Memes da vida

O que a moça da janela do avião e a refém da parada de ônibus têm em comum? Ambas não apenas não se abalaram com as circunstâncias externas, como souberam controlar as suas emoções a ponto de não se colocar em uma situação de risco. Mas o mais interessante é que foi exatamente essa postura fleumática que fez os fatos em que estavam envolvidas viralizarem e se tornarem memes – o grande fenômeno contemporâneo do que significa cair no gosto popular. Virou meme? É porque fez sucesso. Felizmente, o brasileiro ainda mantém o senso de humor, apesar de tudo.

Uma das coisas, contudo, que mais me chama a atenção nas notícias “populescas” é o que está por trás da reação das pessoas. O que, afinal, faz algo ser tão interessante a ponto de TODO mundo falar sobre? E, mais ainda, como podem tais fatos tão banais se sobreporem a assuntos absolutamente mais importantes nesse nosso país?

Bom, a primeira conclusão é lógica: somos um povo mal instruído e com pouca capacidade de desenvolver um juízo crítico acerca das coisas. Sim, estou generalizando. Mas essa é a verdade, na medida em que vemos mais gente comentando sobre se foi a mãe ou não que filmou a mulher da janelinha do avião do que o fato de que a liberdade de expressão está sendo cada vez mais destroçada por aqui! Pão e circo. Enquanto nos ocupamos de debater a vida alheia e as picuinhas comportamentais, esquecemos que parlamentares têm imunidade e podem falar o que quiserem ou que um crime tentado não é a mesma coisa que imaginar um crime.

Confesso que me divirto com as notícias corriqueiras. Porém, nossas opiniões não podem ficar circunscritas a fatos tais banais. Não! Precisamos usar o nosso tempo e o nosso “penso” (como diz o meu colega Mano Changes) para tentar entender o que está acontecendo onde definem a nossa vida. Precisamos aprofundar um pouquinho mais e desenvolver juízo crítico. Precisamos, enfim, refletir e debater. E fazer a nossa parte, seja ela de que partido ou ideologia seja. Precisamos nos envolver com a realidade, e não apenas com a superficialidade das relações alheias.

Nesse momento, sinto-me como as duas protagonistas dos assuntos da semana, só que em uma só: privilegiada por sentar na janelinha do avião, sem dúvida, mas também com aquele ar de desesperança da senhora da parada de ônibus: tanta coisa para fazer, e eu aqui perdendo tempo nessa situação esdrúxula. Porque, olha gente, eu estou tentando fazer o povo abrir os olhos. Mas tá difícil.

Aí lanço a pergunta: continuo tentando ou faço um meme? Talvez a resposta seja fazer ambos. Afinal, a vida pode ser dura, mas, com senso de humor, ela sempre fica melhor.

@ali.klemt

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