Depois de ficar contra golpe, ex-comandante do Exército amarga rejeição entre militares

Apontado pela Polícia Federal como um dos principais responsáveis por evitar um golpe de Estado, o ex-comandante do Exército Freire Gomes ainda sofre rejeição de parte dos militares, especialmente daqueles que integram a reserva. O general não esconde de pessoas próximas que segue como alvo de ataque pela postura legalista que adotou e mostra incômodo com as críticas. Freire Gomes tem optado por uma postura discreta e evitado agendas inclusive no meio militar.

A indignação com o ex-comandante, no meio militar, ainda é externada por aqueles que defendiam que o Exército tinha que ter abraçado o golpe planejado por integrantes do governo Jair Bolsonaro, incluindo o próprio ex-presidente, segundo a Polícia Federal. Como apontou a corporação em seu relatório final, tornado público na semana passada, Freire Gomes foi determinante para que o plano não fosse consumado.

O tratamento que a própria PF deu ao general mudou ao longo da investigação. Primeiramente, ele era tratado como suspeito e apontado como alguém que poderia ter omitido seu conhecimento sobre a trama. Investigadores relataram à coluna que essa linha de apuração foi excluída depois do depoimento de Freire Gomes, neste ano. Na oitiva, o militar detalhou a reunião em que os chefes das Forças Armadas estiveram com Bolsonaro após a derrota para Lula, na qual foi apresentada uma minuta golpista pelo então presidente.

“A consumação do golpe de Estado perpetrado pela organização criminosa não ocorreu, apesar da continuidade dos atos para conclusão da ruptura institucional, por circunstâncias alheias à vontade do então presidente da República, Jair Bolsonaro, no caso, a posição inequívoca, dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, General Freire Gomes e Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Almeida Baptista Junior, e da maioria do Alto Comando do Exército, de permanecerem fieis aos valores que regem o Estado Democrático de Direito, não cedendo às pressões golpistas”, diz trecho do documento da PF.

Chefe da Marinha

O único a se prontificar pela ruptura institucional foi o chefe da Marinha, Almir Garnier Santos, que consta na lista dos 37 indiciados pela PF com Bolsonaro. Na época da transição do governo Bolsonaro para o governo Lula, Garnier não respondia aos contatos da equipe do governo Lula e, mais de uma vez, não atendeu as ligações de José Múcio Monteiro, que já havia sido anunciado como ministro da Defesa.

Com as revelações da PF sobre o envolvimento de militares no plano golpista, entre eles o próprio Almir Garnier e o então ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, ambos indiciados, integrantes do governo Lula mudaram sua percepção sobre o episódio. Na época, avaliaram que existia apenas uma “má vontade”. Hoje, creem que esses militares demoraram a colaborar porque acreditavam que não deixariam o poder. As informações são do jornal O Globo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.