Chega às salas longa rodado na zona Sul de Porto Alegre

Estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas de Porto Alegre um longa romântico filmado na zona Sul da capital dos gaúchos. O belo, forte, cru e bem interpretado Homens de Barro já teve pré-estreia na Cinemateca Capitólio nesta semana e ganha exibição diária no Cinesystem Bourbon Shopping Country (Av. Túlio Rose, 80 Passo D´Areia) e CineBancários (Rua General Câmara, 424 Centro Histórico).

Os protagonistas são dois homens: Pássaro (Gui Mallmann) e Ângelo (João Pedro Prates), jovens que se reencontram adultos e desafiam a culpa e os próprios medos para vivenciar um amor proibido, moldando assim o seu destino e dos personagens do seu entorno. Filhos de vizinhos rivais no negócio da comercialização de tijolos, os meninos já eram impedidos de brincar juntos por seus pais ainda na infância.

O elenco conta ainda com Alexandre Borin, Cassiano Ranzolin, Rafael Guerra, Gabriela Greco, Felicitas Chaves, Bruno Fernandes, Artur Gaudenzi e Mariana Catalane, com uma cômica apresentação de Néstor Monasterio no Parque de Diversões – cenário determinante para a trama.

Além do elenco, foram muito elogiadas na première a fotografia (do premiado caxiense Bruno Polidoro) e a arte da produção (com direção de Pauliana Becker e figurinos de Adriana Nascimento Borba). A diretora Angelisa Stein ainda ressaltou o papel da produtora Tatiana Sager no processo.

Homens de Barro é o primeiro longa de ficção dirigido pela produtora brasileira Angelisa Stein. Em 2022, a cineasta estreou como diretora no documentário Fremd – O Estrangeiro (2022), um curta-metragem. Angelisa atuou na produção executiva de filmes como O Palhaço (2011), de Selton Mello, e Zama (2017), de Lucrecia Martel, e é produtora do long time travel Loop, que tem Fernando Meirelles como produtor associado, e de Dolores, de Jack Dickinson. 

A codireção do longa é do argentino Fernando Musa, que assina o roteiro com o também argentino Gonzalo Heredia. 

Confira o trailer do filme:

Com apoio da Porto Alegre Film Commission e rodado nos bairros de Belém Novo, Restinga e Lami, zona rural da Capital, o enredo – apresentado sempre em clima de tensão – explora as consequências de uma antiga briga entre famílias e a força de um amor que luta contra todas as adversidades. Em uma pequena cidade não identificada na trama, Pássaro, da família Tamai, se vê atraído por Ângelo, o caçula dos Miranda. Ambos mergulham em uma relação homoafetiva que desafia o preconceito, a hostilidade e os próprios ressentimentos herdados da inimizade entre os pais.

Angelisa costuma frisar as características da atemporalidade da narrativa, que é ambientada em um não-lugar, para dar mais universalidade à história. “E contamos também com a Liane Venturella, que é atriz e preparadora de elenco, que também fez um trabalho muito bacana.”

Neste lançamento em Porto Alegre, o filme contará com entrada social, tendo ingressos a partir de R$ 7,00. Com distribuição da O2 Play, a partir do dia 13 de fevereiro, o título chegará às salas de cinema de outras cidades brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Caxias do Sul. 

Uma coprodução Brasil-Argentina, Homens de Barro é assinado pelas produtoras Valkyria Filmes (BRA) e Dar A Luz Cine (ARG) e Panda Filmes (RS), tendo contato com o apoio à distribuição do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do RJ por meio da Lei Paulo Gustavo.

Vento na cara e abrir de asas: encarando a liberdade para viver um amor


Guilherme Mallmann (na direção da moto) faz o protagonista e destaca a criação coletiva / Foto: Valkyria Filmes

Leia a entrevista exclusiva com o ator Gui Mallman, que dá vida ao protagonista Pássaro Tamai:

Como foi a construção do personagem Pássaro?

