Dinamarca reforça defesa na Groenlândia após Trump repetir desejo de comprar a ilha para “segurança dos Estados Unidos”

O governo da Dinamarca anunciou um aumento significativo nos gastos com defesa na Groenlândia na segunda-feira (23), um dia após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, repetir seu desejo de comprar o território ártico, publicou a rede britânica BBC. O ministro da Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, afirmou que o pacote representa “uma quantia de bilhões de dígitos”, descrevendo o momento do anúncio como uma “ironia do destino”.

No domingo (22), Trump sugeriu mais uma vez que a posse e o controle da ilha pelos EUA são uma “necessidade absoluta” para a segurança nacional. A Groenlândia abriga instalações espaciais e de radar americanas — e tem importância estratégica para o país, já que está na rota mais curta entre os Estados Unidos e a Europa. Além disso, possui reservas significativas de minerais e petróleo.

Poulsen afirmou que o pacote permitirá a aquisição de dois novos navios de inspeção, dois novos drones de longo alcance e duas equipes de trenós puxados por cães. O plano inclui financiamento para aumentar o quadro de funcionários no Comando Ártico e melhorias em um dos aeroportos civis da Groenlândia para receber aeronaves supersônicas F-35. Poulsen, o ministro da Defesa, não forneceu um valor exato para o pacote, mas a mídia dinamarquesa estimou que ficará entre 12 e 15 bilhões de coroas (R$ 10,3 bilhões e R$ 12,9 bilhões, na cotação atual).

“Não investimos o suficiente no Ártico por muitos anos; agora estamos planejando uma presença mais forte”, disse Poulsen.

Analistas ouvidos pela BBC afirmam que o plano é discutido há muito tempo e não deve ser visto como uma resposta direta aos comentários de Trump. Até agora, a Dinamarca vinha sendo muito lenta na expansão de sua capacidade militar na Groenlândia — e, se o país não conseguir proteger as águas ao redor do território contra incursões da China e da Rússia, é provável que as demandas dos americanos por maior controle aumentem. À rede britânica, o major do Exército Steen Kjaergaard, da Academia de Defesa Dinamarquesa, sugeriu que pode ter sido a intenção de Trump pressionar a Dinamarca a tomar a iniciativa.

“É provável que isso tenha sido provocado pelo foco renovado de Trump na necessidade de controle aéreo e marítimo ao redor da Groenlândia, além dos desenvolvimentos internos na ilha, onde alguns expressam vontade de olhar mais para os EUA. Um novo aeroporto internacional em Nuuk, por exemplo, acabou de ser inaugurado. Eu acho que Trump é esperto. Ele fez a Dinamarca priorizar suas capacidades militares no Ártico ao levantar essa questão, sem precisar assumir um sistema de bem-estar muito pouco americano”, disse ele, referindo-se à forte dependência da Groenlândia de subsídios de Copenhague.

Reabriu o debate

Com a declaração de domingo, Trump reabriu um debate de 2019, ainda durante seu primeiro mandato, quando ofereceu comprar a maior ilha do mundo, proposta que foi rapidamente rejeitada pela Dinamarca na época. A mais recente fala do republicano sobre o tema foi feita enquanto ele nomeava Ken Howery, cofundador do PayPal, como embaixador dos Estados Unidos no Reino da Dinamarca. Howery respondeu no X dizendo que trabalhará para “aprofundar os laços” entre os EUA, a Dinamarca e a Groenlândia. Ele foi embaixador na Suécia de 2019 a 2021, durante a primeira administração de Trump.

Comentando a declaração de Trump, o premier da Groenlândia, Mute Bourup Egede, afirmou por e-mail que a ilha “não está e nunca estará à venda”. No entanto, ele enfatizou que a ilha deve continuar aberta à cooperação e ao comércio direto com outros países, especialmente seus vizinhos. A autoridade autônoma publicou no início deste ano um plano estratégico para sua política externa, de segurança e defesa, no qual expressou o desejo de fortalecer os laços com a América do Norte por meio do comércio de minerais estratégicos e de um papel mais ativo em relações de defesa historicamente administradas pela Dinamarca. As informações são do jornal O Globo.

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