Ação solidária resulta em doação de cimento a pequenos agricultores atingidos pelas enchentes em região carbonífera no RS

A rotina das cidades de Marques de Souza e Roca Salles foi agitada na última sexta-feira (03) com a chegada de duas carretas carregadas de cimento. O material, essencial para as ações de reconstrução das habitações de atingidos e atingidas, foi mobilizado através de uma ação de sindicalistas do setor da mineração do carvão, empresas e órgãos públicos de municípios que estão localizados no território carbonífero da região da Campanha.

Ao todo, foram doados 1040 sacos de cimento que vão beneficiar 81 famílias de pequenos agricultores e agricultoras que já estão reconstruindo suas residências através do programa Minha Casa Minha Vida Calamidades, mobilizado através do Governo Federal, Caixa e cooperativas de Habitação Camponesa e Habitacional da Agricultura Familiar, vinculadas respectivamente ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e à Federação dos trabalhadores na Agricultura (Fetag).

O primeiro ato de entrega foi realizado pela manhã no parque de máquinas da prefeitura de Marques de Souza, enquanto a segunda aconteceu na parte da tarde, em Roca Salles. Foram beneficiados também os municípios de Arroio do Meio, Travesseiro, Encantado, Santa Tereza, Colinas e Doutor Ricardo.

Caio Santana, da Cooperativa de Habitação Camponesa, ressaltou o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos movimentos desde a primeira grande enchente, registrada ainda em setembro de 2023. “De lá pra cá foi realizado uma grande mobilização de forças junto ao Governo Federal e a Caixa e desenvolvida uma política pública nova, que hoje serve para too o país, atendendo as necessidades de quem está submetido a situações de emergência e calamidade”.

Embora o dirigente reconheça que para as pessoas que estão em necessidade qualquer tempo de espera pode ser considerado longo, destaca que o trâmite burocrático vencido aconteceu em tempo recorde tratando-se de política pública habitacional, e, o mais importante, gerando um processo enxuto e muito mais objetivo para ocorrências futuras onde seja necessário ações semelhantes.

O representante da Cooperativa Habitacional da Agricultura Familiar, Juarez Cândido, também destacou a união de forças na elaboração dessa ação que está chegando até 81 beneficiados na região mais atingida, porém que está alcançando cerca de 600 beneficiados em diferentes pontos do estado.


Cimento vai beneficiar 81 familias no Vale do Taquari / Assessoria Prefeitura de Marques de Souza

Outro aspecto destacado pelos dirigentes é a atualização do valor investido pelo governo federal em cada unidade habitacional, que passou de R$ 75 mil para R$ 86 mil e o compromisso apalavrado pelo governo estadual de contribuir com R$ 20 mil para o pagamento da mão de obra construtiva para cada beneficiado. As duas carretas de cimento doadas vêm contribuir ainda mais neste cenário: “Agora com a doação deste cimento cada beneficiado pode projetar alguma melhoria no projeto inicial, garantindo mais segurança e qualidade de vida”.

A busca de alternativas para atender a população rural que perdeu as casas ou que se encontra em situação de risco segue como um objetivo das cooperativas vinculadas ao MPA e a FETAG, restando ainda muita gente em busca de ser inserida nas políticas públicas habitacionais, tanto para construção de novas unidades, quanto para reformas e reestruturação.

Inácio Hammes, pequeno agricultor de Arroio do Meio, festejou a possibilidade da filha ser contemplada com uma unidade habitacional no projeto. A construção está sendo feita em terra próxima da família, representando um retorno à localidade de origem e também a possibilidade de passar adiante a tradição da produção da erva-mate em sistema de carijó, como praticavam os indígenas guaranis. “Só agradecer, essa está sendo uma boa oportunidade de recomeço para nossa família”.

O prefeito de Arroio do Meio agradeceu a iniciativa, tanto dos movimentos quanto das organizações e empresas vinculadas ao setor do cimento e mineração. “São gestos assim que fazem essas famílias encontrar nova motivação para continuar, fazem saber que a vida vale a pena, que até mesmo em locais distantes tem alguém olhando por elas”. Destacou a jornada que o cimento percorreu, saindo da região da Campanha, nas proximidades com a fronteira com o Uruguai, atravessando dois terços do estado para chegar até a região que foi atingida com maior severidade pelas chuvas, inundações e deslizamentos: “Vieram de tão longe e trouxeram tanto amor, tanto carinho através dessa doação.”

