Brasil corteja empresa chinesa rival da Starlink para serviço de internet por satélite

Após uma disputa com Elon Musk sobre sua plataforma de mídia social X, o Brasil está agora cortejando uma empresa chinesa para competir com o serviço de internet Starlink do bilionário americano.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá o presidente chinês Xi Jinping este mês após a cúpula dos líderes do G20 no Rio de Janeiro, ofereceu o uso da base de Alcântara, um centro de lançamento de satélites com localização estratégica no nordeste do Brasil, à SpaceSail, uma fabricante de satélites de Xangai.

O secretário de Telecomunicações de Lula, Hermano Tercius, disse que o objetivo é fomentar a competição no setor de satélites de órbita baixa, na tentativa de conectar mais famílias, escolas e empresas em áreas remotas do Brasil à internet.

A SpaceSail ainda precisa de aprovação do governo chinês para utilizar o Centro de Lançamento de Alcântara, na costa atlântica do estado do Maranhão.

“Estamos tentando avançar nessa parceria”, disse o Secretário de Telecomunicações em entrevista na última semana. “Com Xi Jinping no Brasil, tentaremos viabilizar isso de alguma forma, em uma tentativa de conseguir que ele autorize.”

A oferta para uso da base evidencia o caminho delicado que Lula tenta trilhar entre aprofundar os laços do Brasil com a China e manter boas relações com os Estados Unidos. Com Musk potencialmente assumindo um papel no governo protecionista do presidente eleito Donald Trump, os direitos de lançamento de satélites estão entre as questões que podem desestabilizar o delicado equilíbrio que o líder brasileiro mantém até agora.

Tercius visitou a sede da SpaceSail no mês passado, junto com o Ministro das Comunicações, Juscelino Filho, divulgando a viagem à China em um comunicado de imprensa e nas redes sociais. A empresa “planeja lançar seu serviço de internet via satélite de órbita baixa no Brasil nos próximos dois anos”, disse o ministério no X.

Autoridades de Lula também visitaram a Galaxy Space, outra fabricante de satélites, mas a empresa com sede em Pequim ainda não tem autorização para oferecer seus serviços no exterior, segundo o secretário de Telecomunicações brasileiro.

As conversas ministeriais na China ocorreram após uma disputa de meses entre Musk e o Supremo Tribunal do Brasil, que culminou em multas milionárias e no banimento temporário do X na maior economia da América Latina.

Em um ponto da disputa, as contas bancárias da Starlink foram congeladas no Brasil em uma tentativa de forçar o X a cumprir ordens legais. Musk acabou cedendo, as contas foram desbloqueadas e o acesso à plataforma de mídia social do bilionário foi restaurado em todo o país.

Starlink 

A Starlink detém apenas uma fração do mercado de banda larga no Brasil, com seus 265 mil clientes em setembro representando apenas 0,5% do total de usuários, segundo a agência reguladora de telecomunicações do país. Mas a empresa de Musk é a principal fornecedora de serviços de internet via satélite, com uma participação de mercado de 46%.

Tercius negou qualquer relação de retaliação entre a disputa do Brasil com Musk e a aproximação com concorrentes chineses no setor, dizendo que se trata de oferecer escolha aos consumidores.

“Independentemente da questão envolvendo a Starlink, é importante ter outra empresa para que haja concorrência, uma opção para os brasileiros”, disse ele.

Mas a China ainda está tentando alcançar Musk no espaço. Enquanto a Starlink possui mais de 6.000 satélites oferecendo acesso à internet ao redor do mundo, as empresas chinesas têm apenas algumas dezenas.

A SpaceSail lançou seu primeiro lote de 18 satélites em órbita em agosto, com um segundo lançamento de mais 18 ocorrido no mês passado. Isso deixa mais de 600 a serem lançados antes que a primeira fase de sua planejada constelação de satélites esteja pronta, prevista para o final do próximo ano.

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