Clã Bolsonaro aposta em fator Donald Trump para obter anistia

Jair Bolsonaro foi indiciado em três inquéritos, não pode se candidatar até 2030, está impedido de viajar ao exterior e há quem dê como certa a sua prisão em um futuro próximo. O destino do ex-presidente (2019-2022) está mais do que nunca nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo preferencial dos ataques do então mandatário federal durante seu mandato – conforme descoberto posteriormente, a instituição seria a primeira atingida pelo tresloucado plano de golpe de Estado que previa até a execução de desafetos.

Diante desse roteiro, os magistrados, por óbvio, não dão nenhum sinal de benevolência com Bolsonaro e seus apoiadores investigados. Em meio ao cerco cada vez maior, aliados acreditam que Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, conseguirá fazer o que advogados, deputados e senadores bolsonaristas não conseguiram até agora: conter o ímpeto da Justiça, encerrando os processos criminais que tramitam contra Bolsonaro, e aprovar no Congresso uma anistia que permitiria ao ex-presidente disputar o Palácio do Planalto em 2026.

Trump tomará posse no próximo dia 20, após uma guinada e tanto na própria carreira. Foi derrotado por Joe Biden em 2020 alegando que uma fraude eleitoral impediu a sua reeleição. Ao fim de seu mandato na Casa Branca, parou no banco dos réus em sucessivas investigações e teve a sua carreira política considerada sepultada.

Passados quatro anos, porém, venceu as eleições, prometeu uma anistia aos criminosos que invadiram o Capitólio após sua derrota, anunciou que tornará mais rígidas as regras migratórias e empunhou a bandeira da liberdade irrestrita de expressão, trazendo para o núcleo do governo o bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter) e notório desafeto do ministro Alexandre de Moraes.

No ano passado, Musk e Moraes protagonizaram uma queda de braço. O X ficou fora do ar por 40 dias e foi multado em R$ 28 milhões por se recusar a cumprir determinações do STF. Com o apoio do chefe de Estado americano, que teria prometido impor sanções pessoais, políticas e econômicas aos “perseguidores” do ex-presidente, os aliados de Jair Bolsonaro acreditam que a reviravolta que aconteceu lá pode se repetir no Brasil.

A garantia da interferência americana na política brasileira teria sido dada pelo próprio Trump e ocorreria em três frentes distintas. A primeira ação seria simbólica e miraria o STF. Segundo um assessor de Bolsonaro, os Estados Unidos cancelariam o visto dos onze ministros, sob o argumento de que eles estariam colaborando para a desordem democrática — nada que uma mudança de roteiro de férias não resolva.

A segunda, de caráter econômico, incluiria criar dificuldades e até impor sanções a negócios brasileiros. Em outra frente, mais radical, o governo americano solicitaria o congelamento de contas e ativos que autoridades nacionais porventura mantenham no exterior. “Ainda que o Congresso Nacional (americano) não faça nada, se o Executivo quiser, pode fazer várias medidas para brecar o avanço do autoritarismo no Brasil”, previu Eduardo Bolsonaro durante uma live feita no final de novembro.

O filho “Zero Três” do ex-presidente alertou: “Podem esperar: a conduta vai mudar e a cobra vai fumar”. Eduardo assumiu a Secretaria de Relações Internacionais do PL, o seu partido, e esteve pessoalmente com Trump durante a eleição americana.

Bravata?

Não está claro como essas medidas poderiam fazer os ministros do STF tirar o pé do acelerador contra o ex-presidente. Não se pode descartar também a hipótese de que Trump, caso realmente tenha se comprometido a se meter em assuntos políticos do Brasil, estivesse apenas fazendo mais uma de suas bravatas. A empolgação com os Estados Unidos, porém, vem acompanhada de um plano de remodelagem da legenda de Bolsonaro.

Com quase 40 anos de existência, o Partido Liberal tornou-se a maior agremiação do País após a filiação do ex-presidente, em 2021. Hoje um bastião do campo da direita, o PL já fez parte dos governos de Lula e Dilma e ainda mantém em seus quadros figuras históricas que não rezam a cartilha dos militantes mais conservadores e por vezes contrariam certas orientações na hora de votar, o que tem gerado embates internos e uma disputa pelo controle da legenda. As informações são do portal veja.com.

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