definir outro pacote de medidas de socorro ao Rio Grande do Sul. Inicialmente, havia a previsão de anúncio de novas medidas na tarde desta terça-feira. Entretanto, a divulgação foi adiada para esta quarta-feira (15).
Segundo o Palácio do Planalto, o adiamento foi necessário porque Lula pretende fazer os anúncios juntamente com os presidentes dos outros Poderes da República. Existe a possibilidade de os anúncios serem feitos durante visita de autoridades ao Rio Grande do Sul.
A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, ou Banco do Brics+), hoje presidido por ela, vai ajudar, com R$ 5,75 bilhões, no financiamento de obras de reconstrução do Rio Grande do Sul.
“O Novo Banco de Desenvolvimento vai destinar R$ 5,750 bilhões para o estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de reconstruir a infraestrutura urbana e rural nos municípios atingidos pelas fortes enchentes ocorridas desde o final de abril e ajudar na retomada da vida gaúcha”, diz Dilma.
Banco do Brics vai destinar R$ 5,7 bi à reconstrução do RS, diz Dilma
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