MDB e PSDB discutiram retomada de casamento no fim do ano, mas há resistências para acordo

O destino e espólio do PSDB despertam o interesse de vários partidos. Embora as negociações para uma fusão ou até mesmo incorporação estejam mais avançadas com o PSD de Gilberto Kassab, dirigentes tucanos também tiveram conversas com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). As tratativas, iniciadas no fim do ano passado, refletem a busca do PSDB por uma solução para a grave crise da legenda.

“Estou conversando com líderes importantes do PSDB sobre possível união, pois temos uma história juntos. Faz todo sentido programático a reunificação das siglas, pois temos a mesma origem democrática”, afirmou Rossi à Coluna. O ex-presidente da República Michel Temer também já tratou do assunto com dirigentes do partido.

No dia 11 de dezembro, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) publicou em suas redes sociais a foto de uma reunião com Baleia Rossi e parlamentares tucanos em seu gabinete. Políticos que participaram da conversa disseram que o tema da possível fusão entre as siglas foi abordado no encontro. Segundo um tucano que integra a Executiva nacional, o assunto voltará a ser tratado em fevereiro com a retomada dos trabalhos no Congresso Nacional.

“Uma das principais discussões políticas que ambos os partidos têm feito na Câmara é sobre o interesse comum de assegurarmos o fortalecimento do centro democrático no Brasil. A parceria entre partidos desse campo é fundamental para que possamos acabar com a danosa polarização que vivemos hoje”, escreveu Aécio.

A parceria citada por Rossi e Aécio remete à fundação do PSDB. O partido foi criado em 1988 por um grupo integrado por políticos que romperam com o então PMDB, como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Franco Montoro. Todos deixaram a sigla durante os debates da Assembleia Constituinte. A divergência sobre o sistema de governo foi um dos motivos do racha: enquanto o PMDB apoiava o presidencialismo, o grupo que fundou o PSDB votou a favor do parlamentarismo.

Além disso, as disputas internas em diversas regiões e a falta de espaço político, resultado do inchaço do PMDB, contribuíram para o rompimento.

Apesar das conversas, dirigentes do PSDB veem obstáculos para retomar o casamento com o MDB e “voltar às origens”. O temor é que, por causa do tamanho do partido e de sua capilaridade nacional, o PSDB acabe sendo “engolido” em uma eventual fusão.

Nos bastidores, outra dificuldade mencionada por tucanos é a posição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Reeleito para novo mandato, Nunes teria dificultado essa aproximação ao prestigiar figuras que, na avaliação da cúpula do PSDB, ajudaram a “afundar” o partido.

Para interlocutores que acompanham de perto as negociações, ainda em estágio inicial, o grande desafio está nas dinâmicas regionais. Enquanto o PSD conta com o estilo centralizador de Kassab, secretário de Governo da gestão de Tarcísio de Freitas, o MDB tem diversas correntes nos Estados.

Em caso de fusão, incorporação ou mesmo federação, os partidos são obrigados por lei a caminhar juntos nas eleições. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o governador Eduardo Leite (PSDB) teria dificuldades em assumir o controle local do partido, já que o MDB possui forte presença regional. Situação semelhante ocorre em Goiás, onde Marconi Perillo, atual presidente nacional do PSDB, disputaria espaço com o vice-governador Daniel Vilela, candidato natural do MDB ao governo do Estado, em 2026.

O inverso se aplica em alguns lugares. Em Minas, uma aliança com o PSD pode ser desfavorável para Aécio, já que o partido de Kassab conta com nomes influentes e potenciais candidatos ao Palácio da Liberdade, em 2026, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. (Estadão Conteúdo)

Adicionar aos favoritos o Link permanente.