Bairro Bom Fim, em Porto Alegre, está longe de viver tempos de calmaria e segurança

O bairro Bom Fim, como tantos outros da cidade, está longe de viver tempos de calmaria e tranquilidade. As noites são agitadas. Arrombamentos, descaso com o bem-estar público são coisas rotineiras por ali. Os comerciantes estão nervosos, querem defender o seu patrimônio do “seu jeito”, não acreditam mais nas instituições. A Associação dos Moradores, que também cuida das questões empresariais, pede prudência. Acha que não é hora de “pegar em armas” e sair defendendo o que é seu na base da truculência e da violência. 

A professora, cientista social e gestora do Café Cantante, Jane Pilar, acha que a situação é realmente grave, mais por culpa da negligência e da ausência do poder público nas ações sociais no bairro – com excesso de moradores de rua – e nos cuidados com a limpeza e na ordem. “A iluminação pública, por exemplo, é um exemplo deste caos em que vivemos”, afirma ela.


Pedido de providência apresentado por Jane Pilar na Câmara de Vereadores de Porto Alegre / Reprodução

Vereadora suplente do PT, fez 4.763 votos na última eleição – faltaram 40 para ser titular –, já tomou posse, substituindo colegas, acha que o bairro merece uma situação de vida com mais qualidade e segurança. “Um problema sério que enfrentamos é a queda da Internet, duas ou três vezes por dia. Isso gera uma série de transtornos aos comerciantes e moradores. Hoje, não podemos mais conviver com isso com tanta frequência. É um problema praticamente insolúvel”, conta ela. A segurança é outro item preocupante. “Se queixar aos órgãos públicos pouco adianta. Resolver por conta não é recomendável. Fazer o quê, então? Creio que é exigir presença constante e mais ação de quem deve cuidar da população. Polícia, prefeitura, empresas privadas de internet, mais ação social para cuidar dos abandonados e excluídos”, diz ela. 

Jane, 55 anos, natural de São Francisco de Assis, gestora do Bar Cantante com o marido e o sobrinho, considera que os moradores de rua – a maioria homens com problemas de alcoolismo, dependência química e doenças mentais – não são os únicos culpados pelos problemas de assaltos e roubos nas madrugadas. “Acho que tem também o dedo de alguns criminosos mais organizados, que atuam com equipamentos mais sofisticados e carros. Estes dias levaram móveis, televisão, e vários outros equipamentos de um consultório de psicologia aqui do bairro. Isso não é coisa de morador de rua. Há gente mais graúda atuando nestas delinquências”, relata.

No caso do seu café, na rua Fernandes Vieira, a gestora conta que teve cinco assaltos nos últimos meses do ano passado. Todos feitos por uma mesma pessoa, um jovem, conforme registraram as câmeras do estabelecimento. “Tivemos problemas, sim, perdemos, mas como resolver se ninguém dá a importância que o fato merece e não chega a tomar atitudes concretas para realmente resolver a situação?”, pergunta. 


Café Cantante, na rua Fernandes Vieira, teve cinco assaltos nos últimos meses do ano passado / Foto: Arquivo Pessoal de Jane Pilar

“Nós, comerciantes e moradores da região não pedimos coisas exageradas. A manutenção do bairro em condições de razoabilidade para viver bem e ter segurança constante não são coisas caras. São detalhes aparentemente fáceis de se resolver, mas o descaso é muito maior. O descaso impede ações efetivas e urgentes que precisamos”. Jane diz que vai atuar mais objetivamente na sua condição de suplente da bancada do PT e reafirma que sua plataforma é reforçar a importância da participação popular por meio do Orçamento Participativo e da atenção especial à saúde mental da população porto-alegrense. “Nossa bandeira hoje é defender a democracia, a cidadania, a participação popular e outros temas muito caros à cidade, como a saúde, a cultura e o microempreendedorismo.”


“Nossa bandeira hoje é defender a democracia, a cidadania, a participação popular e outros temas muito caros à cidade”, afirma Jane / Foto: Arquivo Pessoal de Jane Pilar

A Associação dos Moradores diz que está fazendo tudo que está ao seu alcance para tornar a vida do Bom Fim mais tranquila. Ela não concorda com ações individualizadas. A entidade informa que está exigindo das autoridades proteção à população, comércio e moradores. Não quer aumentar a violência. Pretende cobrar, com mais assiduidade, prevenção e realização de ações de contenção desta onda de confusão. “A política de olho por olho não faz parte da nossa atuação. Agiremos dentro da lei sob pena de nos tornar iguais aos que a transgridem”, afirma Milton Gérson, vice-presidente da associação.

Para ele, a razão desta situação de descontrole que ocorre é a falta de investimentos sociais – saúde, educação, moradia digna, geração de empregos e renda, entre outros. “Aqui existe uma horda de excluídos de todas as naturezas, tráfico de drogas em abundância e efetivos de segurança bem abaixo do que o necessário para atender as demandas crescentes”, afirma. O dirigente defende discussão profunda sobre o caos ali estabelecido, sem radicalismos e superficialidades e participação mais consistente em fóruns governamentais e sociais nas quais se pode debater o tema. Diz também que a associação age em favor dos moradores e dos comerciantes, sem qualquer violação das leis.

Ao Brasil de Fato o comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Hermes Wolker, informa que duas patrulhas foram criadas fora do chamado pelo 190 para circular nesse horário e realizar abordagens de pessoas suspeitas que transitam pelas ruas. “Estamos intensificando as abordagens na área”, garante. Também, por solicitação de Wolker, deve acontecer uma reunião com o novo titular da secretaria municipal de Assistência Social, Juliano Passini. “No encontro vamos buscar alinhar ações entre a Brigada e o órgão da Prefeitura”, garante.


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