Postagem engana ao afirmar que o quadro de saúde de Lula está se agravando

São falsas as afirmações de que o quadro de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está se agravando e que há possibilidade de sérias complicações cognitivas e motoras, o que o impediria de seguir na Presidência da República.

Os boletins médicos divulgados pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde Lula está internado desde o início da semana, mostram que o quadro de saúde do presidente tem melhorado. De acordo com o informe mais recente, ele segue “lúcido e orientado” e passou da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para cuidados semi-intensivos. Nessa sexta-feira (13), o perfil do presidente publicou um vídeo em que ele aparece andando e conversando com um dos integrantes da equipe médica. Médicos consultados pelo Verifica descartam possibilidade de sequelas cognitivas ou motoras permanentes.

As informações do vídeo são transmitidas sobre imagens fictícias, que ilustram Lula passando por procedimentos hospitalares. O vídeo afirma que o vice-presidente Geraldo Alckmin já estaria se movimentando para, caso assuma a Presidência, promover trocas nos ministérios. A postagem afirma que Alckmin estaria em contato com Paulo Guedes, ex-ministro da Economia no governo Bolsonaro.

A assessoria da vice-presidência negou as afirmações. “O conteúdo do vídeo mencionado é mentiroso e calunioso. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, não está fazendo e não fez qualquer contato com o ex-ministro da Economia do governo anterior”, disse. Sobre supostas movimentações para eventual troca em ministérios, a assessoria acrescentou: “a questão não existe porque está fora de cogitação”.

Vale ressaltar que Lula não passou o cargo a Alckmin, mesmo quando estava na UTI.

Nessa sexta, Lula deixou a UTI e “segue lúcido e orientado, alimentou-se normalmente e realizou caminhada pelos corredores”. À tarde, foi divulgado nas redes sociais do presidente um vídeo que mostra Lula caminhando pelos corredores do hospital ao lado de um dos médicos que o acompanha, com quem conversa. “Ele quer uma cafezinho espresso”, brinca o presidente, apontando para o doutor.

Ao Verifica, a neurologista Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, explicou que casos em que o hematoma subdural é tratado rapidamente, como ocorreu no caso de Lula, não deixam sequelas cognitivas ou motoras, como supõe o vídeo.

“Isso pode acontecer quando o hematoma não é tratado e começa a apertar o cérebro”, explicou. “Aí podemos ter sintomas como confusão, problemas na fala, fraqueza em um lado do corpo e dormência. Mas, no momento em que o hematoma foi tratado, não há complicações após isso”.

A neurologista ainda acrescenta que o segundo procedimento cirúrgico por que Lula passou na quinta (12), uma espécie de cateterismo com o objetivo de reduzir o risco de novos sangramentos relacionados a hematomas subdurais, é preventivo, e não significa que o quadro de saúde do presidente tenha piorado.

“Essa cirurgia é preventiva, não tem relação com um suposto agravamento do quadro”, acrescentou. “Os estudos mostram que, após o procedimento, a probabilidade de nova formação de hematoma, que seria 20% a 30%, reduz para menos de 2%”.

Para o neurocirurgião Fernando Gomes, professor da Faculdade de Medicina de São Paulo (FMUSP), falar em alguma sequela permanente no caso de Lula que comprometa a integridade motora e cognitiva é um exagero. “Não houve um machucado no cérebro, uma contusão no tecido cerebral, mas um hematoma entre o cérebro e o crânio”, disse o médico.

Ele acrescenta que não vê possibilidade de problemas motores. Mas ressalva que eventuais complicações cognitivas podem ser verificadas não por causa do hematoma em si, mas da pancada que Lula recebeu na cabeça após cair em casa no dia 19 de outubro. O especialista diz que eventuais consequências podem ser reabilitadas.

“É necessário que ele seja acompanhado de perto”, alertou. “Somente uma avaliação neuropsicológica rigorosa poderia avaliar uma possível ocorrência de problemas como pensamento mais lento, dificuldade de foco de atenção e em tomada de decisões”. (Estadão Conteúdo)

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