Fábio Mertz, prefeito de Marques de Souza, disse que a entrega “é um exemplo do compromisso com as famílias do campo, trabalhar para garantir habitação digna é trabalhar para um futuro melhor.” Destacou ainda que o local onde estava sendo realizado o ato público de entrega da carga estava quase totalmente submerso em maio de 2024, para dar uma ideia aos presentes da situação de calamidade a que o município esteve exposto. O vice-prefeito Lairton Heineck comentou a respeito da importância das ações que sendo realizadas junto aos pequenos agricultores e agricultoras: “Estamos fortalecendo a agricultura familiar e o vínculo com nossas raízes. Cada saco de cimento representa esperança e construção de sonhos.”


O calas de beneficiários mais idoso foi abraçado por representantes de movimentos sociais, pastorais e sindicais / Deizi Pinto Zorzzi

Entre as organizações que fazem parte da campanha “Cimento Solidário”, está o Sindicato dos Mineiros de Candiota. Hermelindo Ferreira, representante da organização, lembrou que a iniciativa surgiu quando representantes de diferentes segmentos se reuniram e resolveram se desafiar a buscar a doação, envolvendo desde pessoas que individualmente contribuíram com aquisição de material, até empresas locais, organizações e mesmo a indústria. “Nós estávamos entristecidos vendo tantas imagens de pessoas que perderam suas casas, suas lembranças, até suas ferramentas de trabalho”, lembrou. Inicialmente mobilizaram agasalhos, alimentos e água, até chegar a ideia de organizar a doação do cimento, “que é um produto que tem origem na nossa região, que vem da mineração”, citou, explicando que 40% do que vem em cada saco de cimento é composto por cinzas que vem do carvão obtido pela mineração.

O prefeito de Candiota, que acompanhou a caravana do “Cimento Solidário” até Marques de Souza e Roca Salles, citou que a comunidade da região carbonífera, mesmo convivendo com o risco de descontinuidade do processo de mineração da principal riqueza mineral do território – o carvão – e tudo o que deriva dele, a destacar a geração de energia por duas termelétricas e a indústria do cimento que utiliza as cinzas resultantes da queima deste material, não titubeou em expressar a sua solidariedade desde o primeiro momento. “Nós sabemos que ainda há muito a ser feito, por isso não paramos, continuamos mobilizando as pessoas, as empresas e as organizações, procuramos seguir fazendo a nossa parte e vamos fazer mais, nos comprometemos a fazer mais até onde pudermos para ajudar nossos irmãos e irmãs que ainda buscam meios para reconstruir suas vidas, seu trabalho e sua produção”.

Frei Sérgio Görgen, um dos mobilizadores da Missão Sementes de Solidariedade, que desde os primeiros dias atua nas regiões da agricultura familiar e camponesa mais atingidas – e cuja ação integrada inspirou o movimento do Cimento Solidário – agradeceu a participação de todos os envolvidos. “Foi um lindo momento de solidariedade ativa com essa doação para famílias de pequenos agricultores que estão construindo suas casas no Vale do Taquari. O Sindicato dos Mineiros de Candiota, organizou as doações no município que produz grande parte do cimento no Rio Grande do Sul. Gratidão enorme ao povo de Candiota e todas e todos que mantêm viva a chama da Esperança e da Solidariedade”.


Duas carretas foram contratadas pela Cáritas, com o apoio da Eletrobrás, para levar o cimento produzido pela Intercement até o Vale do Taquari / Assessoria Prefeitura de Marques de Souza

Os organizadores destacaram também o trabalho da Cáritas, através da representação regional do RS, e a participação decisiva da Eletrobras que ajudou a custear as despesas da logística de transporte. Outro diferencial foi a sensibilidade dos gestores da indústria Intercement, que operou a venda do material por preço diferenciado, viabilizando que os recursos arrecadados pelos participantes pudessem ser potencializados e assim alcançar um número maior de beneficiários. “Quando tantas mãos se unem para fazer a solidariedade acontecer, nosso coração se enche de esperança em dias melhores, só temos gratidão a expressar neste dia tão especial”, concluiu Görgen.

Empresas que participaram da ação foram Banrisul, Intercement, Seival Sul Mineração e Vantec. Apoiaram a iniciativa o Sindicato dos Mineiros, Prefeitura de Candiota e a Comissão de Transição Energética Justa. Um grande número de pessoas também participou, de forma individual, contribuindo de diferentes formas para que a doação pudesse acontecer.

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