Enchentes e 2º pior índice de educação do país pautam último debate pela Prefeitura de Porto Alegre

Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB) se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno no domingo (27). O debate foi promovido pela RBS TV nesta noite de sexta-feira (25). Durante uma hora e quarenta minutos, os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre debateram temas como educação, saúde, mobilidade urbana, habitação, infraestrutura prevenção aos desastres climáticos e finanças públicas. Além da Capital, a emissora também transmitiu os confrontos de Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria.

O encontro foi dividido em quatro blocos. Na primeira e terceira parte um candidato fez perguntas para o outro participante com tema livre. No segundo e quarto bloco um candidato pôde fazer perguntas para o outro, mas com temas determinados pela produção do programa.

O tema da corrupção voltou à tona como aconteceu nos debates anteriores. Rosário lembrou dos casos de desvios na educação, do desmonte na assistência social e o caso das enchentes. Melo insistiu na afirmação de que Rosário está longe de Porto Alegre, por conta da sua atuação como deputada em Brasília. “A senhora não está em Porto Alegre, está em Brasília, a senhora está desinformada.”

Por diversas vezes Melo recorreu a colocar a responsabilidade no PT e no Governo Federal. E afirmou ser um prefeito do diálogo e não radical.

Futuro da cidade

Maria do Rosário começou o primeiro bloco destacando sobre o futuro da cidade e resumindo o que pretende para a cidade. “Não quero uma Porto Alegre que as pessoas tenham que mudar para viver. Trago propostas para a cidade mudar. Eu trago a mudança.”

Em sua fala indagou a Melo se Porto Alegre havia piorado. Rosário elencou quesitos como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), alagamentos e casos de corrupção. “O senhor concorda que a cidade piorou ou melhorou nesses quesitos?”.

Em resposta, Melo afirmou que a educação é um desafio do Brasil e da cidade. “Nós acolhemos 7 mil crianças de 0 a 5 anos. Isso nunca teve na cidade. Esse governo nomeou mais de mil professores, além de mais de mim temporários. Investiu em aumento de contraturno e nas conveniadas. Sou o primeiro a reconhecer que devemos melhorar no Ideb.” Falou que o PT passava crianças sem saber ler e escrever. “Esse problema vem de governos anteriores.”

“O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não existia no tempo que o PT governava. Ele surgiu no governo Lula. Não tem como fazer essa comparação. Entre o começo do seu governo e o fim a nota piorou no Ideb. Por quê?”, perguntou Rosário.

Ainda no primeiro bloco, Melo afirmou não ter ladrão de estimação. “Na corrupção do seu partido eu não vi sua indignação. A senhora vem só contra a cidade, contra as pessoas, radicalismo. A senhora quer estatizar.”

Rosário pontuou sobre o desmonte da Fasc, o caso da pousada Garoa e o desvio de verba dentro do DMAE. “Eu apresento fatos e contra fatos não há argumentos. As crianças que você colocou na creche foram determinação da justiça. O senhor não fez creches novas e não colocou essas crianças na escola. O senhor não demitiu a secretária de educação (acusada de corrupção), ela se demitiu.”

Rosário afirmou que Sebastião Melo “faz negócios vinculados a interesses privados”. Melo afirmou ter no DNA da sua gestão a parceria e o empreendedorismo. “A senhora é do governo do estatismo.”

A Carris novamente se tornou tema de discussão. “Eu sou o governo que defende a Carris, uma empresa criada ainda no período imperial. O atual governo conseguiu acabar com uma das melhores empresas de transporte do Brasil, já premiada mundialmente. Isso diminui a qualidade de todo o sistema de transporte coletivo”, afirmou Rosário.

Ela também lembrou do estado das bombas e da rede de proteção de Porto Alegre contra as enchentes. Melo tentou mudar a narrativa de que o problema de alagamento de Porto Alegre foi por conta das bocas de lobo. Ele culpou as mudanças climáticas.

Mobilidade Urbana

No segundo bloco, Melo escolheu o assunto Mobilidade Urbana. “Há três anos a gente não aumenta a passagem. Colocamos ônibus novos e frotas de ônibus elétricos. O seu programa falou de passagem zero. Quando o PT governa, aumenta imposto. Gostaria de debater sobre isso.”

