Governo começa a agir para apurar assassinatos contra lideranças do MST em Tremembé

Por que tanto ódio? Por que tanta raiva? Vendo vídeos de dois parlamentares gaúchos hoje – Alceu Moreira (MDB) e Van Hattem (Novo) – a gente pode ter a noção exata de que paz no campo e na cidade dificilmente serão obtidos com conversa, diálogo, como quer o presidente Lula.

Eles esbravejaram nos microfones da Câmara dos Deputados chamando os assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de terroristas, criminosos, bandidos e outros adjetivos e se recusando, eles e outros, a respeitar o minuto de silêncio proposto contra o assassinato de duas lideranças do Assentamento Olga Benário, em Tremembé (SP), no dia 10 de janeiro.

As mortes violaram completamente acordos firmados porque as terras já estavam demarcadas pelo Governo Federal desde 2005. Hoje (24), a União decidiu envolver vários ministérios para auxiliar na apuração e no apoio e proteção às vítimas e testemunhas do crime.

Assista ao vídeo do De Olho nos Ruralistas

O Tribunal de Justiça de São Paulo já determinou a prisão temporária de Antonio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do Piseiro”. Ele é suspeito de ser o mentor do ataque ao acampamento, mas nada parece avançar, a não ser discursos de extremistas de direita no Congresso. As mentiras se espalham, alimentando as suas redes. O MST, como dizem as suas lideranças, não quer guerra, só paz para produzir. E pede maior investigação. Até agora só um culpado foi preso. E os outros? Ainda nada.

O ataque ocorreu durante a noite do dia 10 por grupos criminosos de grileiros que se encontraram na cerca do assentamento Olga Benário. De um lado, um número ainda impreciso de homens armados, vindos em ao menos cinco automóveis e motos, segundo o MST. Do outro, 15 assentados. Quando chegam ao pé da propriedade rural, antes mesmo que os sem terra pudessem dizer “boa noite”, o primeiro estampido despertou toda a vizinhança. Em seguida, inúmeros disparos que duraram ao menos três minutos.  

Dos 15 integrantes do movimento popular que estavam na área, oito foram atingidos. Hoje, cinco deles ainda sob cuidados médicos em hospitais da região. Entre os feridos, alguns usaram o mato alto de dentro da propriedade para se esconder, protegidos pela escuridão. De lá, uma sobrevivente escutou a ordem de um dos membros do grupo armado: “mata tudo, mata todo mundo”.

Quando partiu, o grupo deixou para trás duas vítimas fatais: Valdir do Nascimento de Jesus, o Valdirzão, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos. Outras oito pessoas foram alvejadas.
Tudo isso por pura raiva, por ódio da organização e do sucesso na produção de alimentos dos sem terra, que se ajudam, colaboram entre si, criam comunidades bem-sucedidas. O secretário Nacional de Participação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Renato Simões, disse que o governo está atuando no amparo aos movimentos sociais envolvidos e acompanhando todos os detalhes do atentado.

“A participação da Secretaria-Geral é muito importante para simbolizar o compromisso do presidente Lula e do centro do governo, com o impulsionamento dos programas e a defesa dos territórios e das lideranças que são vítimas, em várias situações de disputa por terras já demarcadas. Essas terras são objeto de cobiça de vários setores do capital e do crime organizado. O compromisso do ministro Márcio Macedo e da Secretaria-Geral é fortalecer esses programas e compromissos do Governo Federal, além de dar continuidade e aprofundamento nas metas de acesso à terra desses movimentos que se organizaram ao longo de décadas para ter o seu direito à posse da terra regularizada”, afirmou ele para a Agência Brasil.

Estão envolvidos na defesa dos trabalhadores a Secretaria-Geral da Presidência da República, o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania e o Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. O presidente Lula já condenou os atentados e ligou para a direção nacional do MST manifestando solidariedade. Ele ofereceu apoio para proteção das vítimas e testemunhas do crime por meio do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

A Polícia Federal, conforme a Agência Brasil, também está colaborando com as investigações sobre os homicídios e agressão às demais vítimas feridas. O Ministério da Justiça atua em colaboração na apuração dos dois homicídios e tentativas de homicídio realizada pela Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Segundo Simões, a ação se justifica para verificar eventual ligação dessa iniciativa com uma ofensiva do crime organizado, em várias regiões do país, para ocupar áreas já definidas pelo governo para reforma agrária e para proteção ambiental.

O secretário e a secretária-executiva Kelli Mafort representaram o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, em dois atos de despedida das duas lideranças assassinadas na semana passada. O ministro determinou todo o apoio aos movimentos sociais, particularmente ao MST, que dirige aquele assentamento, para acompanhar diligências e providências dos demais órgãos do Governo Federal, ressaltando a importância da relação com os movimentos sociais que faz parte das atribuições da Secretaria-Geral.

A reação dos assentados foi plantar árvores em homenagem aos mortos dos ataques, realizar protestos em Tremembé e denunciar em várias frentes os ataques contínuos que sofrem em várias regiões do país.

* Jornalista.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


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