Compositor de ‘Canto Alegretense’, Nico Fagundes faria 90 anos nesta segunda


Antonio Augusto Fagundes morreu em junho de 2015, aos 80 anos. Legado continua marcante na música, especialmente no cenário gaúcho. Galpão Crioulo Neto Fagundes Nico Fagundes
Fernando Alencastro/RBS TV
Graças a Nico Fagundes o Rio Grande do Sul tem clássicos como o “Canto Alegretense” no repertório tradicionalista gaúcho conhecido por todo o país. Se estivesse vivo, o compositor e cantor completaria 90 anos nesta segunda-feira (4).
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Antonio Augusto Fagundes, apelidado carinhosamente como Tio Nico pelos mais próximos, morreu em junho de 2015, aos 80 anos, mas seu legado continua marcante na música, especialmente no cenário gaúcho.
O folclorista ficou conhecido como o apresentador do Galpão Crioulo, programa da RBS TV que comandou por 30 anos. Em 2012, se despediu da atração, que passou a ser apresentada por seu sobrinho, Neto Fagundes, e Shana Müller. Veja abaixo a biografia completa.
Entre suas composições mais conhecidas, “Canto Alegretense” se destaca como a mais tocada do artista nos últimos 10 anos no Brasil, segundo informações do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).
Essa canção, que se tornou um hino não oficial do Rio Grande do Sul, é também a mais reinterpretada por outros artistas até hoje.
O impacto de Fagundes no meio musical pode ser visto no trabalho dos três intérpretes que mais gravaram suas músicas: seus sobrinhos Ernesto e Neto Fagundes e seu irmão Bagre Fagundes. Juntos, eles formaram, em 2001, o grupo Os Fagundes, que cooperou para perpetuar a obra de Nico.
Ao longo de sua carreira, Nico Fagundes deixou um extenso repertório, com 250 obras musicais e 123 gravações cadastradas na gestão coletiva de música do Brasil. Suas criações variam de composições solo a parcerias, com registros que vão de gravações originais a versões acústicas e shows ao vivo, presentes tanto em plataformas digitais quanto em mídias físicas.
O programa Galpão Crioulo do último sábado (2) relembrou a trajetória do cantor. Veja abaixo na íntegra.
Galpão Crioulo homenageia Nico Fagundes
O ‘Canto Alegretense’
A canção foi composta pelos irmãos Antonio Augusto “Nico” Fagundes e Bagre Fagundes entre 1979 e 1980. A música “bombou” na edição do BBB 24, na voz do participante Matteus, natural do Alegrete.
Conforme dados do Ecad, o “Canto Alegretense” foi a música mais tocada em shows realizados em Porto Alegre em 2023.
No entanto, não foi só no reality show que teve o “Canto alegretense”. O governador Eduardo Leite (PSDB) também cantou o “hino” em um evento político. Ainda, no Planeta Atlântida 2024, em fevereiro, Luísa Sonza foi ao palco com Neto Fagundes e interpretou a canção para os fãs.
Conheça a história da música ‘Canto Alegretense’
De acordo com o Ecad, os rendimentos das suas obras são garantidos aos seus herdeiros por 70 anos após a sua morte.
“Os direitos só podem ser repassados aos seus herdeiros se, além de continuar filiado à gestão coletiva da música no Brasil, os canais e espaços que utilizam músicas, como rádio, TV, cinema, estabelecimentos comerciais, plataformas digitais, casas de festas, shows e outros locais de frequência coletiva, pagarem pelo licenciamento musical”, explica o escritório.
O gerente regional do Ecad, Augusto Freitas, completa como o órgão recolhe o pagamento dos direitos autorais de músicas apresentadas em shows. A equipe do Ecad observa a realização de eventos a partir de anúncios nas redes sociais, mídias e jornais, além de realizar o trabalho de campo nos locais onde ocorrem as apresentações ou reproduções de músicas.
“Em Porto Alegre, não há tantas casas de shows. Então, o Ecad consegue um acesso mais facilmente. Além de shows e eventos, há também os locais que utilizam a música publicamente”, diz.
Entre esses locais, há feiras, festas, emissoras de rádio e televisão, plataformas digitais, lojas e todo tipo de estabelecimento comercial que utiliza a música com acesso a terceiros. Populares no Rio Grande do Sul, os centros de tradições gaúchas (CTGs) também são considerados usuários pelo Ecad.
O pagamento é prévio à utilização da música. O valor do direito autoral é cobrado pelo tipo de utilização e característica do local ou do evento. Já o repasse do pagamento dos direitos autorais é feito através das associações às quais os artistas são filiados.
Ranking de músicas de autoria de Neto Fagundes mais tocadas nos últimos 10 anos no Brasil nos principais segmentos de execução pública
Letra do ‘Canto alegretense’:
Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e de violão
Pra quem chega de rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de Uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no Rio Ibirapuitã
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
Biografia
Memórias: relembre momento inesquecíveis de Nico Fagundes no Galpão Crioulo
Nico Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1934, em Inhanduí, interior de Alegrete. Nico iniciou a carreira jornalística aos 16 anos, como cronista e repórter do jornal Gazeta de Alegrete. No mesmo período, começou a atuar na rádio local, apresentando programa humorístico e gauchesco. Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, editando diversos poetas.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre, onde ingressou no 35 CTG, a convite do poeta Lauro Rodrigues. No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal A Hora, no qual atuou durante muitos anos escrevendo a página Regionalismo e Tradição.
Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos, estudou folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha. Eleito Patrão do 35 CTG, tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do grupo Os Gaudérios, morando em Paris por quatro meses.
Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul. Contratado como ator pela TV Piratini, foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, mais tarde batizado de Os Gaúchos, do qual foi diretor durante 15 anos.
Em 1960, fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
Formado em Direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social, todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do RGS (UFRGS). Por todas essas suas qualificações, Antonio Augusto Fagundes é respeitado como autoridade em Folclore gaúcho, História do Rio Grande do Sul, Antropologia, Religiões afro-gaúchas, Indumentária gauchesca, Cozinha gauchesca e danças folclóricas.
Galpão Crioulo Neto Fagundes Nico Fagundes
Divulgação/RBS TV
Entretanto, a face menos conhecida deste intelectual é também sua face mais antiga, a de poeta. Ganhou prêmios e distinções importantes, como a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, a Comenda Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual é também advogado jubilado, e a Comenda do Mérito Oswaldo Aranha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de mais de 100 músicas, entre as quais, “O Canto Alegretense”.
Escreveu o roteiro do filme “Para Pedro”. Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme “Ana Terra”. Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme “Negrinho do Pastoreio”, com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme “O Grande Rodeio”, o qual também produziu e dirigiu.
Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. Em 1990, fundou e assumiu o comando do grupo Cavaleiros da Paz, com o qual empreendeu cavalgadas por diversos países da América do Sul. Quatro anos depois, assumiu a presidência do IGTF.
Na RBS TV, Nico apresentou o Galpão Crioulo por três décadas, de 1982 a 2012. Sua despedida da televisão foi marcada por uma edição comemorativa do programa, gravada com grandes nomes da música regionalista em Venâncio Aires. No ar, Nico foi substituído pelo sobrinho Neto Fagundes e pela cantora Shana Müller.
Em 2000, teve um acidente vascular cerebral (AVC), e chegou a se afastar do Galpão Crioulo, mas se recuperou. Em 2001, juntou-se aos sobrinhos Neto e Ernesto e ao irmão Bagre Fagundes para formar o grupo Os Fagundes.
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