Considerando que o cinema é constantemente já uma criação conjunta, a gente precisa de vários profissionais e várias pessoas para formar um personagem. Isso basicamente é fazer cinema de personagens. Precisamos passar pelos roteiristas, diretores, todo mundo que está envolvido, para criar um personagem. Mas eu diria que, na verdade, foi uma criação coletiva e que passou mais fortemente numa criação conjunta minha com a diretora, com o diretor assistente Giovani Borba, com os dois atores que contraceno (João Pedro – JP – Prates e Alexandre Borin) e com a preparadora de elenco Liane Venturella – mas mais direcionado inclusive para esses três últimos.

Todos esses personagens, os três personagens principais, foram criados de uma certa forma dessa maneira, com todo mundo contribuindo e enriquecendo as informações que a gente tinha um sobre o outro. Então, sim, eu ajudei na construção do Ângelo também, assim como o JP ajudou na construção do Pássaro.

O que este protagonista demandava? 

Mas eu acho que é interessante citar nessa questão do pássaro que o pássaro durante o filme ele vive um momento de estranhamento na vida dele. Um momento de coisas novas, um momento de necessidades novas, um momento de necessidades antigas, de necessidades antigas que. Dependiam de novas atitudes para que houvesse uma transformação e eu pessoalmente estava passando exatamente por isso na época que o filme foi gravado estava num momento difícil da minha vida, estava depressivo, estava com situações muito fortes ocorrendo ao meu redor e que eu, pessoalmente, necessitava de uma de uma transformação na minha vida eu falei de novas decisões na minha vida e o filme calhou exatamente com esse momento.

Então, de certa forma, existia uma facilidade minha em entender essas dificuldades do Pássaro e como como lidar com ela o estranhamento do pássaro não era tão diferente do estranhamento da minha vida e isso não quer dizer que eu o pássaro sou eu longe disso mas que eu entendo pássaro e eu tenho as dificuldades dele entendo o momento que ele está vivendo. 

Quando leste o roteiro, como interpretaste o significado do nome dele?

É curioso, é curioso. Eu acho que tem essa ligação, claro, de alguém que precisa voar, alguém que precisa sair desse lugar, alguém que precisa estar livre para viver uma vida. Creio que esse foi o pensamento mais rápido sobre o assunto, uma coisa que é um estranhamento inicial. Mas, como a gente está muito envolvido com isso, acabou acostumando, acabou se tornando um nome corriqueiro muito rápido para todo mundo da produção, e esse estranhamento passou.

Ao final da exibição de pré-estreia, estavas muito emocionado. Como foi este momento? O que passou pela tua cabeça?

Eu estava emocionado porque envolveram muitas coisas: é um primeiro protagonista em longa-metragem, é uma afirmação pessoal de que não necessariamente que já deu certo, mas que está dando certo, que meu caminho profissional está dando certo, que as decisões que tomei no passado de querer encarar esse mundo vindo de uma cidade do Interior onde fazer cinema é completamente fora da realidade, vindo de escola pública e de uma cidade de 6 mil habitantes, ser ator não é uma possibilidade, ser artista é muito difícil, mas ser ator e ator de cinema não é uma possibilidade. Então era uma satisfação pessoal de ver que aquela briga que eu decidi encarar alguns anos atrás, uns muitos anos atrás, ela tomou forma e ela estava acontecendo.

E com isso, claro, tudo que vem junto, meus amigos assistindo, mas principalmente meu pai assistindo e meu pai podendo ter essa mesmíssima sensação de que, poxa, é verdade, tudo que ele falou e tudo que ele lutou aconteceu, estava ali, estava acontecendo. E eu não tinha como não me emocionar com isso, não me emocionar com o entendimento que eu estava dando a mim mesmo e as pessoas que comigo convivem e ajudaram e aceitaram para participar dessa luta junto comigo.

Da mesma forma ali estava a minha madrinha, que é a representante muito significativa da minha mãe, que faleceu quando eu era criança ainda, e existia um pedaço dela, a irmã dela, estar ali sentada e estando nesse ambiente, representando como se fosse minha mãe, era algo que tocou, que eu precisava chorar. Não que eu precisava, mas foi inevitável chorar desde o início do filme ao final do filme.

Com a sensação de dever cumprido, o que tu como ator destacas desta história para chamar os espectadores para os cinemas?

