Declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, Bolsonaro articula para as eleições de 2026 um plano semelhante ao adotado por Lula no pleito de 2018

Bolsonaro insiste na reversão de sua inelegibilidade em cortes superiores, o que tem chances consideradas remotas. Ele reafirma ser o “plano A” do campo conservador e, ao mesmo tempo, tem empoderado o filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL-SP e visto como eventual substituto.

O ex-presidente também incorporou à sua estratégia dois discursos adotados pelo PT na época do impedimento da candidatura de Lula: o de que a eleição sem a presença dele “não será democrática” e o de que é vítima de “lawfare” (manipulação das leis com finalidade política).

“Quem vai ser o cara da direita [em 2026]? Tem que ser Jair Bolsonaro, senão não é democracia. Uma coisa é ficar inelegível porque realmente roubou, desviou, fez maldade. A outra é porque se reuniu com os embaixadores”, disse Bolsonaro na quarta-feira (22) ao canal AuriVerde Brasil, no YouTube.

Ele contesta a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de torná-lo inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em reunião com embaixadores estrangeiros, em 2022, na qual o então presidente fez afirmações falsas e distorcidas sobre o processo eleitoral.

Bolsonaro usou no canal AuriVerde Brasil o termo “lawfare”, que definiu como “o uso do Poder Judiciário para perseguir opositores”. Em meio a críticas aos magistrados responsáveis por julgá-lo, disse que “o sistema” quer prendê-lo. “O que estão fazendo comigo? É não deixar disputar a eleição em 26.”

As movimentações do ex-presidente têm como pano de fundo a tentativa de manter capital político para fortalecer sua defesa no TSE, mas sobretudo no STF (Supremo Tribunal Federal), onde ele poderá vir a ser julgado por envolvimento no caso da trama para dar um golpe de Estado no país em 2022.

O roteiro é muito próximo do seguido por Lula na eleição de 2018 —ao fim vencida por Bolsonaro.

O PT instituiu na época o lema “eleição sem Lula é fraude” e chegou a cogitar um boicote às eleições, sob o argumento de que o pleito seria fraudulento sem a participação do petista. O alvo da sigla e da militância era a Lava Jato, personificada no então juiz Sergio Moro, hoje senador paranaense pelo União Brasil.

As falas da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, tratavam a restrição a Lula como continuidade do que os petistas chamam de golpe em Dilma Rousseff —o impeachment da petista em 2016.

“A candidatura de Lula é vital para a democracia. Sem ela, teremos a ilegitimidade do processo eleitoral e a continuidade da ruptura do pacto democrático que fizemos na Constituição de 1988: voto soberano e eleições livres!”, afirmou Gleisi em nota do partido de fevereiro de 2018.

Na época, o petista já estava condenado em segunda instância, pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), mas a defesa apostava em recursos na Justiça até o limite para tentar manter a candidatura. A mensagem do PT era a de que Lula era a única opção, e não havia “plano B”.

Além da esfera jurídica, os advogados e aliados encampavam uma batalha política, acusando a Lava Jato de praticar “lawfare”. Cristiano Zanin, então advogado de Lula e hoje ministro do STF, fundou um instituto e escreveu um livro sobre a tese.

O termo tem surgido com frequência agora na boca de Eduardo Bolsonaro e do pai.

“A gente está vendo a mesma ‘lawfare’ que o [Donald] Trump enfrentou aqui”, disse o deputado à Folha, na semana passada, enquanto estava nos Estados Unidos para a posse do presidente. Ele criticava a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes de negar o pedido do pai para reaver o passaporte e ir ao evento.

No X, Eduardo disse  que a proibição da viagem é parte do que classificou como “ativismo judicial”, traduzido por ele como “usar o sistema de Justiça como arma para esmagar adversários políticos no tribunal porque têm medo de enfrentá-los nas urnas”.

A estratégia de Lula de registrar candidatura mesmo com o veto pelos critérios da Lei da Ficha Limpa foi contestada pela campanha do então candidato Bolsonaro em 2018.

Os advogados afirmaram no pedido de impugnação que o “pretenso candidato”, com o apoio dos seguidores, adotava “uma postura de vítima de um sistema judicial que considera parcial e perseguidor, levantando dúvidas acerca da legitimidade do processo que culminou com a sua condenação”.

Em entrevista na quinta-feira (23), Bolsonaro contestou a comparação com o discurso de perseguição judicial feito por Lula e disse que não está “chorando”. “Não sou o Lula, não. Lá tem corrupção. […] Comigo não tem nada, […] são teorias e narrativas em cima de mim.”

Ele também disse que sua esposa, Michelle Bolsonaro, é um “bom nome” à Presidência em 2026 e teria “chance de chegar”, mas recuou em seguida e, ao site Metrópoles, declarou que estava falando em hipóteses e que considera que ela deva concorrer ao Senado pelo Distrito Federal. As informações são do portal Folha de São Paulo.

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