Passagem mais cara? Saiba como fusão da empresa aérea Azul com a Gol pode pesar no seu bolso

Em 15 de janeiro, gigantes do setor brasileiro de aviação anunciaram um acordo para o início das negociações em torno de uma possível fusão. O memorando de entendimento firmado por Azul e Gol, duas das três maiores companhias aéreas do País, já movimenta o mercado e deflagrou uma série de dúvidas a respeito dos possíveis impactos econômicos da eventual união – e mesmo se os órgãos regulatórios darão aval à parceria.

De acordo com o acerto entre as duas empresas, a fusão depende do desfecho do processo de recuperação judicial da Gol nos Estados Unidos, o que deve ocorrer até meados de abril. O Conselho de Administração da nova companhia terá três conselheiros do grupo Abra – controlador da Gol –, três membros da Azul e mais três independentes. Caso a fusão se concretize, o comando do novo grupo ficará a cargo do atual CEO da Azul, John Rodgerson.

Além da conclusão da recuperação judicial da Gol nos EUA, a fusão precisará ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Estimativas apontam que a empresa resultante da eventual fusão responderia por cerca de 60% do mercado de aviação comercial do Brasil e teria o controle de quase 100 rotas em todo o país, praticamente sem concorrência – o que suscita questionamentos acerca da formação de um duopólio, quando apenas duas empresas possuem quase todo o mercado. Juntas, as duas companhias contam com mais de 300 aeronaves e tiveram um faturamento de R$ 25,3 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado.

Segundo especialistas, além da ameaça à livre concorrência no setor aéreo, a possível fusão entre Azul e Gol traz riscos para o consumidor, que pode ter de pagar ainda mais pela passagem aérea.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre janeiro e novembro de 2024, o valor das passagens acumulou alta de 22,5%. Em relação a 2019, o último ano pré-pandemia, o aumento médio foi de 12,4%. Nesse período, a Azul subiu os preços em 7,4%, e a Gol, em 10,7%.

No ano passado, por outro lado, houve uma queda de 5,1% nos preços das passagens aéreas, na comparação com 2023 – o valor médio foi de R$ 631. Para 2025, no entanto, o relatório anual Air Monitor 2025, da Amex GBT Consulting, projeta alta generalizada nas tarifas do setor em todo o mundo.

“Só vejo piora para o consumidor. Em uma fusão dessas, o poder de demarcação de preços da empresa é absoluto. A capacidade que a empresa tem de impor preços aumenta tremendamente. Para o consumidor, sem dúvida, é uma péssima notícia”, afirma o economista Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Avaliação semelhante é feita por Cleveland Prates, ex-conselheiro do Cade e ex-secretário-adjunto de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. Segundo ele, “a concorrência vai diminuir e a probabilidade de elevar preços é enorme”. “Tanto que o mercado está precificando esse processo como aumento de receita, e não uma redução de custos. Tudo está levando a crer que teremos um grande problema”, disse.

Com a união entre as duas companhias, a tendência é que o número de voos diminua, já que rotas feitas atualmente tanto pela Azul quanto pela Gol ficarão concentradas em uma única empresa. Trata-se, ao fim e ao cabo, da chamada lei da oferta e da demanda, um dos princípios fundamentais da economia: se a demanda é maior que a oferta, o preço sobe.

“Com a redução do número de voos, já que eles vão tentar fazer uma operação conjunta, haverá oferta menor. Com a demanda sendo igual ou maior do que a oferta, a consequência natural é o aumento do preço da passagem”, explica o advogado Antonio Miguel Neto, especialista em direito fiscal, arbitragem e direito societário.

Como se não bastassem as tarifas provavelmente mais altas praticadas pela nova empresa, há o risco de que a Latam – que hoje detém 39,4% do mercado e seria a única grande concorrente – também passe a cobrar mais dos passageiros.

Nesta semana, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirmou ter “muita confiança de que não haverá aumento nos preços das passagens”. “Pelo contrário, teremos o fortalecimento da aviação regional e, com isso, economicidade em muitos voos”, disse o ministro a jornalistas.

 

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