Pai de estudante morto pela PM de São Paulo envia carta a Lula pedindo punição severa de policiais

O médico e professor Júlio Navarro, pai do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta – morto por policiais militares durante uma abordagem em um hotel de São Paulo, em novembro – enviou nesta semana uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a demora da Justiça e do governo de São Paulo na punição severa dos policiais envolvidos no crime.

Em tom desesperado e bastante emotivo, Navarro escreveu ao presidente que “cada manhã que acorda e não encontra o garoto em casa”, ele sente “dor dilacerante, angústia e a raiva, de lembrar as últimas imagens dele pedindo salvá-lo”.

“Hoje não tenho vida nem essência. Nada. Um fantasma vale mais, porque ele tem alma e eu não mais. A dor levaremos a vida toda até o final da nossa existência porque será o designo dos deuses, mas a angústia, a humilhação e raiva contra os criminosos em busca da ‘Justiça dos homens’ é o último que me resta agora”, relatou.

E complementou: “Os policias militares Guilherme Augusto Macedo e seu comparsa Bruno Carvalho do Prado, que em maior número, maior tamanho, treinamento militar, superprotegidos e armados com todas as armas atiraram cobardemente a queima roupa no meu filho que usava um short e um chinelo por opção de sua personalidade”.

Na carta, o professor da USP afirmou que o filho foi assassinado “da maneira mais cruel e covarde pelo Estado de São Paulo” e pelas “mãos de membros da PM e cumplicidade da toda a hierarquia superior” da Segurança Pública de São Paulo.

“Somente que pelo que vi com muita dor nestes trinta longos dias de uma Justiça sem tempo, os assassinos não sendo presos, os chefes da PM dando declarações a grande mídia com falsidades sobre o meu filho e outros dando risadinhas passeando em jatos particulares”.

“Apelo ao Sr. Presidente, minha última esperança para aliviar a dor da minha família, de outras mais e poder amanhã salvar nossos próprios filhos”, declarou.

Marco Aurélio Cardenas Acosta tinha 22 anos e cursava medicina em uma universidade particular. Segundo a família, ele era um rapaz amoroso, que se formou no ensino médio aos 15 anos e escolheu seguir o caminho profissional dos pais.

A carta enviada pelo pai ao presidente Lula foi compartilhado com jornais estrangeiros como The New York Times, Washington Post, The Guardian e Le Monde.

Nela, o professor da USP – que é peruano e mora há anos com a família do Brasil – criticou as manifestações públicas do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre o crime.

“Nesse inferno de fatos, ressalto a figura do Secretário de Segurança SP Guilherme Derrite, chefe superior da PM que apesar de ser um oficial com antecedentes e frases incentivando a morte e violência, paradoxal e inexplicavelmente, é o responsável pela segurança dos cidadãos. Ainda na sua primeira manifestação pública, após se esconder da mídia, Derrite definiu o trabalho dele como ‘o bem’ e as denúncias e reclamações pelos crimes da PM como a minha, com esta carta, define como ‘o mal’. Derrite mais parece um palhaço tirado dos tempos da Inquisição”, afirmou.

“O sr. governador Tarcísio de Freitas, célebre pela sua crueldade e desprezo pelo sofrimento de famílias, desafiando até a ONU, se burlando do público e afirmando publicamente que não estava ‘nem aí’ incentivando a mais assassinatos pela PM sobre a gente humilde. Tarcísio após 40 horas de pressão total de toda a mídia do país pelo covarde crime de Marco Aurelio anunciou um lamento público hipócrita e uma promessa de punição severa aos culpados. (…) Tarcísio não disse quando faria isso”, declarou.

Na época que as imagens do crime vieram a público, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) que os PMs envolvidos no assassinato foram afastados de suas funções até o final das investigações, mas continuam soltos.

Morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial na madrugada de 20 de novembro, o jovem Marco Aurélio Cardenas Acosta estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.

Segundo a versão da polícia, a confusão começou quando o estudante deu um tapa no retrovisor da viatura e correu para o interior de um hotel na Vila Mariana, na Zona Sul da capital, onde estava hospedado com uma mulher. Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para o País há mais de duas décadas.

A família conta que ele chegou a ser aprovado no vestibular para cursar direito, mas escolheu seguir o caminho dos pais e do irmão Frank, na medicina.

“Ele era um bom irmão, um bom filho, uma pessoa muito querida”, descreveu Frank Cardenas.

 

 

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