Rosário ressaltou que o debate é sobre Porto Alegre e não sobre o PT. “Quem pega ônibus sabe que o tempo de espera é imenso, assim como o de viagem. Tiraram mais de cem linhas. Pessoas acabaram tendo que pagar duas passagens para chegar perto de casa. Nosso programa é colocar a EPTC olhando o horário dos ônibus. O senhor tirou a passagem escolar, o passe livre do idoso. Não vamos criar taxa nenhuma. Vamos garantir a possibilidade do passe livre, que é possível trocando o valor do vale transporte para um fundo público. Vai ter passagem escolar”, afirmou.

Melo novamente acusou Rosário de faltar com a verdade. “Estudantes de baixa renda têm 100% de isenção de passagem escolar. Para manter a passagem em R$ 4,80 por três anos eu tive que ter coragem.”

Melo ainda afirmou que não dá dinheiro para empresários ou deputados e que direciona recursos para o trabalhador. “Continuarei investindo recursos públicos para garantir uma passagem acessível e um sistema de transporte cada vez melhor para o cidadão.”

Rosário lembrou que em 2020 eram cem mil pessoas que usavam a passagem de estudante e que atualmente são 20 mil. “Minha proposta é implementar o passe livre estudantil. O Rio de Janeiro já tem esse benefício, assim como muitas outras capitais. Por que Porto Alegre não pode ter? O custo é de R$ 50 milhões.”

Melo novamente recorreu ao discurso de que se Lula bancar o 65+, consegue baixar a passagem para R$ 4. “Você pode pedir isso pra ele? Isso é dever do Governo Federal, não nosso”, rebateu.

Rosário falou que tem articulação federal para fazer mais por Porto Alegre.

Saúde

Ainda no segundo bloco o tema saúde veio à tona. Rosário em sua explanação lembrou que Porto Alegre é a cidade com maior índice de câncer de mama. “Sete mil mulheres estão na fila da mamografia. O senhor disse que não tinha nenhuma mulher na fila. No site da Prefeitura tem lá. É público. Nós somos a Capital que mais morre por câncer de mama. Quando o diagnóstico chega, segundo o IMAMA, 58% dos casos já estão em estágio avançado. Por que o senhor não resolve o tema da fila? Por que essa desumanidade com esses exames?”, indagou.

Melo afirmou que aumentou a atenção básica de saúde, que se tornou referência no tratamento do autismo. Ele disse que o compromisso é zerar a fila até o final do ano e que as mulheres precisam procurar os postos de saúde. 

Ainda sobre a saúde, a questão da vacina foi lembrada por Rosário. Melo alegou que Porto Alegre está sem a vacina da covid-19 para as crianças desde julho. Pediu para Rosário verificar isso.

“Agora, o senhor está pedindo vacinas ao Governo Federal, mas durante o governo Bolsonaro, o senhor defendeu a cloroquina e contribuiu para que muitas crianças não fossem vacinadas. Ajudou a desinformar a população sobre a importância da vacinação. Ainda bem que o senhor evoluiu; todos devemos evoluir. O senhor ficou ao lado dos negacionistas e queria abrir escolas no auge da pandemia, apoiando um governo que levou a 700 mil mortes”, afirmou Rosário.

Em resposta, Melo rebateu que negacionista é aquele que não reconhece a Capital que liderou a vacinação em todo o Brasil, vacinando pessoas de Viamão, Alvorada e Gravataí. “Fizemos o ‘rolê da vacina’, identificando onde as pessoas ainda não estavam vacinadas. Enquanto isso, nós reabrimos a cidade, algo que vocês não queriam fazer. Vocês queriam quebrar o comércio.”

Obras e infraestrutura

No penúltimo bloco Melo começou falando sobre infraestrutura.

Rosário afirmou que entre os seus projetos prioritários está a resolução do sistema de proteção contra cheias. “No projeto original não tinha um projeto pra zona Sul. Cabe ao Governo Federal o investimento. Mas cabe à Prefeitura fiscalizar o projeto.” Ressaltou que quer valorizar o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), assim como ouvir os técnicos e, recriar o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e reconstituir o comitê de bacia do Guaíba.

Melo afirmou que começará pela zona Norte. “Nós faremos um novo acesso no Porto Seco. Nós vamos fazer uma estrutura definitiva para o Carnaval com parceria público privada. Vendemos alguns terrenos, e parte desse dinheiro será utilizada para fazer uma parceria com o setor privado. Vamos terminar o projeto da Juca Batista que vai até Belém Novo. Obras de ponte para ligar da Ipiranga ao Jardim Carvalho. Também vamos mexer no sistema anti cheia. Eu busco soluções e não culpados. Nós temos que limpar o Guaíba como proteção contra cheias. Contratamos alguém para refazer o sistema. Vai apresentar o sistema da vila dos pescadores até o Lami.”