O que eu acho que é interessante destacar dessa história é que, por mais que exista isso durante o filme, não há uma necessidade de levantar bandeiras. O filme não necessariamente busca levantar bandeiras o tempo inteiro. Ele mostra como é a vida dessas pessoas, os dramas que essas pessoas estão vivendo, dramas que algumas pessoas passam diariamente e têm que lidar com eles: do descobrimento sexual, claro, mas das relações com amigos, da necessidade de amigos, a necessidade de família, da falta da família. E como isso é uma questão que consegue ser universal, certamente porque todo mundo passa por isso, passa por descobrimentos, passa por necessidades, passa por preconceito. E o filme traz isso de uma forma sensível, ele trata de uma situação de vida das pessoas que vivem em um determinado lugar, e não tende a ser mais pretensioso do que isso.

Qual a importância deste papel, especificamente, para a tua carreira como ator?

A importância desse trabalho é enorme, é realmente o meu primeiro protagonista em longas-metragens, até o momento eu só tive protagonistas em curta-metragens, mas se o nosso cinema, ele por muitas vezes é tão ingrato numa distribuição para grande massa, para o grande público de longas-metragens, que dirá de curta-metragem, a gente acaba tendo exibição em festivais muitas vezes pequenos, sem grande reconhecimento e com um público realmente ilimitado em número de pessoas, e o filme acaba por vezes caindo num esquecimento.

Ser protagonista de um longa, de certa forma, de uma produção grande como essa, com uma produção Brasil-Argentina, com grandes nomes do cinema nacional, como o Bruno Polidoro, por exemplo, traz uma sensação e uma afirmação dentro da minha carreira de que eu sou um ator. De que eu sou um ator realmente, de que eu sou um working actor, que eu estou no mercado, que eu estou presente e que, bom, depende do público assistir e entender se o meu trabalho é suficiente para continuar com novos trabalhos.

Porém, ao menos o pontapé inicial foi dado, foi conseguido esse trabalho e acredito que eu fiz um bom trabalho, que eu consegui entregar algo sensível, algo bonito, algo que está dentro da minha formação, que foi muito sofrida e que vem de muitos anos, desde criança. Então, eu acho que ter um personagem principal é uma forma de abrir caminhos, é necessário que o público assista.

É preciso que o filme brasileiro seja abraçado, ou transmita alguma curiosidade. E eu espero que a gente consiga isso, que a gente consiga pessoas para nos assistir, pessoas para comentar do filme, seja gostar ou não gostar, comentar das nossas performances, como realmente intérpretes, como profissionais, como artistas, e principalmente entender se a arte fez o papel da arte, independente do que isso seja, independente do que cada um entenda como arte.

E quais são os próximos passos no audiovisual e na arte?

Tratando diretamente sobre a minha carreira e meus passos no audiovisual, é uma questão complicada de ser respondida porque a profissão do ator dificilmente está dependente da sua própria vontade. Claro, como basicamente isso acontece em praticamente todas as funções no cinema, mas a gente realmente depende de estar dentro de um determinado perfil desejado por um(a) produtor(a), diretor(a), e – muitas vezes – não somente ter a capacidade técnica de atuar no momento em que é requisitado, mas o reconhecimento das pessoas é sempre muito importante.

Para ter um reconhecimento é necessário ter uma produção ativa, ser visto, ser comentado. Então, para mim, é interessante que Homens de Barro seja assistido pelo maior número de pessoas possível, inclusive profissionais da área. Me fazendo ser visto, eu acredito realmente, com muita humildade, claro, que eu sou capaz de fazer este trabalho, sou artista, sou ator. 

Mas falando diretamente mesmo, então, eu gostaria realmente que Homens de Barro possa abrir caminhos para maiores trabalhos ou mais trabalhos no cinema e em produtos de audiovisual de interpretação que não necessariamente cinema, como séries e novelas.

Há um interesse realmente grande na minha parte de fazer novela em algum momento, de experimentar esse mercado e esse meio do fazer do ator, mas de qualquer forma, estar atuando. Um ator precisa atuar, um ator necessita atuar. E, como eu disse, eu sou um ator e, neste momento, eu acho que eu posso me reconhecer dessa forma.


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