Em meio à piora das expectativas do mercado, Ministério da Fazenda revisa sua projeção para a inflação em 2024 e 2025. Já a previsão de crescimento do PIB é ampliada

Em meio à piora das expectativas no mercado, o Ministério da Fazenda revisou sua projeção para a inflação em 2024 e 2025. Conforme a nova grade de parâmetros da Secretaria de Política Econômica (SPE), a estimativa para este ano passou de 4,25% para 4,4% – só 0,1 ponto porcentual abaixo do teto da meta. Para 2025, a projeção agora é de 3,6%, ante 3,4% no boletim anterior (setembro).

Também foi revisada a projeção para a variação do PIB anual, que subiu de 3,2% para 3,3%. De acordo com a subsecretária da pasta, Raquel Nadal, neste caso a estimativa pode subir ainda mais: ela fala em “claro viés de alta”, por conta de dados disponíveis somente após o órgão fechar a nova grade de parâmetros.

Os números divulgados pela Fazenda são considerados um termômetro da economia e servem como referência para a elaboração do Orçamento Federal. Apesar da mexida, a estimativa da Fazenda para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua abaixo das projeções dos analistas: a ideia é de que um mercado de trabalho ainda aquecido e a manutenção da atual política fiscal, de cunho expansionista, podem ampliar a disseminação de reajustes de preços na economia.

Também divulgado nesta semana, o relatório “Focus” do Banco Central aponta que a mediana para o IPCA de 2024 subiu pela sétima semana seguida, de 4,62% para 4,64% – acima, portanto, da meta de 4,5%. Considerando-se apenas as 72 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, essa mediana avançou de 4,63% para 4,67%.

Na Fazenda, a expectativa é de que, a partir deste mês, a inflação anual comece a cair, por conta de fatores como a volta da bandeira tarifária verde para as contas de energia.

Ainda no “Focus”, a estimativa mediana para a taxa básica de juros no fim de 2025 subiu de 11,5% para 12%, acima da estimativa intermediária para o final de 2024, mantida em 11,75% pela sétima semana seguida. Isso sugere que, na visão dos analistas do mercado, o BC não terá espaço para cortar a taxa básica de juros (Selic) nos próximos meses.

Em reunião no começo do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,5 ponto, para 11,25%, e as previsões dos analistas são de nova alta em dezembro. O colegiado informou que os próximos ajustes “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação”. Também cobrou compromisso do governo federal com a adoção de medidas de corte de gastos.

No documento agora publicado, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda cota um avanço da inflação entre agosto e outubro, por conta de fatores como o peso dos preços dos alimentos no orçamento doméstico. O órgão diz que o período também foi marcado pelo avanço de preços monitorados, no caso das tarifas de energia:

“Até o final do ano, deverá haver desaceleração nos preços de monitorados, mas aceleração dos preços livres. Itens com preços mais voláteis, mais afetados pela dinâmica do câmbio e do clima, explicam o aumento na projeção de inflação em 2024. Nesse sentido, vale reforçar que, para a média das cinco principais métricas de núcleo, a previsão de inflação se manteve em 4%”.

A expectativa é de que, a partir deste mês, a inflação acumulada em 12 meses volte a cair. Esse cenário incorpora a adoção da bandeira verde para as tarifas de energia (sem a aplicação de encargos extras para os consumidores), ainda que novos eventos climáticos possam provocar impacto. No caso dos preços de itens como carne bovina, a secretaria aposta em uma perspectiva positiva para a safra de 2025.

O Ministério da Fazenda também revisou a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado para a correção do salário mínimo. De acordo com a nova grade de parâmetros da pasta, a estimativa para o indicador neste ano passou de 4,10% para 4,40%. Para 2025, a projeção foi de 3,20% para 3,40%.

Campos Neto

Durante evento em São Paulo na segunda-feira (18), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender a adoção de programa de corte de gastos: “Isso daria maior sustentação às contas públicas e poderia ter efeito positivo sobre as expectativas do mercado”.

Ele fez a ressalva, porém, de que tal esforço deveria focar apenas a redução de despesas: “O mercado entende hoje que, para ter efeito de choque positivo, tem de ser baseado em corte de gastos e não em novas medidas para aumento da receita”.

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