O presidente dos EUA conseguiu um feito raro: unir democratas e republicanos em críticas à sua decisão de conceder um indulto ao seu filho

Democratas e republicanos criticaram a decisão de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, de conceder um indulto ao seu filho, Hunter. Vários aliados expressaram preocupação de que o perdão minaria a confiança no Judiciário e daria munição para que Donald Trump possa conduzir reformas.

Na noite de domingo (1º), Biden voltou atrás na promessa de não usar os poderes especiais da presidência para perdoar parentes e concedeu o indulto a seu filho, condenado por evasão fiscal e posse ilegal de arma – em ambos os casos ele se declarou culpado. A decisão poupa Hunter de uma provável sentença de prisão.

Vários democratas disseram que, embora entendessem a decisão pessoal de proteger seu filho, eles também se preocupavam com o sinal que o perdão enviaria, de que os direitos dos membros de uma casta politicamente conectada estão acima dos outros americanos.

IMPACTO. “Como pai, eu entendo”, disse o deputado democrata Greg Landsman. “Mas, como alguém que quer que as pessoas voltem a acreditar no serviço público, é um retrocesso.” Greg Stanton, também deputado democrata, criticou o indulto. “Respeito o presidente, mas acho que ele errou”, disse. “Hunter cometeu crimes e foi condenado por um júri popular.”

A maior preocupação dos democratas é o impacto do caso nas promessas de Trump de usar o Judiciário para punir seus inimigos e ajudar seus aliados, após assumir o cargo em 20 de janeiro. As indicações para os cargos de secretário de Justiça, Pam Bondi, e diretor do FBI, Kash Patel, já defenderam publicamente a perseguição de opositores.

Os republicanos rapidamente se aproveitaram para criticar Biden por proteger um parente e voltar atrás em sua promessa. De acordo com eles, o indulto prova que Biden, e não Trump, está instrumentalizando o Judiciário. Trump, em postagem nas redes sociais, disse que seus apoiadores que invadiram o Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, para impedir que o Congresso certificasse a vitória de Biden, também deveriam receber perdões. Chamando as condenações de simpatizantes de “abuso e erro judicial”, ele se referiu aos manifestantes como “os reféns J-6, que estão presos há anos”.

Trump ainda não disse quem, dentre os mais de 1.500 acusados de crimes durante o ataque, poderia receber um perdão presidencial. Alguns assessores disseram que ele avaliaria a clemência “caso a caso”. Durante a campanha, Trump não descartou a possibilidade de perdoar membros de grupos extremistas violentos, como os Proud Boys e os Oath Keepers.

O deputado republicano James Comer, presidente da Comissão de Supervisão da Câmara, que passou anos investigando Hunter, criticou a decisão de Biden. “O presidente e sua família continuam fazendo tudo o que podem para evitar a responsabilidade”, disse.

O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, também criticou o indulto e o descumprimento da promessa de Biden. “A confiança no Judiciário foi quase irreparavelmente prejudicada”, disse. “Uma reforma de verdade tem de começar já.”

Jared Polis, governador do Colorado, disse que o indulto a Hunter estabelece um precedente ruim que pode ser usado de forma abusiva por futuros presidentes. “Hunter trouxe para si mesmo os problemas legais. É possível simpatizar com suas dificuldades e, ao mesmo tempo, reconhecer que ninguém está acima da lei, nem um presidente nem o filho de um presidente”, afirmou.

 

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