Em sua retórica, Rosário pontuou que o sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre é incomparável, mas citou cidades como Canoas e São Leopoldo que conseguiram lidar com a situação. “O senhor deixou a água acumulada por 30 dias nas áreas da Vila Farrapos, Humaitá e Sarandi. No 4º Distrito, os empreendedores perderam tudo. Quando o senhor diz que está fazendo algo, sinceramente, eu lhe perguntaria: por que o senhor não fez isso antes? Por que não limpou os bueiros e as bocas de lobo? Por que deixou R$ 450 milhões no DMAE e não realizou o trabalho necessário? Sua intenção era privatizar? Será que o senhor queria que nada desse certo?”, indagou.

Melo enfatizou que água não tem partido político e nem ideologia. Segundo ele, Porto Alegre foi uma das cidades que mais rapidamente limpou a situação após as cheias. “O sistema anti cheia é da década de 1960. Refazer o sistema antigo de forma emergencial e depois fazer um novo. “Os nossos diques do Sarandi deveriam ter entre seis e sete metros, mas têm apenas 4m20cm. A culpa é do prefeito Melo, da senhora ou dos governos do PT? Não. Porém, a responsabilidade pelo sistema é do Governo Federal, e nunca houve uma delegação formal para a gestão desse problema.”

Durante o bloco Rosário continuou batendo nos desvios de dinheiro público do governo Melo. Por sua vez, o prefeito novamente falou que de propina o PT é campeão. “O PT governou a cidade há 18 anos. O partido fez alguma coisa para mudar o sistema que está aí?”, indagou o emedebista.

Rosário ressaltou que vai valorizar o trabalho dos catadores. Melo reafirmou que não irá recriar o DEP.

Educação e finanças públicas

No último bloco as perguntas foram com temas determinados. Rosário começou o bloco indagando sobre a educação. “Qual o seu erro mais grave na educação? Por que chegamos nesse tempo tão triste da avaliação da educação de Porto Alegre?”

Melo afirmou que a educação é compartilhada com governo federal, governo estadual e os municípios. “Nós vamos melhorar a educação fazendo pactos. O primeiro desafio da educação municipal é zerar a fila do ensino infantil, e, nesse aspecto, este governo acertou bastante. Outro progresso que está atualmente no Tribunal de Contas é retirar da mão da diretora a responsabilidade por essa coisa difícil que é cuidar da escola, de telhados, goteiras e banheiros. Estamos propondo transferir o mesmo valor que hoje é gasto com o público e transferir para um privado para ele ser o cuidador.”

Rosário apontou que a sua proposta parte do trabalho com o professor e a professora. “Farei concurso com a guarda municipal para compor ao redor da escola para nunca mais a ação criminosa falar quando vai parar uma escola em Porto Alegre. Teremos o turno integral. Vamos buscar apoio do Governo Federal que tem recursos para isso. Vou desdobrar os convênios existentes e firmar novos com entidades, investindo mais em educação para garantir uniforme e alimentação para todos os alunos.”

Na sequência, Melo escolheu Finanças Públicas para fazer sua pergunta. Afirmou que seu compromisso, se for reeleito, é continuar a não aumentar impostos sempre que possível e, quando for viável, baixar impostos. “Não aumentarei a máquina pública e buscarei licenciar rapidamente, garantindo segurança jurídica para os empreendedores. Esse é o nosso jeito de governar: por meio do diálogo e da construção permanente.”

Por sua vez, Rosário afirmou que o licenciamento rápido resultou na tragédia da Pousada Garoa, que levou 12 pessoas à morte. “Eu vou continuar com o licenciamento rápido, mas para o que é viável; não vou aplicá-lo na assistência social, nem em situações que coloquem pessoas em risco. Valorizo a vida humana acima de tudo. A cidade está parada e perdendo receita no ICMS. Muitas pessoas estão se mudando de Porto Alegre.”

Melo ainda afirmou que assumiu a prefeitura em uma crise sanitária, em alusão a pandemia. Disse que muitos empresários não quebraram graças ao governo. “Vamos deixar a prefeitura mais leve.”

Já Rosário afirmou que trouxe pro Rio Grande do Sul R$ 3 milhões e que Melo não ajudou os empreendedores.

Além disso, Rosário ressaltou que a propaganda de Melo tentou manchar a sua história.

Em suas considerações finais, Melo defendeu que ele representa o governo que faz e Rosário que ela representa o governo da mudança e que tanto ela quanto Tamyres são moradoras de Porto Alegre desde crianças e conhecem bem a cidade.


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