Presidente da Argentina, Javier Milei ganha confiança dos mercados ao tirar seu país da recessão

Em recente ato para celebrar os 100 anos da Câmara Argentina de Comércio e Serviços, o presidente Javier Milei aproveitou para anunciar aos argentinos que “a recessão terminou e o país começou novamente a crescer”.

Nos últimos dias, vários funcionários de seu gabinete comemoram nas redes sociais o fim da recessão, confirmada por economistas locais ouvidos pelo jornal O Globo, que destacaram ainda outros indicadores positivos, que fazem de Milei um presidente amado pelo mercado e elogiado pelo Fundo Monetário Internacional: a queda expressiva da taxa de risco do país, da inflação e do dólar; o equilíbrio das contas fiscais; e os dados positivos, embora ainda tímidos, de reativação da economia.

A economista Marina dal Poggetto, diretora executiva da consultoria EcoGo, explica a euforia dos mercados por quatro fatores:Temos previsão de encerrar este ano com superávit fiscal, pela primeira vez em 16 anos. O BC voltou a comprar reservas, a inflação passou de 25% ao mês, em dezembro do ano passado, para 2,7% em outubro, e o governo, apesar de ser minoria, está conseguindo aprovar projetos no Parlamento.”

A taxa de risco do país, indicador da confiança dos mercados globais, passou de quase 2 mil pontos-base quando Milei assumiu, em dezembro do ano passado, para 850 pontos no início de novembro. Com a progressiva liberação do câmbio, a diferença entre o dólar oficial e o paralelo hoje é mínima: estavam cotados ontem a 1.040 e 1.120 pesos, respectivamente.

E a popularidade de Milei se mantém em um patamar relativamente alto. Pesquisa realizada mês passado pela consultoria Casa Tres mostra que a aprovação do governo passou de 42% em setembro para 49%.

Recuperação do consumo

Como a grande maioria de seus colegas, o economista Miguel Kiguel, da Econviews, concorda quando o presidente diz que a Argentina saiu da recessão. Ele ressalta, no entanto, que o nível de atividade econômica ainda é baixo:

“Uma coisa é deixar de cair, outra é dizer que a atividade recuperou o vigor do ano passado. A maioria dos setores econômicos ainda está entre 8% e 10% abaixo de 2023. Mas estamos subindo novamente, e em 2025 projetamos um crescimento de 5%.”

Este ano, os economistas estimam que o PIB argentino sofrerá queda entre 2% e 3%, apesar da recuperação que começou a aparecer no segundo semestre. Em julho (7,5%), agosto (1,8%) e setembro (2,5%), o Índice de Produção Industrial (IPI) medido pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, o IBGE local), foi positivo frente ao mês anterior. No entanto, nos primeiros nove meses de 2024, o IPI acumula queda de 12% na comparação anual.

Um dos últimos indicadores a se recuperar foi o consumo. Em outubro, segundo dados da Confederação Argentina da Média Empresa (Came), as vendas do varejo aumentaram 7,4% ante setembro. Foi o primeiro mês positivo do ano.

Entre janeiro e outubro, a Came estima uma queda do consumo de 13,2% frente o mesmo período de 2023. Nos supermercados, segundo o Indec, as vendas começaram a subir em agosto, que avançou 0,24% em relação a julho.

“Os salários se recuperaram, e em 2025 poderíamos crescer até 6%. No ano que vem, uma das questões fundamentais será o financiamento bancário para ajudar as empresas a se adaptarem e competirem”, afirma o ex-ministro da Produção e diretor da Abeceb, Dante Sica.

Ele observa que, depois que quase de “transição”, há “uma mudança de expectativas muito fortes entre empresários e na sociedade”. “A recessão foi superada no segundo trimestre.”

O analista Ivan Sasovsky, da Expansion Holding, concorda com Sica e considera que a conquista do superávit fiscal é “a coluna vertebral do governo”. Para ele, Milei derrubou “o fantasma de que dívidas só podem ser pagas com emissão monetária”:Os países se apaixonam pelo déficit fiscal e a emissão monetária, que são mecanismos válidos para fazer políticas públicas, mas não são sustentáveis. Hoje existe um ambiente de confiança, com fundamentos.”

O barco argentino, que vivia à beira do naufrágio, está “se acomodando”, ilustra Fernando Corvaro, CEO da Pampa Capital:Hoje somos o único país da região que tem superávit fiscal e o mercado acredita que isso será mantido.”

Pobreza elevada

Perguntado pelo custo social do ajuste, o economista, em sintonia com Milei, respondeu que “muito pior é ter um déficit fiscal alto, como a Argentina teve durante mais de 120 anos. Isso nos levou a ter 50% da população abaixo da linha da pobreza”. Corvaro afirma que, “no ano que vem, os mercados se abrirão novamente para a Argentina.”

No primeiro semestre de 2024, a taxa de pobreza da Argentina atingiu 52,9%, recorde dos últimos 20 anos. Nas classes média e baixa, o ajuste de Milei foi um tsunami. Setores como saúde, educação e cultura sofreram cortes orçamentários que levaram a uma onda de protestos.

“Hoje o número que dói é o da pobreza”, diz Kiguel. As informações são do jornal O Globo.

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