Estudo aponta que 14 clubes da Série A, inclusive o Inter, ultrapassam os seus limites de gastos

Os grandes aportes alocados em clubes do futebol brasileiro, seja por transformações em SAFs, inflacionados patrocínios de bets – as famosas casas de apostas on-line -, ou até mesmo o atraso no pagamento das contas, aquecem a discussão sobre Fair Play Financeiro. Apesar de o assunto não ser uma novidade, não há um modelo em vigor no País para que seja possível delimitar quais regras são desrespeitadas. A intransigência no debate por uma liga unificada contribui para a materialidade do tema ficar cada vez mais distante.

Por meio do economista Cesar Grafietti, a Convocados, consultoria de investimentos especializada no mercado do futebol, desenvolveu um modelo de Fair Play Financeiro a ser aplicado no País. O projeto foi entregue à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2019, e foi atualizado após a criação da Libra, em 2023, antes da cisão que originou o bloco antagonista Liga Forte União (LFU).

A partir da edição 2024 do “Relatório Convocados”, publicado em parceria com as gestoras Galápagos e Outfield, é possível ter uma ideia de quais clubes estariam atuando dentro do Fair Play Financeiro. A base do ranqueamento vem de demonstrativos financeiros oficiais e auditados dos próprios clubes. A consultoria, então, desenvolveu índices para monitorar e avaliar o equilíbrio da condição econômico-financeira de cada um.

Os índices combinados geram uma nota (rating). A situação equilibrada é medida por meio de uma régua de corte da demonstração financeira. Segundo a Convocados, a volatilidade da economia brasileira gera fenômenos como oscilação de câmbio, renda, inflação e PIB, por exemplo, impactando nos demonstrativos. Assim, a forma de controle das informações precisa ser mais ampla, por meio dos seguintes índices:

– Performance: conforme Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA, da sigla em inglês) e a EBITDA Recorrente;
– Alavancagem: por meio do controle de dívidas totais e de curto prazo em relação às receitas;
– Investimentos: para monitorar se os clubes estão operando em situação de conforto ou risco.

A relação foi desenvolvida por meio dos balanços dos clubes brasileiros nos últimos 12 anos. A partir dessa base de dados, foram delimitados os índices para monitorar gastos compatíveis com as receitas, endividamento compatível com a capacidade de pagamento e investimentos dentro das possibilidades dos clubes, por exemplo. Cabe ressaltar a necessidade de os modelos serem continuamente ajustados. Os números referentes à 2024 serão publicados no primeiro semestre do próximo ano.

Levando em consideração os índices apresentados, apenas seis clubes do futebol brasileiro estariam jogando dentro das regras do Fair Play Financeiro: Flamengo (AAA), Athletico Paranaense (AA), Red Bull Bragantino (AA), Cuiabá (A), Grêmio (A) e Palmeiras (A). Equipes classificadas com “B” também estariam dentro das normas, mas o estudo não apontou nenhuma com essa nota.

Outros 14 clubes da primeira divisão de 2023 estariam fora dos conformes: Corinthians (C), Fortaleza (C), Goiás (C), São Paulo (C), América-MG (D), Atlético-MG (D), Bahia (D), Botafogo (D), Coritiba (D), Cruzeiro (D), Fluminense (D), Inter (D), Santos (D) e Vasco (D).

São analisados os índices financeiros, sintetizados em custos, dívidas e alavancagem, junto do desempenho esportivo de cada clube. No caso do Flamengo, único com AAA, as receitas apontavam crescimento, com venda de atletas. Isso compensou o desempenho esportivo abaixo da temporada. Os custos não tiveram destaques, enquanto a geração de caixa foi definida como “absurda para um clube de futebol”. Boa parte é utilizada em capital de giro, mas ainda há margem para investimento no elenco – como foi feito em 2024 – e quitação de contas a pagar.

O Palmeiras, apenas com A, teve receitas com menor crescimento, impactado pela redução de valores de direitos de transmissão e comerciais. Os custos cresceram, atrelados a contratações, mas também houve geração de caixa com vendas de jogadores, o que aponta para bom controle da operação.

Por outro lado, o clube consumiu R$ 87 milhões de antecipações (o que significou menos entrada de caixa pelas receitas em 2023). A geração de caixa na atividade foi suficiente para cobrir quase todas as necessidades do ano, como investimentos, pagamentos de coligadas e outras movimentações. A necessidade adicional de caixa foi coberta por bancos (R$ 37,6 milhões), dentro da capacidade de gestão do clube. A avaliação é boa, mas, conforme a análise do relatório, apenas com a nota A.

 

 

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